Bate - Porto
O contexto era diferente, o valor do adversário também, mas o produto final da exibição portista neste jogo foi muito semelhante àquele realizado no país basco, frente ao Athletic. Ou seja, uma equipa bem organizada nos seus momentos defensivos, com um controlo praticamente perfeito do adversário, mas sem grande capacidade para ser incisivo no último terço. Neste sentido, parece-me, a vitória portista não merece contestação, mas o seu registo ofensivo resulta sobretudo de um aproveitamento pleno das ocasiões criadas e não tanto de uma grande capacidade para criar situações de golo. Este, de resto, continua a ser o grande problema do Porto de Lopetegui, não tanto a nível europeu, mas com repercussões sobretudo no registo interno, onde a sua produção ofensiva tem estado abaixo do esperado. E, novamente também, o défice de jogo interior surge como principal candidato a factor explicativo deste fenómeno do futebol portista actual. No paralelismo entre o que a equipa tem feito interna e externamente, de resto, sobra também uma nota de reflexão em relação ao controlo defensivo, já que as recentes exibições europeias tiveram um controlo defensivo substancialmente superior àquele registado nos confrontos contra Nacional e Estoril, o que não se pode deixar de estranhar em face do grau de dificuldade de cada um destes desafios. Um problema que, na minha leitura, tem a ver com os níveis de risco assumidos nos dois planos competitivos, interno e externo, sendo que internamente o Porto se tem exposto mais, provavelmente pela consciência da necessidade imperiosa de fazer golos e da pouca confiança que terá na sua própria capacidade de resposta a esse nível.
Uma nota a nível individual para Marcano e para a questão dos centrais. Primeiro, sobre o tema de se ter dois centrais canhotos, que aparentemente será um problema para o Porto, a julgar por algumas análises que vi. A minha questão é porque é que ninguém levanta o mesmo tipo de problema quando, numa qualquer equipa, jogam dois centrais destros, como tantas vezes acontece? Não percebo... Depois, mais concretamente sobre Marcano, que ao que me parece é visto de forma quase unânime como o pior central do Porto. Já o escrevi, e mesmo se o tempo de observação ainda é curto, este jogo voltou a reforçar a minha opinião, de que o espanhol tem sido a solução que melhor rendimento tem dado à posição. Relativamente a Maicon, tem revelado uma propensão para o erro muito menor, e relativamente a Indi parece-me ter uma capacidade de intervenção defensiva substancialmente superior. Dá-me a ideia que ficou mediaticamente penalizado pelo facto de ter jogado em alguns jogos colectivamente pouco conseguidos nesta temporada (nomeadamente frente ao Sporting), mas na minha avaliação (que, reconheço, relativamente a centrais é tudo menos consensual!) isso não implica que individualmente as suas exibições tivessem sido más. No caso, muito pelo contrário.
Sporting - Maribor
Um jogo de grande superioridade do Sporting, confesso até para além das minhas próprias expectativas. A vitória é incontestável, e o resultado pecará até por escasso, sobretudo tendo em conta aquilo que foram os 20 minutos do jogo. Que hipóteses tem o Sporting agora de se apurar? Bom, digamos que o desfecho mais provável dos dois jogos finais é que o Schalke vença na Eslovénia e que o Sporting perca em Londres, mas que isso não impede que as hipóteses de apuramento sejam claramente favoráveis ao Sporting, diria na ordem dos 65%. Pode parecer paradoxal, mas não é...
Uma nota sobre o registo defensivo da equipa, que voltou a ser abordado no final do jogo. O Sporting tem tido de facto problemas graves a esse nível, e sobre os quais tenho escrito repetidamente. Neste jogo, porém, não os teve. O Maribor atacou, sim, e até marcou um golo, mas isso não quer dizer que tenha sido especialmente ameaçador durante os 90 minutos, e a realidade é que não o foi. De resto, tomara o Sporting ter tido a mesma capacidade de controlo defensivo que teve neste jogo nas recepções recentes, a Marítimo e Paços de Ferreira, e parece-me importante que haja a capacidade de distinguir as situações, porque não se pode desvalorizar o que se passou em muitos dos jogos recentes para vir depois sobrevalorizar uma reacção como a que teve o Maribor, sob pena de não se saber se a equipa está ou não a produzir aquilo que dela se exige.
Uma nota incontornável no plano individual, para Nani. Não pelo lado estético da sua performance mas, e como sempre tento fazer, mantendo o foco na produção objectiva do jogador. À excepção do primeiro golo, foi o denominador comum de todas as principais ocasiões da equipa, tendo estas sido em quantidade substancial. Uma exibição fantástica, muito difícil de igualar e que revela a importância que a chegada de Nani teve para o Sporting e para Marco Silva.
Zenit - Benfica
O cenário da eliminação europeia estava desenhado desde a segunda jornada. Não era uma inevitabilidade, claro, mas quem perde dois jogos num grupo tão equilibrado como este, nunca pode deixar de ignorar a probabilidade desse destino. Na minha opinião, a má campanha europeia do Benfica justifica-se sobretudo por esses dois jogos e não por aquilo que se passou a seguir, e muito concretamente não por este jogo. É fácil pegar nos resultados, na carga emocional que eles acarretam, e fazer análises que partem do efeito para as causas, fazendo tudo parecer uma inevitabilidade, mas esse é um oportunismo que neste caso me parece intelectualmente reles e que por isso rejeito. O Benfica perdeu o jogo, é certo, mas perdeu-o frente a um adversário de potencial idêntico ao seu, jogando fora, e num jogo que discutiu de igual para igual, tendo sido em minha opinião até ligeiramente superior em diversos momentos. O jogo, por isso, não me parece merecedor de grandes reparos ou motivos de preocupação, por muito que o resultado e a eliminação consequente possam trazer consigo uma carga emocional negativa e difícil de ignorar. O mesmo não se poderá dizer dos tais dois primeiros jogos desta fase de grupos, mas sobre eles é bom que o Benfica já tenha retirado as ilações devidas. Resta à equipa agora continuar a evoluir colectivamente, tendo como conforto a noção de que internamente a sua situação é bastante favorável, tendo por isso boas condições para repetir os sucessos internos do ano anterior.