Abaixo, deixo os meus comentários pessoais sobre os 20 jogadores de campo que iniciaram o jogo da Supertaça. Não me vou alongar muito sobre os aspectos colectivos da partida, ficando-me a ideia de que o Sporting se mostrou bastante mais competente do que o Benfica naquilo que ambas as equipas apresentaram, parecendo-me esta conclusão indissociável com o duplo-efeito que a mudança de Jesus representava para este jogo específico. Duplo-efeito, porque se o treinador é uma mais-valia, essa vantagem foi, por um lado, subtraída ao Benfica, e por outro, adicionada ao Sporting. Ainda assim, o jogo não foi de todo desequilibrado, e o desfecho do mesmo está muito longe de ter sido a fatalidade que a generalidade das análises pós-jogo parecem sugerir.
Sobre a análise individual, nota para o facto de eu não ter acompanhado a pré época dos dois clubes, estando as minhas considerações apenas centradas naquilo que pude ver neste jogo. Outra nota para o facto de não apresentar dados estatísticos a acompanhar a análise, como é meu hábito, o que tem a ver com o facto de estar a desenvolver um novo modelo de avaliação, não tendo este ainda a solidez que pretendo para que o possa apresentar sem gerar confusão a quem lê. Ainda assim, as minhas considerações têm como referência os dados recolhidos no jogo.
Benfica
Nélson Semedo - Se à partida este já não seria um jogo fácil para a estreia, as circunstâncias ainda tornaram as coisas mais complicadas. Em particular, o elevado número de solicitações a que foi sujeito. Como ponto positivo, a capacidade de projecção ofensiva, com alguns contributos importantes para o colectivo. Em sentido inverso, dificuldades em vários planos. Defensivamente, e apesar de ter saído por cima em vários duelos, esteve longe de conseguir impedir várias descidas do Sporting pelo seu corredor. Com bola, também não teve a consistência que certamente o Benfica idealizará para o titular da posição. A meu ver o balanço não é positivo, mas tem algumas atenuantes a seu favor, como são os casos da juventude e do grau de dificuldade do adversário.
Sílvio - Um jogo bastante mais discreto do que o de Nélson Semedo, mas na minha perspectiva não necessariamente melhor. Aliás, as diferenças de estilo são tão grandes que é difícil comparar. Ofensivamente, sem qualquer utilidade para a equipa no último terço, não passando ao lado das dificuldades que o Sporting colocou à fase de construção. Defensivamente, creio que terá sido mais vitima do que réu nas jogadas que o Sporting protagonizou pelo seu corredor, mas nem por isso o seu jogo foi especialmente positivo a esse respeito. A meu ver, o Benfica estaria melhor com um lateral que, ofensivamente, tivesse mais para oferecer ao seu lado esquerdo.
Jardel - A minha ideia é a de que Jardel poderá ser dos jogadores que mais poderá vir a sofrer com a saída de Jesus. O tempo ainda é curto para conclusões definitivas, evidentemente, mas o primeiro jogo oficial não lhe foi de todo favorável. Em especial, sobressaíram as suas dificuldades na construção, o que teve repercussões não apenas na fluidez de jogo, mas também na segurança defensiva da própria equipa, porque as suas perdas podem ser bastante comprometedoras. Defensivamente, esteve longe de conseguir o protagonismo de Lisandro, tendo como ponto mais positivo uma intervenção determinante.
Lisandro - Talvez a única boa notícia para o Benfica no jogo. Um número muito elevado de duelos ganhos no jogo, e um controlo muito positivo da sua zona. Com bola, também foi dos que menos problemas sentiu com a pressão do Sporting. Fica a dúvida em torno do motivo de tão pouca aposta da parte de Jesus no passado, e a resposta pode passar pelo menos em parte pelo comportamento posicional na última linha, onde não esteve tão bem como noutros planos. Independentemente de tudo, parece muito provável que um lugar no onze venha a ser seu em 15/16.
Fejsa - Jogo regular, nos mais variados planos, vindo ao de cima a sua capacidade para se impor nos duelos na sua zona. Ponto menos positivo uma perda de bola comprometedora. No meio de tantas dúvidas, e o problema das lesões à parte, parece-me um valor seguro para a sua posição específica.
