3.3.14

Sporting - Braga: Opinião e Estatística

ver comentários...

- Nova jornada, e o Sporting repete o filme: dificuldades no plano ofensivo, um erro a ditar a desvantagem e, à custa de grande eficiência das poucas ocasiões criadas... a reviravolta! Na semana passada escrevia sobre a improbabilidade deste cenário se poder repetir sem ter custos pontuais - o que, obviamente, mantenho - mas o facto é que a equipa de Jardim parece mesmo apostada em desafiar a sorte. Assinalo, ainda assim, que a vitória não cabe mal ao Sporting, já que, e apesar das tais dificuldades ofensivas, foi sempre superior aos visitantes.

- No que respeita ao Sporting, importa sublinhar sobretudo os problemas ofensivos da equipa. É certo que o Sporting tem marcado golos, mas parece-me muito perigoso descansar à sombra dessa constatação. É que a produção ofensiva - entenda-se, ocasiões de golo - tem estado bem abaixo do desejável, e se é verdade que nos últimos dois jogos a equipa conseguiu corrigir isso com o elevado aproveitamento do pouco que criou, também é preciso não esquecer os nulos que a equipa repetiu num passado bem recente. Entrando num campo mais explicativo para o problema, parece-me que começa a ser gritante a forma como o Sporting simplesmente negligencia o corredor central e o espaço entrelinhas. Algo que sempre aconteceu, mas que talvez esteja mais claramente identificado pelos adversários, nesta altura. Frente ao Braga, por exemplo, creio que a linha média adversária apresentava algumas fragilidades e que poderia ter sido muito mais exposta caso houvesse maior diversidade de movimentos, nomeadamente aproveitando as costas dos médios. A verdade é que isso não aconteceu, quer porque não há essa orientação colectiva, quer porque, individualmente, nenhum dos jogadores parece ter essa vocação no seu ADN. Jardim está, nesta altura, tentado a manter Slimani no 'onze', e é possível que não queira retirar Montero da equipa. Se isso acontecer, é provável que o Sporting passe a contar com maior presença no espaço entrelinhas, criando-se porém um dilema para o treinador, já que como se viu na Luz há também vários problemas que se podem levantar ao assumir esta opção.

- Este jogo era também interessante pelo estreia de Paixão no Braga. Fiquei com a ideia de que o treinador ficou bem visto pela critica nesta primeira "avaliação", e o próprio pareceu satisfeito com a sua equipa, no final do jogo. Pessoalmente, não partilho minimamente deste optimismo. Em primeiro lugar, sobre as dificuldades que o Braga criou ao Sporting, parece-me que os elogios só podem resultar de um baixar de expectativas, a meu ver, desajustado ao real potencial da equipa. É que, comparando com Nacional, Académica e Olhanense - os últimos a serem recebidos em Alvalade - a exibição do Braga foi, no máximo, normal. Será, um problema de perspectiva, portanto. Entrando nos aspectos mais específicos do jogo, não consigo ligar muito do que se viu ao trabalho de apenas 1 semana do treinador, mas posso, isso sim, ser mais concludente sobre o lado estratégico do jogo. E aí, confesso, não fiquei nada impressionado com a estreia de Paixão. Em primeiro lugar, o papel de Alan, que foi colocado em campo para ser o polícia de William Carvalho. Não sou propriamente o mais purista nestas coisas de marcações individuais (para mim, no futebol nada é generalizável, e tudo é contextual), mas confesso que me causa alguma impressão ver este tipo de opção, para mais sendo feita por aquele que é, na minha opinião, o jogador mais criativo da equipa. William é um jogador importante no Sporting, sem dúvida, e justificava-se uma atenção à sua acção, mas a meu ver sempre com um foco colectivo e nunca promovendo este tipo de policiamento. Aliás, e apesar da qualidade de William, a própria dinâmica colectiva do Sporting enfatiza muito mais a saída pelos corredores laterais do que o papel do seu médio mais defensivo. Depois, e como já escrevi, a linha média do Braga pareceu-me bastante frágil em termos posicionais, com os extremos a fechar pouco por dentro, algo que não foi muito bem explorado pelo Sporting. O lado mais positivo no que fez o Braga, aliás, decorre um pouco deste último ponto já que a equipa aproveitou a abertura dos extremos para ser muito célere no aproveitamento das costas dos laterais do Sporting, no momento de transição defesa-ataque. Finalmente, nota para a substituição de Dabo por Sasso. É-me muito difícil entender esta opção, por dois motivos: o primeiro tem a ver com o facto de Dabo ter tido sempre um extremo à sua frente - aliás, teve 3, antes de Capel - e ter visto o amarelo bastante tempo antes da entrada do espanhol, e por perder tempo e não por um excesso de agressividade. Ou seja, não percebo o que é que Capel trazia de tão especial em relação às outras soluções do ataque do Sporting que haviam jogado naquele corredor, para que ficasse tão eminente a expulsão do jogador. Depois - e mais importante! - Sasso havia entrado para a mesma posição - defesa esquerdo - no jogo frente ao Arouca, e os dois golos que a equipa sofreu nesse jogo decorrem, em grande parte, da sua inaptidão para desempenhar essa função, primeiro não pressionando o portador da bola no momento de transição, e depois não fechando convenientemente por dentro. Eu respeito sempre as opções dos treinadores, até porque não assisto aos treinos, mas pergunto-me se Jorge Paixão viu o jogo com o Arouca? Seja como for, a verdade é que esta foi, certamente, a decisão que mais peso teve na derrota da equipa...

