11.12.13

Benfica - PSG: Opinião e Estatística

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A Champions e o desgaste do treinador - A moda é bater no Benfica, um pouco por tudo e mais alguma coisa. No Benfica, que é como quem diz no seu treinador, porque é nele que se centram a generalidade das atenções nesta altura. Pessoalmente, não adiro minimamente a esta tendência. Por exemplo, não em parece de todo que o Benfica tenha tido uma má prestação na Champions 13/14. A equipa foi melhor no campo do que 2 dos 3 adversários do grupo, o que normalmente dever-lhe-ia garantir a qualificação. Porque é que não a conseguiu? Essencialmente, porque o futebol é um desporto interessante. Ou seja, não é sempre o melhor que ganha e, sobretudo em provas curtas como é o caso da Champions, pequenos pormenores podem fazer toda a diferença nas classificações finais. É claro que o Benfica não fez só bons jogos neste trajecto, mas as suas exibições foram mais do que suficientes para que se justificasse a qualificação, e não me parece que sejam alguns detalhes menos controláveis a mudar radicalmente a avaliação global do que a equipa fez.
Sobre Jorge Jesus, não creio que possa recuperar mais a sua relação com os adeptos, mesmo que venha a ter sucesso no final da época. Não porque não tenha competência - tem de sobra para treinar o Benfica, ou qualquer clube português - mas simplesmente porque a cultura do futebol português não é compatível com ciclos tão longos na orientação técnica. Há um desgaste notório, e a emotividade dos adeptos (não de todos, mas seguramente da maioria) leva a uma embirração constante com a figura do treinador. Ou é o discurso, ou são as opções técnicas, ou é o sistema... qualquer coisa serve para fazer do treinador um bode expiatório permanente, e as criticas mais justas - que as há - já quase não se distinguem das outras. O tempo levou consigo grande parte desta memória colectiva, mas sobre a relação entre Benfica e Jorge Jesus é bom que fique claro que só conhecemos o 'antes' e o 'durante'. Um dia, que me parece não muito distante, saberemos qual será o 'depois'.
Num outro ponto, e antes de passar ao comentário ao jogo propriamente dito, quero referir que me parece provável que o Benfica possa entrar agora numa fase de crescimento, e sobretudo maior regularidade, na performance interna. Pelo menos, a equipa sempre me pareceu muito condicionada pelos jogos da Champions. Veremos se se confirma, ou não, esta minha leitura...

Bom jogo e nova versão táctica - O Benfica fez, de facto, um jogo muito bom contra o PSG, justificando provavelmente um resultado mais confortável. É claro que há aqui uma relativização importante a fazer, não tanto a meu ver pelas ausências do lado parisiense, mas mais pela atitude da equipa de Laurent Blanc, que não me pareceu a melhor. Do ponto de vista táctico, Jesus voltou a fazer de Perez a sua unidade fundamental para conseguir maior presença em posse, mas não recorreu exactamente à mesma fórmula de outros jogos. Desta vez, Perez não partiu do corredor direito, como aconteceu por exemplo em Bruxelas ou em Vila do Conde, mas jogou sempre no corredor central, relegando Markovic para um dos flancos. Assim, com bola, Perez baixou para a linha média intervindo constantemente na fase construção, e sem bola manteve-se perto de Lima, conservando o 4-4-2 em organização defensiva (algo que foi alterado apenas nos últimos minutos). Jesus tem variado bastante nas opções a este respeito, parecendo procurar ainda a melhor forma de acrescentar uma unidade às fases mais recuadas do jogo, sem que para isso tenha de perder a presença pressionante que tanto caracteriza a fase defensiva do seu modelo de jogo.

Individualidades (Benfica)
Artur - Teve algumas intervenções importantes, mas no golo parece-me que não terá tido a melhor abordagem. Não tanto a sua saída inicial da baliza, mas sobretudo a forma como nesse momento se lançou despropositadamente para o chão, perdendo depois capacidade para reagir a tempo e retomar o seu posto na baliza.

