18.4.14
Benfica - Porto (II): Análise individual
Por falta de tempo, ficam apenas comentários às exibições de alguns jogadores...
Individualidades (Benfica)
Maxi - Muito bom jogo, saindo claramente vencedor do duelo travado com Quaresma, onde fez valer os seus níveis de intensidade e agressividade. Ofensivamente muito discreto, obviamente condicionado pela inferioridade numérica da equipa neste particular.
André Almeida - Foco para o lance do golo portista, onde tem responsabilidades óbvias. Ainda assim, na minha opinião não é justo isolá-lo nas criticas a esse lance. Aliás, se o Benfica foi eficaz defensivamente pela solidariedade colectiva e coberturas permanentes a todos os duelos individuais que o Porto forçou, foi precisamente nesse aspecto que a equipa mais pecou no lance do golo que esteve quase a deitar tudo por terra.
André Gomes - A grande figura mediática do jogo, pelo trabalho que foi realizando no meio-campo e sobretudo, claro, pelo golo decisivo que marcou. Fez, de facto, um bom jogo, coroado com a jogada de belo efeito. Mas não partilho de alguma euforia que se instalou em torno dos seus 90 minutos. Por exemplo, ao nível do trabalho defensivo, e embora tenha estado globalmente bem, não foi de todo uma exibição extraordinária, mantendo-se num plano muito mais modesto do que o seu parceiro de sector, Enzo Perez.
Enzo Perez - Não valorizo muito o golo que marcou, pelo facto de ter sido obtido de penálti. Ainda assim, não deixou de ser uma grande exibição - mais uma! - do médio argentino, na minha opinião e com alguma distância, o melhor em campo se considerássemos apenas o trabalho defensivo e a presença em posse.
Gaitan - Mais uma boa exibição de uma das figuras da temporada, com excelente presença defensiva e o habitual contributo criativo. O que o separa de uma exibição mais exuberante foram as dificuldades em conseguir ser mais eficaz nas suas aparições no jogo com bola, um problema que deriva muito da dificuldade em que estas ocorreram e que, por exemplo, foram também sentidas no corredor contrário, por Salvio.
Salvio - Teve um jogo até pouco conseguido na gestão da posse, muitas vezes por alguma precipitação no critério, é verdade, mas a meu ver sobretudo pelo grau de dificuldade que lhe foi imposto e que decorreu da densidade de jogadores do Porto na sua zona. No entanto, foi sem dúvida o jogador mais determinante na construção do resultado, o que fará dele o candidato a meu ver mais lógico para a sempre subjectiva eleição de melhor em campo. Em particular, destaco a sua capacidade de movimentos sem bola e a contundência com que ataca zonas de finalização, virtude que lhe vale a capacidade decisiva que se lhe conhece e que não é muito normal num extremo. Já no Dragão havia sido o único a tentar movimentações de rotura que aproveitassem a exposição da defesa portista, e se nesse jogo não foi bem sucedido, pode dizer-se que na segunda mão teve uma preponderância enorme nesse tipo de acções. Começou por ganhar a frente do lance a Mangala, no primeiro aviso do Benfica no jogo, marcou um golo de enorme mérito numa finalização de grau de dificuldade elevado e acabou por conquistar o penálti que relançou a equipa no jogo, mais uma vez surpreendendo a defesa portista pela rapidez com que atacou o espaço.
Rodrigo - Provavelmente o grande prejudicado pela expulsão de Siqueira. Até aí estava a ser uma das chaves do jogo, através dos seus movimentos interiores, que aproveitavam as costas dos médios portistas e expunham o isolamento de Fernando, entrelinhas. Jogando mais fixo na frente, não conseguiu o mesmo impacto, em parte por alguma infelicidade em alguns momentos, mas também pelo acréscimo de dificuldade que essa missão representou para si. Nota para a forma como se envolveu na missão defensiva, baixando várias vezes até zonas muito perto da área, onde conseguiu ser por diversas vezes um elemento importante para o sucesso defensivo da equipa.
