- Do ponto de vista estratégico, a grande dúvida está do lado do Porto. No caso do Benfica, a desvantagem na eliminatória e o facto de jogar em casa deverão determinar uma postura semelhante àquela que a equipa adopta perante qualquer adversário. Ou seja, linhas subidas para pressionar a primeira fase de construção contrária e, em posse, a tentativa de forçar a progressão apoiada, tendo sempre como ponto de partida a largura na sua circulação baixa, com 3 apoios na primeira linha e os laterais mais projectados ofensivamente.
- Quanto ao Porto, não antevejo também grandes novidades relativamente àqueles que são os traços gerais da sua estratégia habitual, e por dois motivos: O primeiro, tem a ver com aquilo que a equipa fez em situações semelhantes, nomeadamente nos segundos jogos das eliminatórias frente a Nápoles e Sevilha, onde sentiu grandes dificuldades, mas sempre pelos problemas causados pelos adversários e não por uma alteração de fundo na sua abordagem estratégica; O segundo motivo, porém, é mais interessante, e tem a ver com aquela que me parece ser a orientação filosófica de Luís Castro. Com ele, o Porto assume sempre a intenção de pressionar alto os seus adversários, nomeadamente adiantando os dois médios interiores ao longo do corredor central, e assume também a disponibilidade de sair a jogar curto a partir de trás, mesmo quando isso representa um risco assinalável para a sua segurança (e tem representado muitas vezes!). Para já, este perfil tem determinado jogos de grande entretenimento, com várias ocasiões em ambas as balizas. O problema, da perspectiva dos adeptos portistas, é que este entretenimento não tem sido propriamente um exclusivo azul-e-branco, e ver os outros ganhar não é algo que divirta muito os adeptos, seja lá de que maneira for. Do todo modo, este será um teste para esta rigidez estratégica (ou coerência ideológica, dependendo do ponto de vista) do treinador do Porto.
- Se o Porto, como penso que possa acontecer, mantiver a sua abordagem, teremos uma grande probabilidade de ter um jogo de assinalável exposição ao risco, nomeadamente no que respeita à saída de bola de qualquer das equipas. A probabilidade de perda em zona de construção será, dentro deste cenário, uma ameaça constante, e como se sabe essa é uma eventualidade para a qual nenhuma equipa está verdadeiramente preparada em termos posicionais, pelo que a reacção defensiva é sempre muito complicada. O Benfica terá do seu lado o momento emocional, já que o Porto tem acusado muitos problemas precisamente em jogos com este registo e fora do seu estádio. O factor-casa, aliás, parece ser um aliado importante dos encarnados, já que o próprio Benfica tem-se revelado bem mais competente na circulação baixa em jogos disputados na Luz. Basta verificar, por exemplo, a resposta contrastante que a equipa deu perante o pressing contrário frente ao Sporting (campeonato, casa) e Porto (taça, fora), ou Académica (casa) e Braga (fora).
- Os dados, de acordo com o que escrevi acima, não parecem muito favoráveis às aspirações portistas, no entanto há alguns aspectos que poderão jogar a seu favor. Primeiro, o capítulo táctico, com o Porto a ter muito mais presença no corredor central do que o seu adversário. Este foi um factor que me pareceu determinante na primeira mão, e com o qual o Benfica de Jesus historicamente não lida bem. Depois, o factor emocional, já que se é verdade que o Benfica iniciará o jogo com um grande capital de confiança, motivado tanto pelo ambiente do próprio estádio como pelo momento de euforia que a equipa vive, também não se pode esquecer que o Porto traz da primeira mão uma vantagem importante, e que terá a seu favor tanto o cronómetro como a ameaça que um só golo representa para as aspirações do seu adversário nesta eliminatória. Neste sentido, qualquer tendência positiva no jogo a seu favor, poderá rapidamente transformar-se numa montanha emocional para o Benfica e todos os seus adeptos.