10.10.11

Portugal - Islândia: opinião

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- Começo pelo jogo de Terça. Descontando o facto de jogar fora, Portugal parte numa posição muito confortável para o embate final. A vantagem que leva permite-lhe não só ter a seu favor uma combinação muito maior de resultados favoráveis, como ainda distanciar-se da importante questão do segundo lugar. E, aqui, entrarão os dilemas para o seu adversário. É que a Dinamarca joga muito neste jogo. Ao contrário de Portugal, os dinamarqueses não têm valor suficiente para que se justifique um grande favoritismo num eventual playoff e, por isso, a qualificação directa via segundo lugar é uma hipótese demasiado valiosa para ser menosprezada. Para mais, e também ao contrário de Portugal, o empate da Suécia só serve para a Dinamarca se estes não perderem. Neste sentido, a abordagem estratégica dos dinamarqueses terá sempre de ter em conta a situação do jogo em Estocolmo, tanto mais que este começa 15 minutos mais cedo. Teoricamente, para os dinamarqueses, há aliás mais hipóteses de uma qualificação directa via segundo lugar do que pelo primeiro. Para Portugal, estes cenários podem servir de tábua de salvação em caso de deslize, mas de nada interessam para a sua estratégia no jogo. Será uma situação interessante de acompanhar, sobretudo se os jogos se mantiverem com resultados tangenciais...

- Entrando no jogo com a Islândia, assinalar, primeiro, o interesse do jogo em vários aspectos. Começo pelas dificuldades de Portugal, que, a meu ver, estiveram em 2 pontos: bolas paradas e segurança em posse. Relativamente à posse, Portugal assumiu, sem surpresa, um jogo assente na em organização, mas oscilou demasiado nesse plano. Começou por errar, estranhamente, na recepção e definição do segundo passe, após a entrada no bloco. Nessa fase, porém, a sorte foi-nos favorável e o jogo chegou rapidamente a um 3-0 que, em boa verdade, não se justificava. Depois, e na segunda parte, Portugal melhorou ao nível da segurança. Não conseguiu nunca muita profundidade em organização, mas foi pelo menos mais seguro. As desconcentrações a este nível voltariam mais tarde, já depois do 5-2. Algo que não se pode repetir em Copenhaga...

- O que realmente acabou por condicionar o jogo a Portugal, porém, foram as bolas paradas. É compreensível que se sintam algumas dificuldades neste momento, perante uma equipa com a característica dos islandeses, mas não ao ponto de se tremer praticamente a cada lance. O mau controlo da referência estratégica dos nórdicos na primeira bola explica quase tudo, porque foi sempre por aí que o perigo surgiu. Mas, o lance do 3-2 mostra também algumas dificuldades ao nível dos comportamentos colectivos. Uma das vantagens da defesa zona é poder controlar posicionamentos colectivos para usar imediatamente o fora de jogo. Tem de haver mais rigor e concentração (no caso, Moutinho), no movimento de saída, porque o lance teria sido facilmente evitado. Sobre as bolas paradas, Portugal não tem justificação para não ser forte nesse plano: tem centrais altos, Ronaldo e ainda o avançado que tem todas as condições para ser também ele um auxilio. Não há muita margem para desculpas, há, isso sim, uma exigência que se deve assumir.

- De resto, onde me parece que Portugal esteve melhor, mesmo em relação a jogos anteriores, foi em organização defensiva. Fez um bom condicionamento do primeiro passe, utilizando bem o papel de Postiga, que pressionava lateralmente, obrigando o central a acelerar a decisão de verticalizar. Aliás, Portugal conseguiu sempre extrair oportunidades próprias da sua resposta nos momentos defensivos, seja em organização, ou na reacção à perda. Um bom sinal para o futuro...

- Mas, parece-me que Portugal tem realmente motivos para optimismo, e Paulo Bento para exigir muito da sua equipa (e a si próprio, já agora). Tem centrais fortes em construção, capazes de fazer uma boa ligação com os extremos (Bruno Alves), ou criar superioridade com bola (Pepe). Tem uma grande força nas laterais, não só pelos excepcionais extremos, mas também pela boa dinâmica que oferecem os laterais. Com Meirleles e Moutinho, porém, pode exigir-se também aquilo que poucas equipas conseguem com qualidade e segurança: construir pelo corredor central. Tem uma equipa capaz de ser forte em organização, mas também extremamente reactiva em transição. Tanto ofensivamente, como defensivamente. É verdade que não há muitas soluções para além daquelas que vêm sendo utilizadas na primeira linha, mas isso será uma consequência normal da dimensão do país e do desnível no número de praticantes face a outras potências. Há, ainda assim, várias coisas a discutir e a trabalhar, cabendo a Paulo Bento, obviamente, fazer essa reflexão. Por exemplo, parece-me questionável que Patrício use como referência Postiga para as primeiras bolas, sabendo-se a baixíssima % de sequência que tem esta ligação. Ou se usa outro avançado, ou parece-me que Ronaldo deverá passar a ser a referência.

- A grande novidade do jogo foi, sem dúvida, Eliseu. Não apenas pelo golo e as assistências, embora sejam uma excelente evidência do que pode acrescentar. É que Eliseu foi também o jogador com mais passes completados no jogo (51, falhando apenas 3), chamando a si grande parte das iniciativas, e estando também muito bem na reacção à perda. É certo que foi apenas 1 jogo e, para mais, sem um grande grau de dificuldade, mas os indícios são suficientes para serem considerados relevantes e abrir uma outra hipótese, que passa pela utilização de Coentrão como médio. Essa dinâmica está criada com Ronaldo no Real Madrid, e pode ser aproveitada por Paulo Bento. Portugal pode não ganhar muito na posse interior, mas tendo Meireles e Moutinho isso não tem de ser um problema, ganhando-se tremendamente em termos de reactividade do corredor central. Uma hipótese que, a meu ver, Paulo Bento deve considerar, assim que garanta o lugar na fase final...
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