6.11.14

Notas da Champions #4

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Benfica - Mónaco
Uma jornada muito importante para o Benfica, abrindo repentinamente as hipóteses de apuramento, quando estas pareciam já muito complicadas. A vitória foi, obviamente, a componente mais importante para esta inversão de cenário, mas também o resultado de São Petersburgo veio ajudar muito as aspirações encarnadas para as duas jornadas finais. Isto, porque existe agora uma forte hipótese do Leverkusen visitar a Luz com o primeiro lugar garantido, na última jornada, o que poderá vir a ser um factor decisivo para um apuramento que se disputará em apenas 2 jogos, qualquer deles muito complicado para as equipas envolvidas. Logo veremos se este cenário se confirma...

Relativamente ao jogo, diria que foi uma vitória feliz do Benfica, uma vez que me parece que no essencial as equipas se equivaleram nos 90 minutos. Aliás, na minha opinião foi inclusivamente no período em que o Mónaco mais se conseguiu impor - segunda parte - que o Benfica conseguiu resgatar os ambicionados 3 pontos. Isto, depois de uma primeira parte onde a equipa de Jardim conseguiu neutralizar relativamente bem o ascendente do Benfica, mas onde fora também muito curta em termos ofensivos. Na segunda parte, porém, as dificuldades do Benfica foram maiores, em parte por mérito do próprio Mónaco que encontrou melhor enquadramento para as suas iniciativas atacantes, nomeadamente explorando a vantagem no duelo entre Ferreira Carrasco com André Almeida, mas também por alguma ansiedade do próprio Benfica que, pela urgência de conseguir um golo, passou a verticalizar muito mais, partindo o jogo e perdendo também alguma presença e qualidade em posse. Se o Benfica levou a melhor neste período, foi sobretudo por um capricho de eficácia. Bem mais positiva, do meu ponto de vista, foi a gestão que a equipa fez do jogo após o golo, não oferecendo qualquer margem de reacção ao Mónaco.

No capítulo individual, uma nota sobre Talisca, sobre quem havia escrito que dificilmente poderia continuar a marcar com a mesma assiduidade por muito tempo. O brasileiro parece determinado em contrariar a minha projecção, e tenho de reconhecer que é de facto um notável executante, que vem crescendo notoriamente em confiança. O problema poderá não ser tão simples como havia formulado, mas mantenho no essencial a minha perspectiva. Ou seja, continua a não me parecer muito provável que Talisca possa perpetuar a veia goleadora (ao ponto de discutir o título de melhor marcador do campeonato, por exemplo, uma vez que não desfruta de um número suficientemente elevado de ocasiões), e continua-me também a parecer um jogador muito mais forte em termos técnicos do que em termos de movimentações sem bola, ficando notoriamente mais confortável nas acções de ataque rápido ou contra ataque, onde o espaço é maior.

Sporting - Schalke 
Tal como para o Benfica, esta foi uma jornada muito importante, tanto por mérito próprio como pelo resultado do outro jogo do grupo, que garante que o Chelsea não possa abordar a visita a Gelsenkirchen sob um cenário de apuramento garantido. Se o Sporting vencer o Maribor - o que não é um dado adquirido, note-se - disputará o apuramento na última jornada e terá cumprido o essencial das expectativas relativamente a esta competição, onde foi vitima de dois episódios atípicos nos minutos finais de duas partidas e que acabaram por condicionar muito as suas aspirações relativamente ao apuramento.

Quanto ao jogo, foi mais um festival de golos entre estas duas equipas, mas devo também assinalar que nestes dois duelos entre Sporting e Schalke, o número de golos tem mais que ver com a elevada eficácia das equipas do que com uma quantidade desproporcionada de ocasiões desfrutadas. Em especial relativamente ao jogo de Gelsenkirschen, já que este teve um número superior de ocasiões para ambos os lados. De facto, e sem pôr aqui em causa o mérito que o Sporting teve na vitória que conseguiu, ficaram mais uma vez patentes as dificuldades de controlo defensivo da equipa. Há vários pontos que no meu entender justificam revisão no comportamento colectivo, mas destacaria o que se passou na etapa final do jogo, em particular após 2-1. O Sporting baixou declaradamente a sua linha média, protegendo-se mais no espaço entre sectores, mas nem por isso deixou de ser sucessivamente exposto pelas ofensivas alemãs, que de forma algo repetitiva foram encontrando espaços no último reduto do Sporting. A jogada que caracterizou este período foi a abertura larga, do meio para as costas dos laterais do Sporting, potenciando depois os espaços dentro da linha defensiva do Sporting - em particular entre lateral e central - com movimentos de jogadores alemães vindos de trás e quase sempre sem controlo por parte da linha média. Foi assim que o Schalke marcou o segundo golo, e foi assim também que potenciou outras situações de cruzamento algo perigosas. Sobre isto, duas notas. A primeira tem a ver com a preparação estratégica do Sporting, já que esta forma de atacar foi tão repetitiva que sugere ser recorrente no jogo do Schalke e, logo, possivelmente deveria ter havido uma resposta específica por parte do Sporting (sublinho que não conheço a equipa ao ponto de poder a afirmar que era, de facto, antecipável, mas ficou toda a ideia de que se tratou de um movimento recorrente, pela frequência com que foi tentado). A segunda tem a ver com a má relação intersectorial do bloco defensivo do Sporting, isto é com a capacidade da linha média reagir quando a bola entra no espaço da última linha, nomeadamente com movimentos de jogadores vindos de trás, e por isso criando superioridade nesse espaço.