Individualidades (Porto)
Fabiano - Não lhe atribuo responsabilidades em qualquer dos golos, mas fica a nota para a quebra de eficácia nos últimos tempos. E não quero com isto fazer-lhe qualquer critica, apenas alertar para o facto de ser praticamente impossível para um guarda-redes - qualquer que seja - manter os níveis de intervenção em lances decisivos que Fabiano vinha tendo. Para já, continua a ser uma época muito boa e prometedora, mas será preciso mais tempo para isolar completamente a aleatoriedade da amostra.
Reyes - Ganhou muitos duelos, nomeadamente no jogo aéreo, mas voltou a cometer uma série de erros comprometedores, dando sequência a uma tendência recente. Percebe-se que há uma tentativa de apostar no jogador, mas no caso dos defesas - e como será fácil de sustentar através de diversos exemplos - a afirmação está sempre muito dependente do contexto colectivo. Não ajuda, neste sentido, o momento da equipa e a exposição defensiva que esta assume. Reyes tem errado, talvez até mais do que outros, mas é interessante notar todos os centrais utilizados também vão repetindo deslizes a cada jogo que passa. Um sinal claro de que o foco do problema poderá não residir na componente individual.
Fernando - Foi o jogador com mais intervenção directa no jogo, entre todos os que pisaram o relvado. Não se escondeu do jogo e conseguiu manter um nível razoável de eficácia nas suas acções, apesar de ficar muitas vezes isolado à frente da linha defensiva. Isto não significa, porém, que não tenha tido também dificuldades em alguns lances de grande importância.
Herrera - Mais um jogo de grande impetuosidade, parecendo ser capaz de percorrer uma área assinalável do terreno, mas por outro lado sem emprestar grande qualidade - e critério - às suas aparições com bola. Um problema que, para um médio, tem muita relevância.
Varela - É um jogador relativamente mal-amado, e se posso concordar que não é um fora-de-série capaz de transportar a equipa para outra dimensão, também preciso de fazer notar que é dos mais regulares e daqueles que vai oferecendo competência à equipa numa cadência mais regular. Por exemplo, estava a ter um desempenho incomparavelmente superior ao de Quaresma, não apenas pelo excelente golo que marcou - o único rasgo de toda equipa no jogo, assinale-se - mas pela sequência em posse e utilidade no trabalho defensiva. Mas, como referi no inicio, é um mal-amado, e isso por vezes conta muito.
Quaresma - Foi um jogo de grande dificuldade para si, quer pela forma solidária como o Benfica defendeu, quer pela agressividade com que teve de se deparar. Na primeira parte ainda conseguiu arrancar algumas faltas, mas caíu por completo de rendimento na segunda. Quando não consegue desequilibrar, como foi co caso, a sua utilidade não se torna apenas escassa, mas praticamente nula. Como já escrevi, pareceu-me um erro a sua manutenção em campo.
Jackson - É um excelente avançado, e a meu ver muito completo. No entanto, parece perder muita da sua preponderância quando se lhe pede que ataque o espaço e não faça um jogo tão posicional. O Porto conseguiu abrir-lhe algumas possibilidades para que se tornasse protagonista, mas Jackson não conseguiu nunca dar boa sequência. Acabou também por ser vitima da dificuldade da equipa em entrar na muralha defensiva do Benfica, acabando por oferecer mesmo muito pouco à equipa.
Josué - Nota para a sua entrada, que pareceu oferecer um raio de lucidez à posse da equipa, nomeadamente atraindo a linha média do Benfica para fora da sua zona de conforto, em vez de ser o Porto a tomar sucessivamente a iniciativa da progressão, dando vantagem à acção defensiva numa situação em que paradoxalmente o relógio corria a favor das aspirações portistas. Infelizmente, para ele e para a equipa, a consistência defensiva acabou por anular o propósito da sua missão nesse papel específico. Com tantas oportunidades a serem dadas a Defour, Herrera e Carlos Eduardo, confesso que não vejo nenhum motivo pelo qual não possa jogar mais tempo.