2.9.14

Benfica - Sporting (I): performance colectiva

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Sendo objectivo, dos 3 clássicos que Benfica e Sporting haviam disputado na última temporada, apenas 1 não foi, no essencial, equilibrado. Ainda assim, e correndo o risco de ser impreciso nesta perspectiva de análise, não vou resistir à tentação de centrar o termo de comparação com o último desses jogos, que terminou com a confortável vitória do Benfica, por 2-0. Deste ponto de vista, será um sinal claramente mais positivo para o Sporting que, para além do resultado, a equipa também tenha sido capaz de se equivaler ao seu rival na generalidade dos restantes indicadores do jogo. Isto, claro, atendendo aos objectivos de ambas as equipas para 14/15, com o Benfica a desejar manter a margem qualitativa para os rivais, e o Sporting ambicionando precisamente o encurtamento dessa distância. A pergunta fundamental, seguindo esta perspectiva de análise comparativa é, obviamente, quais os motivos para o restabelecimento deste equilíbrio entre as duas equipas, tão distante do cenário que tivemos em fevereiro último?

Trivialmente, surgem-me 3 hipóteses de resposta: 1) o retrocesso qualitativo do Benfica; 2) a melhoria qualitativa do Sporting; e, claro, 3) a própria circunstância do jogo. Em meu entender, o mais provável é que a verdade acabe por combinar um pouco dos 3 factores, sendo o terceiro particularmente relevante numa base de análise tão curta como são 90 minutos de futebol, mas é claramente nos primeiros dois factores que reside a maior quota parte de interesse. Assim, dos dois diria que dou bastante mais crédito à hipótese de um Benfica hoje menos capaz, do que propriamente à tese de um Sporting substancialmente mais forte. Sem qualquer surpresa, de resto, já que duvido que haja muita gente a ter uma leitura diferente...

Benfica
Na verdade, e tendo em conta o que havia escrito na semana anterior, já esperava um Benfica bem menos autoritário do que aquele que recebera o seu rival há pouco mais de meio ano. Na exibição do Benfica, há 3 pontos que claramente destacaria. O primeiro, claro, é Artur, que teve um peso decisivo no jogo, pelo erro que cometeu no golo do empate. Se há época que serve para enfatizar a importância que pode ter um guarda-redes nas aspirações de uma equipa, é precisamente a do Benfica em 13/14. Não sabemos ainda o que oferecerá Júlio César, mas sabiamos o risco que representava ter Artur num jogo destes. E Jesus também sabia! O segundo ponto foi aquele que abordei na tal breve antevisão que fiz, e tem a ver com a fase de construção do Benfica. Nomeadamente, perdendo Garay na primeira linha, o Benfica passa naturalmente a sentir mais dificuldades para sair de forma útil a partir de trás, e por aqui passa grande parte da explicação da equipa não ter conseguido impor-se pela posse e presença territorial, como sucedeu no último derbi. Neste Benfica, e para já, a importância de Enzo Perez não fica apenas enfatizada, mas acaba por se tornar também num factor mais óbvio e menos complicado de anular por parte dos adversários, porque o Benfica tem menos vias por onde sair. Finalmente, os avançados, e a ausência de Rodrigo, cuja importância venho sublinhando há muito. A saída do espanhol tem como implicação mais óbvia a diminuição de capacidade de desequilíbrio no último terço, mas estende-se também até ao ponto anterior, e que tem a ver com a ligação de jogo da equipa, já que Rodrigo era uma presença muito mais solícita e confortável no espaço entrelinhas do que Talisca, o que ajudava a equipa a progredir para zonas mais adiantadas do terreno. Hoje, e por este motivo, a equipa parece-me depender mais das aparições interiores de Gaitan, ou da capacidade de envolvimento de Lima. Com tudo isto, o Benfica não parece ter nesta altura o mesmo potencial que apresentava na segunda metade da época passada, não sendo difícil perspectivar algumas dificuldades no ciclo que se iniciará após a primeira paragem no campeonato. Aqui, as oportunidades são a mais valia que se espera de Julio César, e a capacidade de Jesus para fazer evoluir a equipa ao longo da temporada, como quase sempre aconteceu. As ameaças, por outro lado, são a maior dependência qualitativa de algumas unidades nucleares, as dificuldades clássicas da equipa em ciclos competitivos que combinam campeonato e Champions e, já agora, a hipótese dos rivais (em particular, o Porto) oferecerem pouca margem de erro na disputa interna.

Sporting
Para o Sporting, e como escrevi, para além do bom resultado que é em teoria representa um empate no terreno de um rival, fica também a ideia de que a equipa foi capaz de dividir o jogo, o que nas últimas temporadas acontecera poucas vezes, tanto nas deslocações à Luz como ao Dragão. Um bom indício, portanto! Entre os pontos positivos e negativos, na exibição da equipa, destacaria a sua capacidade de desequilíbrio, por um lado, mas também alguma vulnerabilidade, por outro. Em concreto, é preciso não ignorar a ajuda decisiva que ofereceu a intranquilidade de Artur, mas do derbi sai também reforçada a ideia de que com Carrillo, Nani e Slimani, a equipa poderá vir a ter outra sua capacidade de desequilíbrio no último terço de campo. Lá atrás, e em sentido oposto, o destaque vai para a série de sobressaltos sentidos na segunda parte, e em especial entre os minutos 60 e 65. Aqui, importa perceber o contexto desses desequilíbrios, e que quase todos foram conseguidos em situações de transição, tendo como ponto de partida perdas de bola ou dificuldades na construção. Ou seja, mais do que por problemas de resposta defensiva, a permeabilidade defensiva do Sporting no jogo derivou da sua própria incapacidade para ter bola com mais qualidade e segurança. E, aqui, parto para nova divisão, entre aspectos positivos e negativos na exibição do leão. Pela positiva, o encurtamento de espaços entre sectores, e o pressing da equipa, o que também contribuiu para anular o tal domínio que o Benfica tivera na versão 13/14 do derbi da Luz. Pela negativa, a própria dificuldade de construção e presença em posse do Sporting, acabando por não conseguir corrigir colectivamente a fragilidade específica dos seus centrais para a saída de bola e, num segundo momento, canalizando mesmo essas responsabilidades para as reposições de Rui Patrício, de onde o Benfica também conseguiu partir para algumas situações de ataque rápido de elevado potencial. Este foi, também, um aspecto que já abordara na antevisão, e a verdade é que a resposta dos médios do Sporting acabou por ser bastante fraca (para o nível que a equipa se propõe, entenda-se), com pouco auxílio à primeira linha de construção, ou capacidade de envolvimento num segundo momento de construção. Esta é uma leitura que é sustentada de forma bastante evidente pela estatística individual do jogo (que publicarei amanhã), e que volta a colocar algumas dúvidas sobre a capacidade de imposição com bola dos médios do Sporting, que já nos clássicos da época passada haviam sentido bastantes dificuldades nesse ponto específico. O meio campo é quase sempre tido como o ponto forte da equipa, mas eu volto a repetir algumas reticências sobre a resposta individual de alguns dos protagonistas, sobretudo quando comparamos com o que se vai vendo nos rivais. Mas, sobre isso, reservo mais comentários para a análise individual...

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