Individualidades (Sporting)
Patrício - Vem fazendo uma boa época, mas desta vez borrou mesmo a pintura, curiosamente depois de me ter parecido também mal batido no golo sofrido em Braga, na primeira volta. É verdade que também não teve muita sorte porque tem errado pouco e, quando aconteceu, pagou logo com um golo.

Cédric - Esteve, a meu ver, bem defensivamente, com muito trabalho e sendo quase sempre bem sucedido. É verdade que Rafa aproveitou muito as suas costas, mas na minha leitura isso decorre dos riscos da dinâmica colectiva das duas equipas, e não tanto do desempenho individual dos jogadores. Com bola, esteve também regular, não conseguindo grande preponderância no último terço, mas acabando por ser protagonista no cruzamento que antecede o golo de Slimani.

Jefferson - Como sempre, muito bom timing ofensivo e boa capacidade de cruzamento. Desta vez, porém, as suas acções não tiveram consequência. Defensivamente, sentiu novamente problemas.

Maurício - O Braga ofereceu, estrategicamente, protagonismo aos centrais do Sporting, em construção. Na minha leitura, porém, não foi por aí que a equipa deixou de ser produtiva ofensivamente. No caso de Maurício, novamente com um critério ajustado, o que se reflectiu numa boa eficácia das suas acções com bola. Defensivamente, foi outra vez imperial no jogo aéreo, uma arma importante na estratégia do Braga e que foi anulada muito pela sua presença.

Rojo - Também um bom jogo. Muito interventivo e com acções até mais vistosas do que Maurício (com maior incidência no momento de transição ataque-defesa). Com bola, assumiu protagonismo, tendo tido um período onde perdeu alguma lucidez em termos de critério, o que acrescentou algum risco à equipa. Depois, estabilizou também nesse plano.

 William - O Braga distinguiu-o na sua estratégia, colocando Alan em permanência sobre a sua acção, o que lhe retirou influência. Na minha leitura, foi uma opção tacticamente pouco ajustada para aquilo que representa William no futebol do Sporting. Ou seja, a sua importância não decorre da frequência do envolvimento, mas antes da qualidade que consegue manter sempre que é solicitado. Assim, William terá perdido influência, é verdade, mas não deixou de emprestar a qualidade habitual sempre que a oportunidade se lhe colocou. Depois, sem bola, tem também evoluído bem desde o inicio da época, sendo hoje mais agressivo sobre o portador da bola. William é uma grande revelação do futebol do Sporting, sobretudo pelo que faz com a bola nos pés, mas também discordo de algum exagero na apreciação das suas exibições. Por exemplo, este não me parece ter sido um jogo invulgarmente positivo do jogador, tendo tido inclusivamente algumas dificuldades no controlo sobre a acção de Alan, na primeira parte (muito por mérito do brasileiro, note-se). Do mesmo modo, não teve um papel especialmente fulgurante em termos de recuperação de bola, como é sugerido. Em termos de intercepções/duelos, por exemplo, não foi mais interveniente do que Magrão ou Martins, enquanto este esteve em campo. O que sucede é que William, por mérito próprio e ao contrário de outros jogadores, já conseguiu colocar todos os olhos sobre si.

Magrão - Ofereceu maior mobilidade às acções ofensivas da equipa, é verdade, envolvendo-se mais sobre a esquerda relativamente ao que faz Adrien, e garantindo assim maior simetria com a acção de André Martins, sobre o flanco oposto. O problema, no entanto, é que a qualidade/eficácia das suas acções foi muito reduzida e isso comprometeu o seu desempenho, levantando muitas dúvidas sobre o ajuste desta aposta. Defensivamente, esteve bem, em especial com bom timing na acção pressionante, o que lhe valeu várias intercepções no meio-campo contrário.

André Martins - O mesmo perfil de jogos anteriores. Muito bem em termos de intensidade e agressividade sem bola, sendo muito eficaz na pressão e reacção à perda. Por outro lado, com muitas dificuldades em ser uma unidade desequilibradora no último terço. Mais uma vez, creio que não tem vocação para actuar em espaços tão adiantados, mas Jardim não pensa claramente da mesma forma.

Carrillo - Foi, na primeira parte, o jogador com maior envolvimento no jogo da equipa, mantendo alguma irregularidade nas suas acções, é certo, mas nunca se escondendo do jogo. É evidente que ainda tem de melhorar em termos de tomada de decisão, nomeadamente percebendo onde e em que circunstâncias deve apostar no 1x1, Mas continuo a pensar que valia a pena dar-lhe mais tempo de jogo, porque tem mais-valias que não se vislumbram em mais nenhuma solução.

Mané - Teve, a espaços, algumas acções bem conseguidas, acabando por estar na origem do penálti (ainda que mais por demérito alheio do que por mérito próprio). No entanto, não foi um jogo muito bem conseguido, com pouca eficácia nas suas acções.

Slimani - Conseguiu marcar e isso deve continuar a valer-lhe a titularidade. No mesmo sentido, a sua frequência goleadora mantém-se muito elevada, o que lhe credita uma utilidade incontornável. A questão coloca-se em relação às expectativas futuras. Pessoalmente, mantenho algumas reticências, e parece-me claro que estará sempre muito dependente da capacidade de ser determinante dentro da área, já que não parece muito talhado para acções em zonas exteriores.

AddThis