A título individual, nota para dois casos. Primeiro, o de Jefferson que tal como já havia escrito me parece realmente uma solução superior a Jonathan. O argentino, e ao contrário do que vi ser sugerido, não me parece garantir maior segurança defensiva do que Jefferson, e não oferece de forma alguma o mesmo potencial de execução técnica do brasileiro. Nomeadamente, ao nível das bolas paradas, isso poderá fazer alguma diferença, não tendo o Sporting outro canhoto com a mesma qualidade de execução. A segunda nota vai para Slimani e para o último golo, que poupou boa parte da aceleração cardíaca que se antecipava para os últimos minutos. Normalmente, os treinadores têm tendência para substituir os avançados, quase que por defeito, em algum período da segunda parte. Marco Silva não o fez, e a meu ver muito bem, já que duvido que Montero tivesse a mesma capacidade para atacar o espaço com aquela profundidade. Montero terá mais qualidade técnica, não discuto, mas não se envolve no jogo com a mesma frequência do argelino, que ganha ainda mais vantagem neste confronto quando o jogo oferece espaços para atacar, como foi o caso dos minutos finais. Já o referi, e volto a sublinhar, Slimani parece-me um valor indiscutível e do qual o Sporting poderá vir a retirar muitos proveitos (desportivos, não me entendam mal), e vejo como uma óptima notícia que Marco Silva também pense da mesma maneira.

Ath Bilbao - Porto
Poderia usar um dos habituais "clichés" para este tipo de exibição, do tipo "equipa adulta" ou "exibição personalizada", mas vou tentar ser mais concreto na minha apreciação ao jogo e à performance da equipa de Lopetegui. Assim, sobretudo, esta foi uma exibição muito conseguida do ponto de vista defensivo, não apenas pelo número reduzido de ocasiões consentidas, mas sobretudo pela escassez com que o Bilbao foi autorizado a ameaçar a última linha portista, num registo semelhante ao que tipicamente se encontra num vulgar jogo no Dragão, para o campeonato (por exemplo, o Nacional foi neste aspecto bem mais ameaçador no Dragão do que o Athletic, em Bilbao). E isto sem que a equipa o tivesse feito através de uma grande presença com bola, o que por um lado é negativo porque obviamente seria melhor que o tivesse conseguido, mas que vem também realçar a qualidade do desempenho defensivo, já que é bem mais complicado neutralizar desta forma um adversário quando não se tem uma grande superioridade em termos de presença em posse. E, com isto faço também um elogio ao treinador, já que se tendo Brahimi ou Jackson se pode pensar sempre em fazer golos, cabe ao treinador garantir que a equipa tenha também a organização para poder capitalizar esse talento individual e não desperdiça-lo com sobressaltos e golos sofridos do outro lado do campo. Assim, e com esta capacidade defensiva, o Porto será sempre uma equipa muito complicada de ultrapassar, seja qual for o adversário.

Menos positiva parece-me ser a exibição do ponto de vista ofensivo, com o Porto também a não conseguir uma grande eloquência da sua posse, isto apesar de ter criado um número considerável de ocasiões, o que não resultou tanto da frequência com que ameaçou o último reduto do Bilbao, como seria desejável, mas mais por um bom aproveitament circunstancial de lances de bola parada e rasgos individuais. A este respeito, nota para a estratégia da equipa, claramente avessa a assumir grandes riscos na sua circulação baixa, e perante um adversário que previsivelmente seria muito agressivo na pressão mais alta. Lopetegui, possivelmente escaldado depois de tantos erros a tentar sair de forma apoiada, preferiu chamar os bascos e depois solicitar a qualidade de Jackson, actuando como "pivot", nas costas dos médios contrários. A equipa deu-se bem e não estou a questionar esta opção perante as dificuldades recentemente verificadas, mas se defensivamente a equipa deu um excelente sinal, parece continuar a haver algum trabalho a realizar no que diz respeito ao jogo interior.

Como notas individuais, realço dois casos. Primeiro, Casemiro. Têm sido frequentes os reparos à agressividade do jogador, mas eu pessoalmente não vejo nenhum problema nisso. Pelo contrário, porque se para quem ataca é muito importante conseguir enquadrar em linhas mais adiantadas, para quem defende é fundamental evitar que isso aconteça e para isso torna-se decisiva a capacidade de imposição dos defesas e médios defensivos nos duelos que travam. Desde que essa agressividade seja usada com critério, será sempre benéfica para as aspirações da equipa, mesmo que custe alguns amarelos ao jogador (se existem 3 substituições, será também para este tipo de situações e não, digo eu, para trocar extremo por extremo ou avançado por avançado!). Ou seja, Casemiro parece-me bastante bem defensivamente, e precisamente pela agressividade e capacidade de intervenção que tem revelado no espaço que se pede que controle. Menos positivo, por outro lado, é o seu contributo para a posse da equipa, parecendo-me um jogador muito inseguro ao nível do passe, e tendo muita dificuldade em jogar dentro do bloco contrário. Ora, isto não vem facilitar em nada a missão de Lopetegui, que provavelmente terá de equacionar cada vez mais a hipótese de baixar Casemiro para a primeira linha, na fase de construção, e trabalhar outras alternativas para a sua saída de bola. O outro caso que gostaria de abordar é do Quintero. O colombiano tinha conquistado a titularidade nos últimos jogos, e tinha a curiosidade de perceber se Lopetegui manteria essa opção para este jogo, o que previsivelmente não aconteceu. Ou seja, Lopetegui parece estar de acordo com a minha perspectiva de que Quintero oferece um potencial enorme ao jogo ofensivo da equipa, mas não terá ainda conseguido integrar essa mais valia ao ponto de lhe fazer confiança em todo e qualquer jogo. Esse continua a ser, na minha opinião, um dos maiores e mais valiosos desafios que o treinador tem pela frente.

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