3.4.14

Champions, quartos-de-final (II)

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Paris SG - Chelsea
O 'Conto de duas cidades' dos quartos-de-final era também um teste para ambos os conjuntos, que tendo capacidade para ir até ao fim, correm claramente por fora relativamente a outras potências ainda em prova. O PSG precisa de conquistar na Champions uma dimensão que a liga francesa nunca lhe poderá oferecer, e o Chelsea de provar que pode ser uma equipa consistente em grandes desafios, nomeadamente quando estes acontecem numa fase de grande intensidade e pressão competitiva, como é o caso. O estatuto sugeria algum favoritismo para os londrinos, o que me parece injustificado naquela que, a meu ver, era a mais equilibrada das eliminatórias desta fase.

Não surpreendeu que fosse o PSG a chamar a si maior iniciativa de jogo e presença em posse. Aliás, a maior surpresa foi mesmo ver o Chelsea dividir tanto o jogo neste particular, no primeiro tempo. Em parte, isto deveu-se à postura francesa em organização defensiva, baixando muito as linhas e não fazendo da recuperação rápida da bola a sua primeira prioridade. Mas, para abordar a diferença entre as duas metades do jogo, e o porquê do Chelsea ter tido mais bola na primeira parte, é preciso abordar aquele que foi, na minha perspectiva, o momento táctico mais marcante do jogo, a organização ofensiva parisiense, em particular a sua circulação baixa. O PSG assume o jogo de uma forma muito característica, projectando muito os laterais e colocando os extremos igualmente muito profundos, o que cria muito espaço no corredor central, por onde a equipa tenta construir jogo, primeiro através do baixar dos 3 médios, e depois tendo Ibrahimovic como elemento fundamental para a ligação no corredor central. Para que tudo isto funcione é, obviamente, decisivo que a circulação baixa consiga fluidez e segurança. Foi assim, por exemplo, que o PSG encurralou o Benfica no primeiro jogo da fase de grupos, e foi também por isso que o Chelsea teve mais problemas na segunda parte deste jogo, quando a sua primeira linha pressionante deixou de conseguir a mesma eficácia que havia tido até ao intervalo.

Apesar do domínio do PSG na segunda parte, é justo também referir que o resultado é bastante feliz para equipa de Laurent Blanc, que conseguiu um aproveitamento muito elevado das ocasiões criadas - que não foram muitas, tanto de um lado como do outro. Mourinho lamentou-se da forma como a equipa sofreu os golos, e parece-me ter toda a razão para o fazer, porque em qualquer dos 3 lances (especialmente no terceiro, claro), era perfeitamente possível ter feito mais. O mesmo poderá dizer Blanc da abordagem de Thiago Silva, no lance do penálti. O facto é que o Chelsea leva na bagagem uma desvantagem difícil de anular na segunda mão, especialmente se considerarmos as dificuldades que a equipa tem para jogar num registo de maior afirmação em posse. Para esse jogo, levantar-se-ão alguns aspectos interessantes a observar: Do lado do Chelsea, e desde logo, a capacidade para ter bola, mas também a forma como a equipa irá reagir à posse do PSG (irá arriscar mais em termos posicionais?). Do lado do PSG, a estratégia de Blanc neste contexto (irá manter a sua identidade e assumir o risco em posse perante um pressing previsivelmente mais agressivo?), e a forma como a eventual ausência de Ibrahimovic poderá afectar a equipa, já que é uma função chave no modelo de jogo da equipa, não havendo nenhum jogador com as mesmas características (e qualidade, claro) do sueco.

Do ponto de vista de Mourinho, há muito que o cenário de uma época frustrante está bem presente no horizonte, mas com este resultado ele torna-se numa evidência ainda mais clara. Mourinho pode estar a fazer um bom trabalho em Stamford Bridge, e racionalmente não tem sentido exigir-se grandes conquistas neste momento. Mas, o futebol é como é, e se ficar sem títulos e arredado das grandes decisões, esta será inevitavelmente uma época com sabor a frustração, com todas as consequências mediáticas que isso acarreta. O próprio, aliás, parece bem ciente da probabilidade deste desfecho, e o seu discurso, repetidamente humilde e quase catastrofista, soa muito a uma espécie de profilaxia para eventuais dores de alma que possam surgir.

Real Madrid - Dortmund
Este não era, de todo, um desfecho improvável, mas confesso que esperava outra réplica por parte do Dortmund, a quem atribuía hipóteses reais de qualificação (ainda que tivessem sido bastante hipotecadas logo à partida, pela ausência de Lewandowski). O Real, claro, tem outro potencial, mas creio que também terá pesado muito o contexto para fragilizar as hipóteses do Borussia. Para ser bem sucedido, Klopp, precisava de contar com um bom jogo defensivo - já que era quase inevitável que passasse mais tempo sem bola do que com ela - e também com uma boa capacidade para aproveitar o espaço e eventuais fragilidades defensivas do Real, particularmente em transição. Por um lado, entrar a perder foi um enorme revés para as aspirações da equipa, tanto porque ofereceu ao Real mais confiança e tranquilidade, como porque estar a perder implicou ter inevitavelmente de assumir mais riscos, expondo-se ainda mais a uma linha avançada já de si difícil de controlar. Por outro, a ausência de Lewandowski retirou grande parte do potencial da equipa para ligar ofensivamente o seu jogo, e mesmo quando conseguiu chegar ao último terço, esta não foi feliz na definição das suas jogadas. Um golo teria feito toda a diferença e oferecido outra esperança para a segunda mão. Assim, não sendo impossível, fica com certeza muito improvável.

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