Maxi - Um jogo com boa envolvência ofensiva, algo que não tem sido assim tão frequente nos últimos tempos. Em particular destaque, claro, a jogada que dá origem ao segundo golo.

Sílvio - A meu ver, bastante melhor do que Maxi em termos globais, ainda que ofensivamente não tenha tido o mesmo fulgor. Bastante competente na pressão, muitas vezes impedindo que o PSG se soltasse do pressing colectivo do Benfica. Acabou por ter também uma participação importante na definição do resultado, já que foi sobre ele que foi cometida a grande penalidade.

Luisão - Não foi um jogo muito fácil para os centrais, porque o PSG saiu quase sempre curto proporcionando poucos duelos aéreos, onde Luisão e Garay costumam tirar vantagem. Por outro lado, o facto do Benfica ter sido atraído para pressionar em zonas altas proporcionava situações de grande exigência para os centrais, sempre que o PSG saía dessa primeira zona pressionante. Luisão esteve bem, com algumas intervenções vistosas e decisivas. Podia ter marcado na sequência de um livre de Gaitan.

Garay - As mesmas condições de Luisão, com intervenções menos vistosas, mas com maior volume de trabalho.

Fejsa - Mais um grande jogo a este nível. Em particular, é um jogador que confirma uma notável capacidade de trabalho, sendo muito eficaz sempre que "encosta" num adversário. Foi o jogador com mais intervenções defensivas e mais passes completados, conseguindo ainda um excelente passe para Ivan Cavaleiro, já na recta final da partida. Tem muita capacidade e tudo para ser um grande médio defensivo do Benfica nos próximos anos, sendo para isso especialmente importante que saiba gerir o critério das suas intervenções, quer com bola, quer em termos posicionais.

Matic - Defensivamente, jogou muitas vezes na mesma linha do que Fejsa, mas assumiu outras responsabilidades com bola. Matic tem capacidade para jogar em praticamente todas as posições do meio-campo, mas é óbvio que em acções criativas deixa de conseguir o mesmo grau de excelência, que está ao seu alcance como médio mais defensivo. Como nota negativa, nova perda de risco, o que nele vem sendo recorrente.

Gaitan - Normalmente é a criar oportunidades de golo que se destaca, mas neste jogo foi sobretudo como finalizador que apareceu. Aproveitou bem para marcar um golo e tornar-se, merecidamente, no principal destaque individual no jogo.

Markovic - Tem ainda muito tempo, mas não se pode dizer que esteja propriamente a dar sinais de evolução. Em particular, parece demasiado preocupado em protagonizar jogadas 'maradonianas' cada vez que se lhe oferece um pouco de espaço, e isso retira tanto critério como propósito às suas intervenções. No lance em que se lesiona tinha tudo para finalizar a jogada e era isso que deveria ter feito.

Enzo Perez - Apareceu a defender praticamente ao lado de Lima, num jogo de grande desgaste em termos de pressão alta, pela qualidade de circulação baixa do PSG. Ainda assim, conseguiu oferecer-se como unidade muito útil em termos de intervenção defensiva, aproximando-se da linha média sempre que necessário. Com bola foi dos mais interventivos, assumindo o papel de jogador mais influente na fase criativa da equipa. Esteve no segundo golo e ainda na origem de mais duas ocasiões, uma finalizada por Lima e a outra por Matic. Em suma, um grande jogo!

Lima - O penálti que marcou faz entrar o seu nome na ficha dos marcadores, mas pessoalmente isso diz-me pouco. Conseguiu um envolvimento razoável, mas não se demonstrou muito inspirado nas suas acções, acabando por desperdiçar a oportunidade para fazer uma exibição marcante num jogo importante e que lhe permitia essa possibilidade.

Ivan - Não foi deslumbrante, mas foi uma boa entrada, sobretudo pela capacidade de trabalho que apresentou. Teve ainda uma oportunidade para marcar, que no entanto não conseguiu aproveitar.

Sulejmani - Entrou numa fase difícil em que o Benfica recuou muito no terreno e teve pouco jogo. Essa é a atenuante para mais de 15 minutos de pouquíssimas intervenções.

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