Samaris - Jogo globalmente modesto, sobretudo na presença em posse onde ofereceu pouco à equipa, não sendo solução para a fazer sair da teia montada pelo Sporting. Não será caso para sobrevalorizar a sua responsabilidade individual, num jogo onde o contexto colectivo era tão complicado, mas também dificilmente se poderá pensar que em Samaris possa estar uma mais valia significativa para uma função tão nuclear.
Gaitan - Não deixando de ser uma exibição bem abaixo daquilo que tem para oferecer, a verdade é que terá sido o mais consistente depois de Lisandro, algo que não se estranha em face da sua qualidade. Se sair, como se diz ser provável, os problemas do Benfica 15/16 poderão ser ainda maiores...
Ola John - Foi o jogador que mais vezes levou a equipa para situações de algum potencial ofensivo. E isto, mesmo não sendo feito com a melhor das consistências deveria ter sido mais valorizado, não me parecendo fazer muito sentido a sua substituição no contexto em que o jogo se encontrava. Ola John tem um conjunto de problemas que dificilmente alguma vez o permitirão ser um jogador completo. Tem uma intensidade defensiva baixa e um jogo igualmente limitado no que à movimentação sem bola diz respeito. Mas tem também uma capacidade de desequilíbrio com bola que dificilmente Rui Vitória poderá encontrar em muitos mais jogadores do seu plantel. Caberá ao treinador pesar os prós e contras, mas a ideia que fica deste jogo é que poderá não ser fácil prescindir daquilo que o holandês tem para oferecer.
Talisca - Jogo assustadoramente fraco para um jogador que actua naquela posição, não oferecendo quase nada à equipa no plano ofensivo. E aqui o "quase" é aplicado para salvaguardar a sua utilidade nas primeiras bolas, onde venceu vários duelos na sequência das reposições longas de Júlio César. Já foi chamado à selecção brasileira e o próprio Jesus lhe projectou uma ascensão para patamares ainda mais elevados, mas a repetir exibições como esta ser-lhe-á muito complicado manter-se entre as primeiras opções do Benfica actual.
Jonas - Qualquer individualidade depende do colectivo, e Jonas não é excepção. Em termos mediáticos, Jonas terá sido uma das principais decepções do jogo, em grande parte pela imagem que deixou na temporada passada, mas a meu ver voltou a ser dos elementos mais úteis para o colectivo, num contexto que não lhe foi de todo favorável. Nomeadamente, conseguiu com bastante frequência auxiliar a equipa a chegar em boas condições ao último terço adversário, por exemplo em completo contraste com aquilo que fez Talisca. Depois, poderia também ter mudado o rumo do jogo. Primeiro, poderia ter feito melhor na resposta ao cruzamento de Ola John, depois também não foi eficaz na sequência de um pontapé de canto de Gaitan, onde me parecer justificar mais crédito pela forma como leu correctamente a trajectória da bola. Colocar o foco dos problemas do Benfica em Jonas será, a meu ver, um erro tremendo.
Sporting
João Pereira - Ofereceu boa dinâmica ao seu corredor, estando bem melhor no envolvimento do que propriamente na execução final das jogadas. Algo que não é novo. Defensivamente, não evitou alguns problemas no seu corredor.
Jefferson - Jogo de grande sobrecarga, tanto no plano ofensivo como defensivo. Claramente, a sua grande mais-valia é a capacidade com que aborda o último terço, e mais uma vez se fez valer no jogo por essa via, com vários cruzamentos perigosos, com destaque para aquele em que Teo não conseguiu emendar na frente de Júlio César. Depois, bem mais inconsistente nos restantes planos. Com bola, nem sempre deu a melhor sequência em fases mais precoces do jogo. Defensivamente, algumas abordagens questionáveis e a meu ver algo comprometedoras, apesar de ter vencido também vários duelos. A verdade é que, tudo somado, os seus cruzamentos acabam por compensar bem algumas lacunas que apresenta.
Paulo Oliveira - Uma exibição praticamente perfeita do ponto de vista defensivo. Com bola, sem grandes problemas. O mais provável é que ganhe muito com a chegada de Jesus ao clube.
