17.4.14

Benfica - Porto (I): Aspectos colectivos

ver comentários...


- O jogo não fugiu muito do que havia escrito na antevisão. Não quanto ao desfecho, claro, já que aí entramos num campo de maior imprevisibilidade, mas no que à abordagem estratégica das equipas diz respeito. O Benfica evidentemente mais agressivo e intencionalmente pressionante desde o primeiro minuto, já que entrava em desvantagem nesta 2ª mão. O Porto, respondendo também com poucas alterações específicas, nomeadamente tentando assumir o jogo em posse e mantendo uma zona pressionante bastante alta, confirmando a ideia de que Luís Castro não muda quase nada independentemente do adversário ou do contexto que a equipa tem pela frente. Também ao nível da vantagem que as equipas poderiam retirar de alguns aspectos do jogo e da eliminatória, se confirmaram as projecções a meu ver mais previsíveis. Ou seja, o Benfica bastante melhor, retirando partido do seu momento psicológico, que lhe era francamente favorável a todos os níveis, e também da exposição ao erro por parte do adversário, tanto ao nível do risco em posse, como de alguma negligência na protecção dos espaços essenciais. O Porto, por seu lado, conseguiu algum condicionamento do comportamento pressionante da linha média do Benfica, com a projecção dos seus médios interiores (um dado tacticamente muito relevante na primeira mão), mas estando sobretudo amparado pelo bom resultado que trouxera do Dragão, e que lhe permitiria retirar grande partido de uma qualquer incidência a seu favor, o que no caso acabou por acontecer através de uma expulsão.

- Do lado do Benfica, foram muito conseguidos os primeiros minutos, com boa intensidade e um bom aproveitamento das costas dos médios interiores portistas, que se adiantavam muito e isolavam Fernando como única protecção a uma linha defensiva já de si muito exposta em termos posicionais. Aqui, destaque para os movimentos de Rodrigo, preponderantes na afirmação do jogo encarnado até à expulsão de Siqueira. Depois, e mesmo quando esteve em desvantagem, o Benfica foi pragmático na sua abordagem estratégica, baixando linhas e assumindo a impossibilidade de discutir o jogo pela posse com o seu adversário. Dentro deste condicionalismo, é notável que a equipa tenha conseguido criar mais ocasiões do que o Porto, embora na minha perspectiva o Benfica tenha estado sobretudo bem a defender, já que o Porto não só não criou ocasiões claras de golo, como nem sequer se aproximou de tal feito (a única é excepção é mesmo o lance do golo). Aqui, há que destacar a solidariedade e capacidade defensiva de toda a equipa, com os 9 jogadores de campo a trabalharem muito para garantir o equilíbrio dos espaços essenciais. Depois, o resultado e a qualificação explicam-se pelo aproveitamento das ocasiões criadas, não sendo de forma nenhuma uma inevitabilidade. À posteriori tudo parece uma fatalidade, mas raramente é assim no futebol, e este jogo foi mais um que, dentro dos mesmíssimos parâmetros, poderia ter tido um desfecho igualmente lógico mas completamente diferente (no que diz respeito à eliminatória e não ao jogo, bem entendido), apenas com a alteração de alguns pormenores.

- Talvez o ponto que mais me tenha chamado à atenção na diferença entre as equipas tenha sido o comportamento estratégico de ambas os lados em relação à situação em que a eliminatória se foi encontrando. A este respeito, de resto, o contraste não poderia ser maior. O Benfica, a partir do momento em que se viu em desvantagem numérica, teve sempre como prioridade o controlo defensivo, mesmo quando a eliminatória passou a estar a uma distãncia de 2 golos. O Porto, ao invés, mesmo com tudo a seu favor, manteve uma postura de grande exposição ao risco, nomeadamente na pouca protecção à sua linha defensiva. Quem lê o que escrevo saberá bem o que penso da diferença entre estas duas abordagens - uma adaptável, a outra imutável - embora reconheça que tudo depende sempre da eficácia com que cada equipa seja capaz de implementar as suas ideias. No caso do Porto, e muito claramente, não existe eficácia minimamente suficiente para que a equipa possa assumir tanto risco nos seus comportamentos. Perante qualquer adversário (ainda pode haver tempo para maiores dissabores na Liga), mas especialmente frente àqueles de maior valia, como é o caso do Benfica.

- Entre mérito de uns e demérito de outros, parece-me lógico enfatizar-se a importância do que o Porto não fez para confirmar a sua presença no Jamor. Não se trata aqui de retirar crédito aos jogadores do Benfica, mas quando uma equipa está com vantagem de 2 golos e superioridade numérica, com pouco mais de meia-hora para jogar, parece-me muito claro de que lado está o ónus de chamar a si a responsabilidade sobre o destino do jogo. Neste sentido, há muito a questionar naquilo que fez o Porto. Desde logo, a forma como a equipa tardou a perceber (aconteceu com a entrada de Josué, já depois do 2-1) que a partir do momento em que Varela empatou o jogo a sua presença em posse era um elemento importante para fazer passar o relógio, não fazendo sentido arriscar a perda sem esperar pelo desposicionamento da linha média do Benfica. Não menos relevante (aliás, foi mesmo decisivo) foi a falta de controlo dos espaços defensivos, que deveria ser uma prioridade perante a vantagem na eliminatória, mas que mesmo assim não evitou a sucessiva exposição da linha defensiva através de movimentos rotura dos elementos do Benfica que partiam de trás. Finalmente, não é muito fácil de entender também a permanência de Quaresma no jogo, numa segunda parte de grande improdutividade do extremo (aparentemente estaria até mal disposto) e quando a partida entrava numa fase em que era preciso maior objectividade e eficácia em todos os capítulos do jogo. Enfim, esta tem sido uma época muito interessante do Porto (ainda que não da perspectiva dos seus adeptos, evidentemente), a tentar encontrar sucessivamente soluções para os seus problemas, mas a meu ver sempre a caminhar no sentido contrário ao pretendido, vivendo nesta altura provavelmente a sua pior versão, entre todas aquelas que assistimos desde agosto. Coisas que acontecem, no futebol.

AddThis