Sporting - V.Setúbal
Se frente ao Maribor o Sporting havia tido uma exibição de grande superioridade, imposta tanto no plano defensivo como ofensivo, frente ao Vitória esse registo ainda foi mais acentuado. Aliás, a comparação desses dois jogos dará também mais um bom exemplo de como no futebol o marcador está longe de ter uma correspondência lógica e directa com aquilo que as equipas fazem em campo. Frente ao Maribor, o Sporting fez 3 golos em pouco mais de um hora de jogo, mas desperdiçou depois a hipótese da goleada na fase onde lhe foi mais fácil criar ocasiões. Frente ao Vitória, e em sentido inverso, foi no arranque do jogo que o Sporting foi mais forte e acumulou mais ocasiões claras para marcar, mas foi na fase em que o seu futebol foi menos expressivo que o resultado se definiu. Evidentemente que é mais provável marcar-se nos períodos em que se fica mais próximo do golo, mas no futebol a aleatoriedade tem papel muito relevante, jogo a jogo.
No Sporting, nota para a opção pela utilização simultânea de Montero e Slimani. Esta é uma solução sobre a qual já havia escrito fazer sentido, sobretudo antes do aparecimento de João Mário entre as principais opções. E fará sentido, porque é relevante ter jogadores com boa capacidade de movimentação no último terço e que se tornem mais dificeis de controlar nas zonas mais próximas da baliza. Aqui, porém, há que ressalvar que Montero não tem, nem a capacidade de envolvimento de João Mário nas fases mais precoces do jogo ofensivo da equipa (basta comparar o grau de participação de ambos), nem tão pouco tem a mesma eficácia nas suas presenças em posse (basta comparar a % de perdas de bola de ambos), destacando-se aqui o seu perfil de decisão que é pouco ajustado a um envolvimento nas primeiras fases do jogo ofensivo da equipa, podendo acrescentar bastante risco ao equilíbrio posicional da equipa. Ou seja, diria que a inclusão de Montero neste registo faz sentido, mas provavelmente apenas em jogos onde o Sporting consiga resolver sem dificuldades de maior o problema da primeira fase de construção, como foi o caso deste jogo.
Uma nota sobre o Setúbal que repetiu nova exibição de grande incapacidade, depois de o ter feito também frente ao Benfica. A subida da linha defensiva tem como pressuposto lógico o encurtamento de espaços por forma a conseguir maior capacidade de pressão no espaço interior, mas no caso do Setúbal isso não acontece e, como tal, a subida da linha defensiva resulta apenas numa transferência de risco de exposição, do espaço entrelinhas para as costas da defesa, o que aumenta obviamente as possibilidades de sofrer dissabores. Se Domingos não corrigir alguns aspectos desta equipa, dificilmente se salvará de um campeonato que, na melhor das hipóteses, será sofrível.
Académica - Benfica
Este jogo marca o inicio do resto da época do Benfica, depois da eliminação europeia. Para já, pode dizer-se que a resposta foi positiva, num jogo que não foi brilhante mas que foi bem conseguido do ponto de vista do controlo defensivo, ajudando muito a eficácia que a equipa conseguiu nas primeiras ocasiões de golo criadas, o que lhe permitiu rapidamente a possibilidade de gerir o jogo. Olhando retrospectivamente para o ciclo do Benfica sob o comando de Jesus, vemos que as suas equipas se deram quase sempre muito bem quando não tiveram de dividir atenções entre campeonato e europa, e se esse dado não servirá para garantir seja o que for, serve pelo menos de indicio para a expectativa que podemos formar em relação à resposta que o Benfica virá a dar nas competições que lhe restam disputar esta temporada.
Uma nota sobre a aposta na dupla Jonas-Talisca. Se quanto a Jonas creio que não restam dúvidas a praticamente ninguém, já relativamente a Talisca eu mantenho as minhas reticências. Aliás, diria que Lima e Talisca tiveram arranques de temporada radicalmente diferentes. Isto é, enquanto que Talisca teve um aproveitamento pleno das ocasiões de que desfrutou, Lima teve uma eficácia muito baixa, mas isso não quer dizer que Lima tenha contribuído menos do que Talisca para os desequilíbrios que a equipa criou, antes pelo contrário de acordo com algumas análises que já partilhei. Neste sentido, o facto de Talisca ter marcado mais do que Lima não implica que Talisca tenha maior probabilidade de marcar do que Lima, sendo que me parece que entre os dois é Lima que mais condições tem para fazer uma boa parceria com Jonas, já que sendo um jogador de maior profundidade pode libertar Jonas para um papel mais móvel, que manifestamente me parece assentar-lhe melhor.
Porto - Rio Ave
Se acima escrevi que o futebol pode ser muitas vezes pouco lógico na forma como o resultado se define, este é mais um jogo a servir de exemplo para essa ideia. Isto, porque estou de acordo com a ideia de Lopetegui, de que foi na primeira parte que a equipa melhor esteve, mesmo se a diferença entre o resultado das duas metades não podia sugerir de forma mais clara a ideia contrária. De facto, parece-me que o Porto teve uma boa entrada em jogo, criando bastantes problemas ao Rio Ave, e que acabou por fazer uns 25-30 minutos sofríveis na segunda parte, onde teve essencialmente a felicidade que não havia tido nos primeiros minutos.
Duas notas sobre a exibição portista. Primeiro, para voltar a referir-me ao controlo defensivo da equipa, que não passou por um número muito grande de sobressaltos, é verdade, mas que permitiu que o Rio Ave chegasse com uma assinalável regularidade até ao último terço, algo que já havia acontecido na recepção ao Nacional, e que estranhamente contrasta com o registo bem mais seguro que a equipa teve nos últimos dois jogos europeus. Um dado atípico e que importa continuar a acompanhar. A segunda nota vai para o regresso de Quintero às segundas opções, o que volta a retirar ao Porto grande parte da capacidade de extrair qualquer coisa do seu jogo interior. Isto porque, e como já escrevi, continua a não me parecer haver grande foco colectivo para a exploração dessa via, sendo Quintero provavelmente a melhor forma de individualmente ajudar a colmatar essa lacuna. Aliás, como se viu na maravilhosa assistência que realizou. Uma nota também para o Rio Ave, que fez um jogo bastante competente em vários aspectos, mas que acabou penalizado por perdas de bola em zona de construção, com 3 dos 5 golos a ter como ponto de partida esse problema. Pode-se ter equipas boas nos mais variadissimos aspectos, mas na minha opinião não dá para construir uma equipa fiável sem garantir segurança a este nível.