16.4.10

1978: A inspiração de Kempes

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O retrospecto não poderia antecipar o cenário, mas ele era possível. Para que a Taça ficasse em casa, contra o favoritismo de outras cores de maior tradição e potencial, era preciso um rasgo de inspiração. Algo que elevasse a ‘Albiceleste’ a um patamar inédito no seu historial. E assim aconteceu. Em 1978, na fase final da prova, emergiu uma figura que haveria de arrastar consigo a Argentina até à vitória. Uma bênção divina de um número 10 argentino que inclui mãos e tudo. Cada um no seu tempo!... é de Kempes que estamos a falar.

À partida para a competição, Kempes era a excepção na equipa argentina. Excepção no anonimato geral. É que se nenhum dos seus companheiros havia feito o suficiente para atrair o interesse europeu, Kempes era já uma figura do futebol espanhol. A enxurrada de golos que marcou no Rosário Central motivou o interesse do Valência em 76. Kempes, pode dizer-se, foi bem para além das melhores expectativas e nos primeiros dois anos no futebol espanhol consagrou-se como o “Pichichi” da liga. Este foi o estatuto com que Kempes entrou, aos 24 anos, no Mundial de 1978. Curioso que a prova que o consagrou individualmente parece ter marcado um ponto de viragem na carreira de Kempes. Não que tivesse deixado de ser um jogador importante, conquistando títulos com o Valência nos anos seguintes. Na verdade, porém, nunca mais a sua contabilidade individual foi tão impressionante como nos anos que antecederam a competição.

Embora um goleador, Kempes estava longe de ser um jogador de área. A sua actuação começava normalmente na linha média, para onde baixava à procura de jogo. Daí, Kempes partia em poderosas arrancadas que, juntamente com o seu poderoso pontapé canhoto, eram uma imagem de marca do goleador. E assim foi também no Mundial de 1978. A inspiração de Kempes parecia não ter regressado com ele do Espanha quando, no final da primeira fase, não havia sequer marcado 1 golo. Ora bem, tudo isso mudou nos 4 jogos finais. E de que forma! Kempes saltou do zero para o topo da lista dos marcadores, bisando em 3 dos 4 jogos finais.

A inspiração foi tanta que Kempes até golos defendeu! No importantíssimo jogo frente à competente Polónia, Kempes praticamente decidiu sozinho um jogo que, facilmente, teria tido outro destino. Não só marcou os 2 golos da partida como ainda teve tempo para fazer de guarda redes e protagonizar uma das melhores defesas da prova. Insólito? É verdade, mas o facto é que Fillol defendeu o penalti subsequente e, como na altura as leis eram diferentes, Kempes não sofreu qualquer penalização disciplinar, seguindo em jogo. Bem vistas as coisas, a sua defesa contou mesmo.

A Polónia – que eliminara Portugal na qualificação – foi ineficaz e incapaz de parar a onda argentina, que crescia de jogo para jogo. O grupo foi decidido pelos golos do mais controverso jogo de sempre, entre os anfitriões e o Peru, e que tirou o Brasil da final.

A fotografia é de um Mundial de mangas compridas, de grande luta e sem grandes exibições ou estrelas. As “ganas” da Argentina e a inspiração de Kempes retiveram o título e proporcionaram uma chuva de contratos europeus para os seus incógnitos jogadores. A Argentina passou a entrar na primeira linha do futebol mundial, de onde nunca mais saiu.



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