6.3.14

A saída de Paulo Fonseca

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No Dragão, finalmente, o virar de página com a saída de Paulo Fonseca. Escrevo "finalmente", porque creio que era um desfecho que todos ansiavam, tanto adeptos como o próprio treinador, e reflectindo-se essa ansiedade no comportamento recente da equipa. Sobre o Porto, no futuro imediato parece-me claro que a equipa só pode ficar a ganhar, e por dois motivos. Primeiro, e mais importante, pelo tão popular choque psicológico da "chicotada", que neste caso concreto me parece ter todas as condições para surtir efeito. Depois, porque - e tal como fui escrevendo - a equipa foi regredindo tacticamente ao longo da época, vivendo hoje um momento em que nem se identifica um ajuste da estrutura às características dos jogadores, nem, tão pouco, se vislumbram dinâmicas colectivas que possam potenciar aquilo que cada uma das partes tem para oferecer. A perspectiva é que o Porto regresse no imediato a um sistema "mono-pivot", o que na minha leitura poderá, pelo menos, ir ao encontro das características de jogadores como Fernando ou Carlos Eduardo. Quanto ao resto, teremos de esperar para ver o que trará o trabalho da nova direcção técnica.

Mas, olhando a um horizonte temporal mais largo, parece-me que convém não confundir as coisas. O principal problema do Porto nesta temporada não foi Paulo Fonseca, mesmo se o treinador acabou por se revelar, também ele, uma "não-solução". O problema do Porto, na minha leitura, divide-se fundamentalmente em duas partes: primeiro, o contexto, porque se o objectivo é ganhar, convém também ter sempre claro que ninguém compete sozinho, pelo que o valor da oposição é sempre uma variável fundamental para o sucesso. Neste sentido, os recentes campeonatos, conquistados sistematicamente em disputas ao 'sprint', vieram dar uma sensação de domínio - hegemonia é a palavra mais usada! - que não correspondia verdadeiramente à diferença entre Porto e Benfica. Não se pode confundir o que se passou nos últimos dois anos com aquila que foi a regra da maior parte dos campeonatos conquistados dos últimos 20 anos, onde o Porto ganhava com um conforto arrebatador. Aqui, o crescimento competitivo do Benfica na "era-Jesus" - e apesar de tantas vezes desvalorizado, até pelos próprios adeptos encarnados - veio indiscutivelmente aumentar a fasquia para as exigências internas, e este é um factor que não pode ser menosprezado. Depois, olhando um pouco mais para dentro, é indisfarçável a perda de qualidade da equipa nos últimos anos, cada vez mais dependente do encaixe de milhões, e sem conseguir colmatar ausências em sectores fundamentais, onde destaco claramente a zona criativa. Em particular, em dois anos a equipa perdeu Hulk, James e Moutinho e não foi capaz de colmatar a saída de qualquer dos três no mercado. Juntando estes dois factores, proximidade qualitativa do Benfica e saída de unidades-chave que não foram bem colmatadas, o cenário actual acaba por se revelar até bastante previsível.

Finalmente, uma palavra sobre Paulo Fonseca: sai bastante amarrotado de uma experiência que foi bem mais difícil do que muitos imaginavam - repete-se tantas vezes que no Porto qualquer um ganha, que muita gente acaba mesmo por acreditar! Já escrevi, e repito, que geriu muito mal a evolução da equipa e os problemas que foi encontrando, parecendo bastante afectado por todo o ruído proveniente da envolvente mediática. Inclusivamente, na tentativa de corrigir deficiências, acabou por neutralizar alguns dos pontos mais fortes da equipa, como é o caso do jogo anterior, tantas vezes aqui abordado nos tempos recentes. No entanto, nem vejo nele o foco central do problema, nem me parece que a sua ascensão tenha sido um acaso. Paulo Fonseca não revela grande flexibilidade em termos tácticos, é verdade, mas o seu modelo parece-me bom e equilibrado, e não tenho dúvidas de que poderá voltar a ter sucesso assim que lhe seja dada nova oportunidade. Agora, estes 8 meses revelaram também muitos pontos onde pode e deve melhorar, alguns deles fundamentais para que possa triunfar sustentadamente num nível superior, e convém que o treinador faça, ele próprio, um auto-diagnóstico sobre este atribulado percurso no Dragão.

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