Naldo - Um jogo positivo, mas longe da eficácia que conseguiu Paulo Oliveira. Não o conheço bem, mas parece-me óbvio que é completamente diferente para um central estar no Sporting em 14/15 ou em 15/16, e Naldo tem todas as condições para ganhar bastante com isso.
Adrien - Nesta nova posição, foi dos jogadores que menos me impressionou, ainda que tenha feito um jogo regular. Com bola, regular e a oferecer boa fluidez, apesar de uma perda mais comprometedora a assinalar. Os seus maiores problemas, porém, vêm das dificuldades que sentiu na respostas às primeiras bolas aéreas, em especial enquanto Talisca se manteve em campo. Na minha leitura, dificilmente terá as características que Jesus idealiza para esta posição, precisamente pelas limitações no jogo aéreo, e se assim for não lhe será nada fácil manter o estatuto de titular ao longo da temporada.
João Mário - Um jogo de muito boa efectividade, que não terá passado despercebido a ninguém. Bem em todos os planos, auxiliando com segurança a equipa nas fases mais precoces da construção e sendo também dos que mais contribuiu para as chegadas da equipa às derradeiras zonas do terreno. Defensivamente, também importante o seu papel, com vários duelos ganhos e um posicionamento nuclear para as aspirações da equipa. Terá de dar provas da sua consistência nesta posição, e em jogos de características diferentes, mas se o fizer não vai ser fácil tirar-lhe o lugar.
Carrillo - Não pelo golo, mas justifica, a meu ver claramente, o estatuto de melhor em campo. Foi, com bastante distância, o jogador cujas acções mais contribuíram para a chegada da equipa em boas condições às derradeiras fases do processo ofensivo, conseguindo também dar o seu contributo de forma bastante útil nos vários duelos que se travaram na zona média. Destaque para o seu posicionamento mais interior, com bola, que colocou bastantes problemas de ajustamento posicional à linha média do Benfica, para além, claro, da sua capacidade de desequilíbrio individual. Caso se mantenha em Alvalade, será com toda a probabilidade uma figura central do Sporting 15/16.
Bryan Ruiz - Longe, como todos, da utilidade que emprestou Carrillo à fase criativa, mas esteve também na linha dos que mais ofereceram à equipa, o que se exige na posição em que ocupa. Ainda assim não foi um jogo impressionante ou perto do potencial que, creio, tem para oferecer. Destaque para os seus movimentos de rotura, uma característica que pode ser importante no equilíbrio colectivo, já que compensa a pouca propensão de Carrillo para esse tipo de acção.
Teo Gutierrez - A meu ver é o principal problema que Jesus tem pela frente nesta altura. Teo ofereceu muito pouco ao jogo colectivo da equipa, e muito menos do que aquilo que se esperaria de um jogador da sua posição. Não basta baixar no terreno para trocar a bola com os médios, se dessas acções não resultar nada em termos de ligação efectiva do jogo. Não tenho muitas dúvidas sobre a qualidade do colombiano enquanto finalizador, mas o mesmo não posso dizer da sua capacidade para o jogo de envolvimento, e é muito possível que Teo venha a ser uma aposta falhada nesse propósito.
Slimani - Não podia contrastar mais com o caso de Teo. Pode ser surpreendente tendo conta o perfil do jogador, mas a verdade é que Slimani revela uma utilidade enorme para o jogo colectivo da equipa, valendo muito mais do que a ideia estereotipada que lhe é associada, de "jogador de área". Move-se com bastante propósito, identificando bem as oportunidades de atacar as costas da última linha e tirando partido da sua capacidade de choque, para dar continuidade a jogadas que os centrais estão habituados a dominar. E isso, neste jogo, valeu várias jogadas de elevado potencial à equipa, em que Slimani foi protagonista, e raramente como finalizador. Não será o jogador esteticamente mais agradável de ver jogar, e continuará certamente a ser vitima do tal estereotipo que lhe está associado, mas quanto à utilidade e efectividade do seu contributo, pelo menos a mim, não me restam dúvidas. Outro jogador que promete muito para 15/16 e do qual as aspirações da equipa provavelmente dependerão bastante.