11.3.14

Penáltis e a apofenia da derrota

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O jogo de Setúbal serviu de mote para reforçar o tema das arbitragens na primeira linha do plano mediático. Sem querer, como é óbvio, entrar com grande profundidade nesse tipo de discussão, aproveito para deixar um simples exercício comparativo, sobre a importância dos penáltis nos golos marcados pelas várias equipas, no campeonato e ao longo das últimas 10 épocas. Para efeitos comparativos, incluí também as duas ligas mais competitivas da actualidade, de Espanha e Inglaterra. A ideia é ter um indicador relativo, e não absoluto, já que uma equipa que ataca mais terá, naturalmente, tendência para ter mais penáltis marcados a seu favor, e vice-versa. Seria igualmente interessante complementar a análise com os dados defensivos (ou seja, % golos sofridos por penáltis), mas o acesso a esses dados revelar-se-ia bem mais moroso para mim, não sendo este um tema que justifique tanto trabalho.

A primeira nota a salientar, olhando para estes quadros, é que não há uma disparidade tão escandalosa como a veemência dos discursos dos adeptos e dirigentes parece sugerir. Sem qualquer surpresa, de resto. O ponto que mais realçaria, aliás, vai para o facto de, em Portugal, os "grandes" estarem todos no topo da tabela, o que não acontece em Espanha ou Inglaterra. Mas, tão pouco, esta é uma tendência clara que nos permita confirmar uma outra tese tantas vezes repetida, de que os "grandes" são mais favorecidos do que os outros. Em suma, e na melhor das hipóteses, os dados de penáltis não podem ser considerados mais do que inconclusivos, relativamente às diversas teorias acerrimamente defendidas nas discussões sobre o tema. Uma constatação que parece afastar, pelo menos, a hipótese de tendências claras em favor ou desfavor de alguns clubes (no que a penáltis diz respeito), já que se isso acontecesse seria impossível que tal não se reflectisse nos números acumulados.

Para mim, e como quem me lê saberá, este é um tema que valorizo muito pouco na definição do sucesso de médio-longo prazo dos clubes, ainda que como agentes directos no jogo, os árbitros possam ter obviamente influência nos resultados de cada partida. Vejo a permanente polémica em torno da arbitragem como uma consequência inevitável da natureza emotiva do fenómeno futebolístico e da relação dos adeptos com os seus clubes. Uma espécie de apofenia colectiva, que ganha especial força na hora das derrotas. E é essa a minha explicação para o facto de assistirmos repetidamente - ano após ano - ao mesmo tipo de discussão, e para o facto dos clubes campeões serem sempre conotados como favorecimentos das arbitragens, no final de cada temporada. Foi assim com Porto, Benfica, Sporting e Boavista quase sempre que chegaram aos seus títulos. Neste sentido, e na minha óptica, a arbitragem é e será sempre um tema central nas discussões extra-jogo, aconteça o que acontecer. Porque o que as motiva, verdadeiramente, não é tanto os erros dos árbitros, mas sim a natureza dos adeptos.

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