19.8.14

Sporting: notas do empate em Coimbra

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A importância de um golo - No cômputo geral, creio que a exibição do Sporting foi positiva, dentro das expectativas, e que a equipa acabou por potenciar bastante as suas hipóteses de sair de Coimbra com os 3 pontos. A excepção, claro, é o período em que a equipa se viu reduzida a 10 jogadores. No futebol, porém, um golo pode fazer toda a diferença, e parece-me que o pontapé de Rafael Lopes teve, não só, o condão de retirar 2 pontos ao Sporting, como de alterar boa parte dos estados de ânimo em redor da equipa. É curioso fazer o paralelismo com a época anterior, porque na minha análise - e como fui escrevendo - o sucesso conseguido foi sendo muitas vezes alicerçado na sua capacidade de resgatar triunfos tangenciais em jogos essencialmente equilibrados. A tendência é sempre para se ver tudo isto com uma grande dose de fatalismo, mas porque não sou capaz de encontrar grandes explicações para o fenómeno, diria apenas que Marco Silva não teve, para já, a sorte que tantas vezes acompanhou o seu predecessor. Ainda assim, deixo algumas notas de opinião sobre a exibição do Sporting, infelizmente sem tempo para acrescentar outros suportes que as fundamentem...

Sarr, os centrais e o envolvimento dos médios - Com a saída de Rojo, abre-se a questão sobre quem será o seu substituto ao lado de Maurício. A primeira aposta parece ser em Sarr, e por isso começo por ele. Estou francamente mal impressionado com as suas primeiras indicações, e apenas o pouco tempo de análise me inibe de ser mais convicto na ideia de que dificilmente manterá por muito tempo o estatuto de titular. As limitações do seu contributo com bola são mais óbvias, mas também ao nível sua presença defensiva, tem deixado muito a desejar. Mais até do que em questões posicionais, destacaria a sua dificuldade de imposição nos duelos em que tem sido obrigado a travar com os avançados contrários. Há sempre a tendência para se ligar essa capacidade à imponência física, mas como revelam tantos e tantos exemplos, a vertente atlética está muito longe de explicar tudo no que respeita à capacidade de imposição nos duelos directos. Faltará, portanto e na minha perspectiva, ainda a Marco Silva encontrar um parceiro para Maurício, mas dificilmente o Sporting terá uma dupla de centrais muito forte do ponto de vista técnico. Ora, isso não é a meu ver necessariamente um grande contratempo e vai até de encontro às ideias de Marco Silva que, ao aproximar mais os médios da primeira linha no inicio de construção, retira responsabilidades aos centrais, entregando-as aos seus médios. Relativamente aos centrais, muito mais importante do que qualidade técnica é a questão do critério, de forma a garantir segurança e fluidez. É aqui, por exemplo, que surge a minha critica em relação a Sarr, porque uma coisa é não ter grande capacidade para progredir com bola ou fazer lançamentos longos, outra é repetir passes denunciados para a zona central, que põem em causa tanto a fluídez como a segurança da equipa. A este respeito, o envolvimento dos médios numa fase mais precoce é uma boa solução, uma vez que são jogadores com maior capacidade de presença em posse e acabam por criar muito mais dificuldades ao pressing contrário, que de outra forma teria boas hipóteses para ter sucesso. Na primeira parte do jogo de Coimbra, e perante uma Académica que tentou sempre condicionar o inicio de construção, o Sporting acabou por retirar partido do envolvimento precoce de Adrien e William, conseguindo potenciar várias vezes os espaços dentro do bloco contrário.

Duplo-pivot, com bola, bom para Adrien, não tanto para William - Já tinha escrito sobre isto, e de Coimbra sai reforçada a ideia de que, com Marco Silva, William poderá ter um enquadramento menos favorável às suas características. Aqui, claro, estou-me a referir às acções com bola. A diferença é que, com Jardim, William mantinha um papel essencialmente posicional, nas costas dos dois médios, havendo uma simetria de comportamentos entre Adrien e Martins (com bola, reforço). Nesta versão, a simetria passa a existir na linha mais recuada, entre Adrien e William, pedindo-se aos dois maior amplitude no seu envolvimento. Ora, se Adrien me parece ganhar com esta alteração, por ser um jogador com boa capacidade para oferecer dinâmica, com e sem bola, já William tem características eminentemente posicionais, sendo muito forte como apoio recuado à circulação, mas marcadamente menos vocacionado estender a sua presença a uma área maior de terreno.

Montero, e o contexto  - De novo, e tal como na pré época, ficou-me a ideia de que Montero não tem as características ideias para o tipo de desequilíbrios que a equipa vem criando. Em Coimbra, quase todos os desequilíbrios conseguidos foram marcados por chegadas rápidas à zona de finalização, quase sempre com cruzamentos a tentar aproveitar o desposicionamento momentâneo da defensiva contrária. Mais uma vez, fica-me a ideia clara de que Montero não é de todo o jogador ideal para este tipo de situação, e que por isso algumas situações de elevado potencial não terão tido a finalização ideal. Montero é, essencialmente e na minha leitura, um jogador muito difícil de contrariar em situações de apoio, em espaços curtos, mas raramente a equipa tem sido capaz de o solicitar nesse contexto. É claro que se pode, aqui, ter uma perspectiva inversa, e pedir que seja a equipa que vá de encontro às características do seu avançado. Mas, até certo ponto, será um pouco como a história de Maomé e a montanha. Pode-se pedir a Deus que faça com que a montanha venha até nós, mas o mais provável é mesmo que acabemos por ser nós a ter de ir até à montanha...

Gestão do jogo - Como quem me lê saberá, sou um pouco céptico em relação à forma algo mecânica (e pouco específica, portanto) como a generalidade dos treinadores gerem os jogos, relativamente às substituições. Neste caso, e na minha leitura, Marco Silva poderá ter sido algo prejudicado por esse hábito. Em concreto, a troca de Heldon por Capel não me parece ter sido fundamental, com 30 minutos por jogar, e uma substituição já forçada, pela lesão de Cedric. A expulsão de William veio trazer uma outro tipo de urgências, em particular reforçando a necessidade de ter jogadores menos desgastados em certas posições mais exigentes do ponto de vista físico. Em particular, parece-me que nessa fase a equipa teria beneficiado em ter contado com um jogador mais fresco na frente, já que foi precisamente essa posição que acabou por ficar mais isolada pelo ajuste táctico realizado após a expulsão.

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