13.3.14

Champions, oitavos-de-final (VI)

ver comentários...
Barcelona - Man City
Foi um jogo muito entretido, e onde quase sempre sobressaiu o elevado nível técnico dos dois conjuntos. Daí o número elevado de oportunidades, com os golos a tardar em fazer justiça à superiorização dos ataques relativamente às defesas. De novo, e tal como no Bayern-Arsenal, parece-me importante notar que o Barça não precisava de ganhar, e isso terá sido um factor decisivo para que não tivesse forçado a vitória que, ainda assim, lhe acabou mesmo por sorrir.

Sobre o Man City, começo por questionar a ideia com que todos ficamos - eu incluído - de que "se tivesse jogado assim, na primeira mão...". De facto, a equipa apareceu menos preocupada com o controlo defensivo do adversário, com dois alas interiores que a meu ver potenciam melhor a qualidade do jogo ofensivo da equipa, e teve o mérito de ser uma das raras equipas que, de há muito tempo a esta parte, conseguiu passar uma boa parte do tempo com a bola também do seu lado - mérito para a circulação baixa da equipa que, com excepção de Bayern e Barça, talvez não fique actualmente a dever nada a ninguém. A minha questão, porém, tem a ver com as comparações entre diversas fases do jogo, onde o contexto é manifestamente diferente. Ou seja, na segunda mão, o resultado era já de 2-0, o que leva a uma atitude diferente de ambas as equipas, e com o Barça intuitivamente a ter como prioridade o controlo sobre a vantagem conseguida. Não é a primeira vez que me refiro a este problema - de tirar conclusões a partir de comparações a partir de contextos diferentes - e muitos exemplos semelhantes acontecem todos os anos, quando as equipas são derrotadas mas aparentam jogar melhor depois de estar em desvantagem. Normalmente, e precisamente por ignorar o contexto, a conclusão revela-se uma ilusão.

Relativamente ao Barça, passou uma eliminatória difícil com grande naturalidade, como talvez nenhuma outra equipa o conseguisse fazer frente a este Man City (eventualmente o Bayern teria essa capacidade), e isso prova a sua força. Ainda assim, é inegável o subrendimento da equipa quando comparada com aquilo que foi nos 5 anos anteriores. Quais são, então, as diferenças que explicam esta quebra? Começo por referir que tenho acompanhado a equipa apenas pontualmente, e que por isso poderá haver aspectos que me escapam. Ainda assim, e começando pelo lado defensivo tantas vezes desprezado nas equipas de Guardiola (de novo, o que escrevia ontem: nenhuma equipa atinge a excelência sem ser muito competente em TODOS os momentos tácticos do jogo), o Barça actual tem muito mais dificuldade no condicionamento pressionante dos seus adversários, o que lhe retira presença territorial e tempo de posse de bola. Por exemplo, creio que em épocas anteriores esta equipa do Man City teria tido muito mais dificuldade em circular como fez neste jogo. Com bola, e mesmo mantendo uma qualidade individual que, a meu ver, não encontra par em qualquer outra equipa da actualidade, há também diferenças, sobretudo ao nível do jogo posicional. Em particular, destaco - aliás, já o havia feito no jogo da primeira mão - a falta de soluções colectivas quando a equipa se aproxima da última linha do seu adversário. Neste jogo, por exemplo, foram inúmeras as vezes em que os jogadores catalães forçaram iniciativas individuais, o que obviamente acaba por favorecer as hipóteses de quem está organizado, e em superioridade numérica, para defender. Ainda dentro deste ponto, parece-me haver uma focalização excessiva em Messi, com a equipa a procurar constantemente o seu astro, mas com este a ser relegado muitas vezes para iniciativas individuais que, mesmo para ele, não são fáceis de resolver. Enfim, é este o novo Barça que temos, e duvido que possa mudar muito com esta liderança técnica. Mantém-se uma equipa fortíssima, claro, mas é também apenas uma sombra daquilo que foi na sua anterior versão.

AddThis