25.3.14

Chelsea-Arsenal e Real-Barça (análise)

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Chelsea - Arsenal
Já tinha abordado a questão do Arsenal, nomeadamente relativamente à qualidade da sua liderança técnica, que me parece insuficiente para que a equipa se possa superar e discutir realmente títulos com adversários com mais capacidade de investimento. Não quero com isto dizer que Wenger seja "o" problema, quer dizer apenas que, neste contexto, me parece claramente insuficiente.
O que se viu em Stamford Bridge foi, em traços gerais, uma repetição do filme de Anfield, onde o Arsenal também acabou goleado e de forma muito semelhante. Em particular, destaque flagrante para a péssima gestão do risco em posse e para a má reacção defensiva da equipa, em situações de transição e ataque rápido. Aliás, é interessante notar como a abordagem de Wenger foi completamente oposta nestes jogos, relativamente ao que fez frente ao Bayern. Na eliminatória da Champions, o Arsenal pareceu avesso a qualquer tipo de risco na sua construção e acabou por procurar sistematicamente a construção longa, tentando jogar quase exclusivamente a partir da segunda-bola. Uma espécie de oscilação entre o 8 e o 80, que parece inevitavelmente atirar a equipa para cenários extremos, ora expondo-se de forma flagrante ao risco da transição, ora abdicando quase que por completo do potencial que a qualidade técnica das suas individualidades lhe oferece.

Real Madrid - Barcelona
Um jogo excelente do ponto de vista do entretenimento, com inúmeras situações de golo, e constante superioridade dos ataques relativamente às defesas. É óbvio que há aqui muito mérito de quem ataca - desde logo pela riqueza de recursos de ambas as equipas - mas também me parece que ambos os conjuntos ficam a dever alguma coisa a si próprios em termos defensivos. Certamente ficarão, se as compararmos com as respectivas versões de um passado recente.

Relativamente ao Real Madrid, claramente melhor a atacar do que a defender. Ofensivamente, é uma equipa que trabalha bastante bem a sua posse e a entrada no último terço contrário, nomeadamente através da circulação lateral e do uso da largura dos seus médios, Modric e Di Maria (fica aqui, a propósito, a recomendação de um post sobre o tema, no blog Segunda-bola). No mesmo sentido, tem também a capacidade de se desdobrar muito rapidamente em termos ofensivos, especialmente através da movimentação de Ronaldo, que rapidamente se junta a Benzema no corredor central, criando muitos problemas para o equilíbrio das defesas contrárias. Defensivamente, porém, mostrou-se excessivamente débil para o desafio que se lhe deparava, parecendo estranhamente impreparada para a especificidade do Barça e de Messi. A equipa apostou quase sempre muito no condicionamento pressionante em toda a extensão do terreno, conseguindo bons resultados neste particular. No entanto, isto implicou também alguma perda de rigor no controlo de alguns espaços fundamentais por parte da sua linha média, que frequentemente se viu exposta pela qualidade do jogo de posse do Barcelona e, de forma muito flagrante, pelas movimentações de Messi. Veremos quais as implicações desta imprudência estratégica nas contas finais do campeonato e, já agora, fica também o aviso para a Champions, onde para vencer o Real terá certamente de se confrontar com outros adversários de grande valia técnica.

Quanto ao Barcelona, e tal como venho escrevendo ao longo da temporada, continua a ser, na minha opinião e com alguma distância, a equipa com o melhor conjunto de jogadores do mundo. O que não quer dizer que seja imbatível, ou que tenha de ganhar tudo, obviamente. Mas, quando os adversários não se protegem bem, e mesmo que tenham a qualidade que tem o Real, o risco de derrota torna-se de facto muito elevado. O grande destaque da equipa é, claramente, Messi que foi a chave do jogo - e não valorizo aqui sequer os 3 golos que marcou, já que 2 foram de penálti. Já havia escrito que esta equipa parece, mais do que nunca, obcecada por Messi, procurando-o talvez até em demasia. A verdade é que como a protecção do Real para essa especificidade foi pouca, o Barça retirou grandes proveitos desse apelo previsível ao seu maior astro. Ainda assim, e apesar da vitória, há vários aspectos que se continuam a identificar e que marcam uma quebra qualitativa em relação a épocas anteriores. Neste jogo, identificaria a maior exposição ao risco em posse, com a equipa a não ter grandes respostas colectivas para as situações de pressing alto do Real (isto claro, para além da qualidade que oferecem naturalmente os seus jogadores), e também os problemas na resposta defensiva, em particular sendo menos eficaz no pressing e reacção à perda, relativamente ao tempo de Guardiola. Em suma, o Barcelona terá hoje mais pontos fracos, sem dúvida, mas os seus pontos fortes continuam a ser únicos e provavelmente inacessíveis a qualquer outra equipa do planeta, parecendo-me por isso bastante imprudente que sejam menosprezados.

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