4.10.13

5 jogadas (Benfica, Porto, Sporting e Man City)

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Jogada 1 - Começo com a jogada do primeiro golo do PSG, até porque discordo da análise que vi ser feita, em particular relativamente à responsabilização atribuída a Gaitan. E, começando por esse ponto, aquilo que não me parece fazer sentido é pedir que um jogador mantenha o acompanhamento individual, neste caso a Van der Wiel, quando o comportamento colectivo passa por subir imediatamente após o passe atrasado, de forma a fazer uso da linha de fora de jogo. Ou seja, ou se pede ao jogador para manter esse acompanhamento individual, e aí tem de se desprezar o comportamento colectivo, ou para manter o comportamento colectivo, não se pode depois questionar o acompanhamento individual. No caso do Benfica, não tenho dúvidas de que a prioridade que lhe é transmitida passa por fazer o que Gaitan fez, ou seja, subir rapidamente após o passe atrasado.
Há dentro do lance, mais 3 pontos que identifico e que me parecem poder ser mais censuráveis do que a acção de Gaitan. Isto, claro, já saltando por cima das dificuldades que ontem abordei. 1) Primeiro, a presença pressionante da linha média, que não é suficiente para impedir o passe vertical para Van der Wiel. 2) Depois, a distância dos jogadores que estão na área para o corredor lateral, o que impede a cobertura de ser feita atempadamente. Aqui, duas notas: uma para a elevada presença numérica no centro da área, o que permitiria maior proximidade do primeiro elemento da zona lateral sem perda de equilíbrio no centro; a outra para o facto de Siqueira, o tal primeiro elemento na zona central, estar fixado em Cavani, sendo essa a explicação para estar tão atraído para dentro, o que implicará depois uma cobertura tardia no lance. 3) Finalmente, o comportamento de André Almeida no centro da área, inicialmente com Ibrahimovic, mas sem reacção durante a jogada.

Jogada 2 - Provavelmente a melhor jogada no embate entre Porto e Atlético de Madrid. Vale a pena olhar para o lance desde o seu inicio, porque nele se encontram as principais virtudes do Atlético. Nomeadamente, primeiro, o notável ajustamento posicional da sua linha média, mantendo presença pressionante sobre o portador da bola e rapidamente conseguindo criar superioridade no flanco em que a bola entra. Depois, a forma como sai para o momento de transição, não procurando retirar a bola do mesmo flanco onde a recupera - o comportamento característico da esmagadora maioria das equipas - mas progredindo verticalmente em apoios curtos e sucessivos, de onde emerge a qualidade de algumas das suas unidades, sobretudo Arda Turan.
O meu realce, na parte final do lance, vai para o comportamento de Defour, que não tem a preocupação de colmatar a ausência de unidades na zona central da defesa. Ou seja, mesmo sem centrais, ele continua a posicionar-se como um médio, o que obviamente não faz qualquer sentido dentro de uma perspectiva de equilíbrio colectivo. E não faço com isto uma critica muito individualizada a Defour, porque me parece que esta falta de "retrovisor" dos elementos da linha média é comum à maioria das equipas.

Jogada 3 - De regresso à liga portuguesa e ao interessante Braga-Sporting, para recuperar o lance do golo do empate. O fundamental da jogada é facilmente identificável. Ou seja, há um aproveitamento por parte do Braga das dificuldades de controlo dos dois médios do Sporting, atraindo-os para depois aproveitar o espaço nas suas costas. Como referi no comentário ao jogo, a exploração deste espaço pareceu ser um foco de estratégico de Jesualdo Ferreira, reflectido quer na forma como o Braga envolveu muita gente na circulação baixa (atraindo para aí os médios do Sporting), quer como Alan se apareceu sobre o corredor central, acrescentando a sua presença à de Micael, nas costas dos médios do Sporting. Nota ainda no Braga para os movimentos de Eder, com enorme propensão a abrir sobre as alas, o que neste caso serve de complementaridade ao movimento interior de Alan e ajuda a fixar a linha defensiva do Sporting.
No que respeita ao Sporting, praticamente todas as semanas me refiro aos problemas que a equipa vai sentindo nesta zona, e tem de facto sido por aqui que o Sporting mais tem sido penalizado. Existe, repito a ideia, tanto um problema de resposta individual como de equilíbrio colectivo (falta de protecção de outros elementos a esta zona). No caso concreto desta jogada, realçaria o posicionamento em paralelo dos dois médios (Adrien e William). Esta é uma situação comum nas equipas que assumem este tipo de estrutura em organização defensiva (2 médios no corredor central), mas que geralmente acaba por se revelar numa oportunidade para a exploração do espaço entrelinhas por parte dos seus adversários, visto que um passe vertical acaba por retirar os dois jogadores da jogada, tal como sucede aqui. Parece-me que este posicionamento, em paralelo, apenas é desejável quando há uma grande proximidade com a linha defensiva, caso contrário é preferível a assimetria.

Jogada 4 - Mais à frente no jogo, foi o Braga quem sentiu problemas de controlo defensivo. Particularmente, a habitual dinâmica do Sporting sobre os corredores foi causando sucessivos estragos ao longo da segunda parte, em especial sobre o corredor direito. Neste lance sobressai a habitual dinâmica de André Martins sobre a ala, que aproveitando as limitações na resposta do Braga. Em particular, a pouca intensidade defensiva de Micael, que baixou para o duplo-pivot após a expulsão de Aderlan, ainda para mais sobre o lado de Elderson. Uma situação que, parece-me, poderia ter sido corrigida mais cedo por Jesualdo. Ainda no Braga, nota para algumas dificuldades de ajustamento lateral da linha média, o que conduziu depois à exposição da linha defensiva - profundidade - em algumas situações.
Ainda relativamente a este lance, nota para a boa decisão de André Martins, que mesmo sem ângulo para finalizar manteve a condução em direcção à baliza. Esta opção forçou Eduardo a sair da baliza, acrescentando um enorme potencial ao passe seguinte.

Jogada 5 - Finalmente, o interessante jogo entre Man City e Bayern. Um passeio bávaro no campo de uma das mais apetrechadas equipas da actualidade, o que em princípio seria uma surpresa, mas que dado o contexto recente da equipa de Pellegrini, não pode deixar ninguém de boca aberta. O Bayern fez o jogo mais sólido que lhe vi fazer este ano (vi apenas alguns, alerto), conseguindo também controlar por completo o seu adversário, e não intervalando o seu domínio com uma série de desequilíbrios, como aconteceu noutras ocasiões. Mas é o City e o futebol inglês que mais quero destacar, e em particular a mediocridade que as principais equipas do mais interessante campeonato do mundo (opinião própria) apresentam actualmente. Diria mesmo que, e apesar das fragilidades que ainda se lhe reconhecem, será o Chelsea de Mourinho aquela que mais hipóteses terá de disputar a Champions até uma fase mais adiantada.
Sobre o lance em concreto, trata-se de um tipo de situação já várias vezes comentado e que tem a ver com o risco assumido na profundidade quando não há pressão sobre o jogador que faz o passe (no caso, Dante). Nesta situação, a vantagem fica toda do lado de quem ataca, e percebe-se isso ao ver a dificuldade que existe em controlar o movimento de Muller. Todos sabemos o quão importante é diminuir o espaço entrelinhas (já agora, uma das fragilidades do City), mas pior do que ser exposto à frente dos defesas, é ser exposto atrás dos defesas. Uma questão de prioridade, portanto.

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