17.11.14

Notas do Portugal - Arménia

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- Penso que é perfeitamente possível fazer um paralelismo entre esta exibição e a que terminou com a derrota frente à Albânia. O volume de jogo conseguido pela Selecção foi semelhante, assim como as ocasiões claras criadas. Na verdade, parece-me até que a Arménia foi mais perigosa do que a Albânia, sendo que a diferença esteve, e de forma clara, na eficácia. Uma evidência (à luz desta análise, evidentemente...) de como no futebol os aplausos e os lenços brancos estão frequentemente muito mais dependentes de factores incontroláveis do que aquilo que à posteriori nos parece.

- Fernando Santos optou por alterar a sua estrutura, e tenho algumas dúvidas sobre a utilidade dessa opção. Em parte porque pareceu pouco natural o ajuste dado aos jogadores da frente, mas sobretudo porque se perdeu a oportunidade de desenvolver a ideia que o treinador em princípio utilizará nos jogos mais importantes e que, no fundo, deverão acabar por definir o sucesso ou insucesso na campanha para o Euro 2016. Era possível manter a estrutura, dando-lhe uma dinâmica diferente, sobretudo com uma missão menos posicional nos 3 médios, relativamente ao que acontecera frente à França e Dinamarca. Em termos de ajuste específico às características dos jogadores, parece-me que Portugal teria a ganhar em continuar a oferecer liberdade a jogadores como Danny e Nani.

- No que respeita à exibição da equipa portuguesa, destacaria de forma breve dois pontos menos positivos. Em termos ofensivos, pareceu-me haver alguma dificuldade na criação de dinâmicas de penetração no último terço, em especial no inicio da segunda parte onde me pareceu ter sido dado maior enfoque ao corredor central, mas sem que a equipa tivesse revelado a dinâmica suficiente para fazer essa ligação com qualidade e de forma mais apoiada, acabando por verticalizar muito e de forma previsível, perante uma linha defensiva muito baixa e por isso pouco vulnerável na exploração da profundidade. O outro ponto menos positivo diz respeito ao momento de transição defensiva, sendo verdade que a Arménia não se soltou ofensivamente com grande frequência ao longo do jogo, mas sendo também evidente a constante necessidade dos jogadores portugueses em recorrer à falta para evitar males maiores, o que resultou num invulgar número de faltas e cartões amarelos para os jogadores mais defensivos. Um aspecto a rever e corrigir, já que perante formações mais fortes, o preço a pagar será previsivelmente maior.

- Interessante o caso de Postiga, que não é único mas é muito comum. Ou seja, frequentemente discute-se o que os avançados podem trazer à equipa, mas quase sempre as conclusões reflectem mais a ideia pré concebida que é tida sobre cada um dos jogadores, do que propriamente aquilo que, na prática, realmente se observa no terreno de jogo. Postiga é um exemplo (há outros, como escrevi) disto porque constantemente se diz que traz maior capacidade de envolvimento e de ligação com os jogadores de linhas anteriores, mas a verdade é que invariavelmente a sua participação no jogo é extremamente reduzida e não especialmente eficaz. Frente à Arménia, Postiga completou 7 passes em 55 minutos, um registo quase desprezível numa partida com este volume de jogo e, comparativamente com outras opções, 3 vezes inferior ao de Eder nos 35 minutos que jogou, e igualmente muito menos participativo do que foram qualquer dos atacantes portugueses no jogo da Dinamarca, onde o volume de jogo colectivo foi muito inferior. Isto não quer dizer que Postiga não possa trazer mais valias à Selecção, sendo um jogador obviamente evoluído do ponto de vista técnico (o equívoco, creio, resulta daqui) e na minha opinião aquele que mais qualidade de finalização garante, relativamente a Eder e Hugo Almeida (embora, me pareça que Portugal deve contemplar a hipótese de actuar sem um referência mais fixa). O que não penso é que a sua inclusão deva ser considerada com base em expectativas equivocadas. 

- Ainda no capítulo individual, nota para a exibição de Moutinho. Assumiu, com Tiago, uma função mais posicional, mas destacou-se claramente nesse papel. Também ao nível do passe, onde esteve perto da centena de ligações bem sucedidas, mas sobretudo pela espectacular exibição defensiva, no momento de transição ataque-defesa. Foi protagonista de 23 acções defensivas neste momento táctico,  mais do dobro do segundo jogador com mais interventivo da equipa em transição defensiva.

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