28.4.14

Porto - Benfica: Aleatoriedade ou profecia?

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- No futebol, já sabemos, a diferença entre ganhar e perder, por muito ténue que seja, abre invariavelmente um abismo emocional no sentimento que passa de dentro para fora do campo. Aliás, o Benfica tem sido um excelente exemplo disto mesmo, bastando ver como duas épocas praticamente idênticas ao nível da sua própria performance podem conduzir a sentimentos tão dispares em torno da equipa e da percepção de competência dos seus protagonistas. Ora, neste jogo foi o Benfica quem se apurou e quem reuniu, para si e para os seus adeptos, todo o capital de emoção positiva que a partida tinha para oferecer. É a partir deste sentimento que todos (ou quase todos, para não ser injusto) estão tentados a procurar, no jogo, méritos que possam explicar o desfecho final, pintando-o como lógico e inevitável.
Mas, terá sido mesmo assim? Terá sido este um desfecho lógico e inevitável? Honestamente, não creio. Aliás, não só não creio, como a meu ver este foi o jogo mais desequilibrado entre todos os que estas duas equipas disputaram entre si esta época, com clara superioridade portista. O Benfica defendeu bem? Bom, se olharmos para a segunda parte, é certamente possível elogiar a performance defensiva da equipa de Jesus, e até com bastante justiça. Mas, no cômputo geral dos 90 minutos, não se pode propriamente dizer que o Benfica tenha sido muito competente no controlo defensivo. O Porto terá conseguido, segundo o meu critério de análise, 6 ocasiões claras de golo (na sua maioria, situações de 1x0 com o guarda-redes), o que é inclusivamente um número superior à média das equipas que no campeonato visitaram o Dragão esta época. A própria expulsão, de resto, resulta de mais um lance de exposição da linha defensiva encarnada, ou seja a inferioridade numérica decorre, também ela, dos problemas defensivos da equipa.
Aleatoriedade e a profecia, são dois candidatos que rivalizam pelo estatuto de factor explicativo do jogo. Confesso que o futebol a mim também me parece muitas vezes profético, mas ainda assim nesta balança a minha fé orienta-se por completo para o prato da aleatoriedade, e recorro sem hesitação a esse desinteressante factor para explicar grande parte do desfecho deste jogo e desta eliminatória.

- É evidente que o Benfica tem muitas atenuantes para uma exibição que a meu ver foi - e repito a ideia - tão modesta quanto feliz. A inferioridade numérica, porém, parece-me ser o menor de todos, já que o Benfica se viu reduzido a 10 precisamente devido à sua incapacidade de controlo do adversário, num lance que não foi isolado, mas antes em acto contínuo de outros que foram aproximando vertiginosamente o Porto do golo, nesse período do jogo. A atenuante principal é, claro, a importância que foi dada ao jogo e à eliminatória, tanto ao nível da equipa apresentada, como da própria gestão que foi feita ao longo dos 90 minutos por parte do treinador, sempre tendo a Juventus como prioridade.
É evidente, também, que a equipa se bateu muito bem defensivamente - e apenas neste plano - após a expulsão e quando passou a defender em zonas mais baixas do terreno. Aqui, sim, muito mérito para a equipa do Benfica. Fica, aqui, uma sugestão de reflexão sobre a diferença de desempenho defensivo, jogando com 11 e com 10, que ao contrário do que seria expectável foi muito melhor em inferioridade numérica.

- "Acreditar nas suas ideias até ao fim!"
Tantas vezes ouvimos esta frase, que nos aparece sempre como sugestão virtuosa para todos os treinadores, em períodos onde o tempo e o resultado apelam tentadoramente a que se altere a forma de atacar. A minha pergunta é: porque é que é uma virtude "acreditar nas suas ideias até ao fim"? Será um dogma? Ou será porque é essa a forma que mais e melhor potencia as possibilidades de sucesso, mesmo num contexto de jogo diferente? A meu ver, só faz sentido a segunda hipótese e, sendo assim, terá também toda a lógica que se questione se aquela é, mesmo, a forma que mais e melhor potencia as possibilidades de sucesso da equipa...
Tudo isto a propósito do Porto, que pela segunda vez se viu eliminado de uma competição depois de estar muito tempo a jogar em superioridade numérica e a precisar de marcar (explico que aqui estou a considerar o jogo de Sevilha e não o da Luz, já que nessa ocasião esteve em vantagem numérica mas quase sempre também com vantagem na eliminatória, o que é um cenário diferente deste). A equipa optou, em qualquer dos casos, por acentuar a circulação exterior e resistiu quase sempre bem à tal tentação do jogo directo, para a área do adversário. O resultado, porém, foi muito modesto, nomeadamente com muito poucas ocasiões claras de golo construídas dentro de um contexto que lhe era francamente favorável. Não estou aqui a defender que a abordagem directa seja a mais aconselhável para este tipo de situação, apenas a sugerir que se questione e que não se deixe que o "porque sim" seja uma explicação.

- Uma nota final para referir que a análise estatística foi centrada na equipa do Porto. O motivo é simples: este tipo de análises têm o objectivo de analisar e reunir uma quantidade relevante de dados das equipas e jogadores nos jogos de maior importância da temporada. Ora, claramente, esse não foi o estatuto que o Benfica ofereceu a este jogo, não fazendo por isso sentido incluí-lo nessa categoria. Outras oportunidades, e com muito mais propósito, surgirão nos próximos tempos, desde logo o jogo de Turim.

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