14.3.14
Tottenham - Benfica: Estatística e opinião
O futebol tem na volatilidade um dos seus maiores pontos de interesse. Por vezes, paga-se caro ao mais subtil dos pormenores. Noutros casos, as vitórias aparentam surgir com uma ligeireza capaz de surpreender o mais despreocupado dos optimistas. O Benfica tem sido, como poucos, um bom exemplo desta bipolaridade do jogo, e se num passado recente pareceu ter os deuses todos contra si, hoje passa por um momento perfeitamente inverso. Não quero com isto a menosprezar a exibição encarnada em Londres, que num cenário bastante complicado conseguiu controlar de forma notável um adversário de grande qualidade. Mas, convenhamos, poucos jogos haverá em que se marca 1 golo no primeiro remate e, sobretudo, 2 golos na sequência dos únicos 2 cantos conquistados em todo o jogo.
Analisando por partes, o Benfica teve diante de si um jogo muito complicado, onde sentiu quase sempre muitas dificuldades em ter bola, perante a densidade promovida pelo posicionamento táctico da equipa inglesa. A oportunidade, para a equipa encarnada, rapidamente se identificou, e esteve sempre na exposição que o Tottenham oferecia nas costas da linha defensiva (muito subida, precisamente, para fazer a tal redução do espaço que condicionou o jogo apoiado do Benfica). E foi, sem surpresa, por essa via que o Benfica acabou por ganhar vantagem. Mas, se a equipa tardou em conseguir gerir o jogo com bola - já irei à fase positiva da exibição, neste plano - também foi evidente que teve sempre um grande controlo sobre a iniciativa ofensiva do adversário, mesmo com este a ter o maior volume de jogo e presença territorial. À margem do golo, que acontece de livre, o Benfica foi apenas exposto por uma vez, numa situação de transição que terminou numa finalização de Adebayor. Não seria fácil para nenhuma equipa fazer melhor em termos defensivos, perante um adversário com a qualidade do Tottenham e, sobretudo, com tão pouca posse de bola como teve o Benfica.
No entanto, se até ao 2-1 o Benfica tinha alicerçado a sua vantagem no mérito defensivo e na eficácia do pouco que havia criado ofensivamente, a partir daí a equipa passou a gerir, finalmente, o jogo com bola, arrancando para um final de jogo de muito maior qualidade. A explicação é simples e terá sido fácil de perceber por todos que acompanharam o jogo: as entradas de Enzo e Gaitan. Até esse ponto, apenas Ruben Amorim tinha conseguido responder com serenidade e eficácia à tal densidade que os Spurs impunham no meio-campo, mas com a entrada dos dois argentinos essa capacidade triplicou e, rapidamente, o Benfica congelou um jogo que parecia ter tudo para se começar a ferver.
Com ou sem felicidade, o facto é que o 1-3 de White Hart Lane vem colocar o Benfica muito perto dos quartos-de-final e, se tal se confirmar, a presença em nova final europeia passará a ser um cenário bastante plausível, tendo em conta a concorrência e o actual momento da equipa. Na verdade, não pode ser surpreendente, se tivermos em conta o que aconteceu em anos anteriores, o que se estranha é como é que esta equipa se viu envolvida por tanto descrédito e durante tantos meses...