2.4.14

Champions, quartos-de-final (I)

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Barcelona - Atl.Madrid
São equipas do mesmo país, com uma diferença enorme de orçamento e - acrescento eu - qualidade individual, e que ainda para mais já se haviam defrontado por 3 vezes só esta temporada. Ainda assim, e do meu ponto de vista, este era o embate mais interessante que o sorteio nos reservou, sobretudo porque me parece ser o emparelhamento mais forte desta fase. O (enorme!) mérito, mais uma vez, vai inteiramente para o Atlético, que como já diversas vezes escrevi está a potenciar o rendimento colectivo para patamares que até à bem pouco tempo pareciam utópicos para qualquer equipa da sua dimensão.

O início da partida foi marcado por lesões, e parece-me de facto incontornável passar pelas mesmas para compreender o jogo. Do lado do Atlético, a ausência de Diego Costa foi importante pela dificuldade que a equipa teve - em especial na segunda parte - em sair do seu meio-campo a partir do momento em que recuperava a bola. Ainda assim, muito mérito aqui para a reacção à perda do Barça, que foi agressiva, organizada e intensa, fazendo com que o Atlético ficasse reduzido aos últimos 40 metros durante um largo período de tempo. Outro capítulo onde me parece que a ausência de Diego Costa (e do próprio Raul Garcia) se terá feito sentir foi na capacidade pressionante, que com Villa e Diego na primeira linha perdeu grande parte da sua eficácia habitual. Do lado do Barça, Piqué será uma ausência importante, sem dúvida, mas creio que o ponto potencialmente mais decisivo estará na baliza, onde a diferença de Valdés para Pinto me parece ser muito significativa. No jogo de pés, claro, mas não só. Por exemplo, por muito mérito que tenha o pontapé de Diego, daquela distância e daquele ângulo, creio que a este nível se deve exigir mais. É um aspecto que me parece poder ter um impacto significativo nas aspirações do Barça em qualquer das competições onde ainda está inserido.

Finalmente, nota para o aspecto a meu ver mais interessante do jogo que tem a ver com a dificuldade do Barça em construir ocasiões de golo, apesar de todo o domínio, com ênfase para o eclipse quase total de Messi. Aqui, voltamos à qualidade do que faz defensivamente o Atlético, e ao foco excessivo do Barça actual em Messi e no espaço entrelinhas, dois aspectos que já havia referido noutras ocasiões. O que acontece é que o espaço entrelinhas, quando se defronta o Atlético, é pouco mais do que um conceito abstracto, tal a prioridade que a equipa de Simeone oferece ao controlo dos espaços essenciais, nomeadamente no corredor central. Como o Barça se focaliza muito nesse corredor, tendo Messi como referência fundamental, é inevitável que a eficácia do seu jogo ofensivo caia significativamente. Aliás, o Barça tem sentido dificuldades deste mesmo tipo em alguns jogos fora, perante adversários com as duas linhas mais próximas, como foi o caso em Valladolid ou mais recentemente no derbi com o Espanyol. Por outro lado, o grande jogo que fez frente ao Real aconteceu sobretudo porque a equipa de Ancelotti se preparou muito mal para esta especificidade do seu adversário, nomeadamente com os seus médios a serem facilmente atraídos à bola, pela circulação exterior do Barça, e abrindo o tal espaço onde Messi gosta de aparecer. Esta equipa do Atlético parece-me mais vulnerável nas acções pelos corredores laterais, mas o Barça actual não revela grande vocação para combinações nesses espaços do terreno.

No final, ficou um resultado bem melhor - e também mais feliz, tendo em conta a segunda parte - para o Atlético. Não creio que seja ainda suficiente para inverter o favoritismo que logicamente decorre do potencial individual das duas equipas, mas a ameaça do improvável está mais viva do que nunca.

Man Utd - Bayern
Confesso que esperava maior capacidade de imposição do Bayern. Eu e, creio, quase toda a gente. Não só na eliminatória - que ainda deverá acontecer - mas já nesta primeira mão, seria expectável outra permeabilidade do Man Utd, tendo em conta aquilo que as duas equipas vêm mostrando. Não aconteceu, na minha leitura, por algum demérito do Bayern, mas também muito por mérito do United.

Curiosamente, o factor fundamental neste jogo parece-me ter sido o mesmo do jogo de Camp Nou. Ou seja, o espaço entrelinhas. Aqui, a surpresa decorre do facto do Man Utd ter-se mostrado várias vezes vulnerável precisamente neste ponto, com a sua linha média a perder com facilidade o foco nos espaços que deveriam ser prioritários para o seu posicionamento. Neste jogo, porém, isso não aconteceu, e apesar de toda a mobilidade da zona criativa do Bayern, que tinha precisamente como foco as costas dos médios ingleses, a verdade é que esse espaço raramente se abriu. O United teve, depois, as suas oportunidades nas breves ocasiões em que se aproximou da baliza de Neuer, e conseguiu mesmo o golo que era fundamental para que a sua estratégia obtivesse pleno sucesso. Talvez Moyes se deva lamentar do espaço concedido no lance do empate, e talvez tivesse sido mais aconselhável regressar a uma postura mais prudente após o golo, invertendo a intensão de ser mais pressionante perante a posse do Bayern, quando introduziu Kagawa para a segunda parte. Tudo isto são conjecturas que nunca poderemos concretizar, mas parece-me inegável o peso enorme que tem o golo de Schweinsteiger para o restante da eliminatória.

Quanto ao Bayern, arriscaria que o cenário mais provável é que a equipa acabe por recuperar algum conforto na segunda mão desta eliminatória. Tem, incomparavelmente, mais qualidade do que o adversário, e não me parece que Moyes seja um grande jogador para o bluff estratégico que, a este nível e nesta competição, é quase sempre determinante na definição das eliminatórias. Ainda assim, porém, de Old Trafford deverão surgir alguns motivos de reflexão para Guardiola. O Bayern está numa situação algo atípica, tendo por um lado o melhor dos contextos para atacar a Champions por já ter conquistado o título interno, mas sendo também evidente que a competição doméstica a que a equipa é submetida na Bundesliga não serve de teste para grande parte dos problemas que poderão aparecer nesta competição. Para se melhorar é preciso identificar pontos fracos, e isso pode não ser tão evidente num contexto competitivo onde se é tão dominador como acontece com o Bayern na Bundesliga. Por exemplo, fica a questão sobre se capacidade ofensiva da equipa não pode ser mais intensa do que foi neste jogo, ou se a equipa não estará a desperdiçar algum potencial específico dos seus extremos ao afasta-los tanto dos corredores laterais (curiosamente, o golo acaba precisamente por surgir na sequência de um cruzamento)? Do ponto de vista defensivo, a equipa tem uma excelente reactividade à perda, mas não parece tão eficaz quando os seus centrais são mais directamente expostos no espaço, e o golo acaba também por sublinhar o risco que representa fazer uma zona defensiva com um número relativamente reduzido de jogadores, nos pontapés de canto.

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