12.3.14

Champions, oitavos-de-final (V)

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Atl.Madrid - Milan
Pessoalmente, gostei bastante do jogo. Pela qualidade do Atlético, que voltou a fazer um grande jogo em praticamente todas as dimensões, mas também pela réplica pontualmente oferecida pelo Milan, que apesar da goleada final conseguiu criar alguma incerteza no desfecho da eliminatória, nomeadamente na primeira parte. O movimento de Balotelli, na origem do golo italiano é, aliás, um dos pontos que mais destacaria na partida, criando um invulgar momento de desorganização na defensiva 'colchonera', que teria como consequência não só o golo, mas também uma fase psicologicamente favorável ao Milan, que terminaria com o golo de Arda. E, depois sim, o Atlético tomou em definitivo as rédeas do jogo e da eliminatória.

Ainda sobre ao Atlético, e à margem do jogo, queria realçar a forma como o sucesso da equipa nos é invariavelmente explicado, quer antes, quer durante as partidas. A explicação passa sempre por realçar, primeiro, a atitude/agressividade da equipa, e depois a sua prestação num ou noutro momento táctico do jogo - normalmente transição. Ora, seja por desleixo ou incapacidade de quem analisa, a verdade é que este tipo de diagnóstico contém alguns equívocos triviais, e acaba por passar a ideia errada sobre o que é preciso para se ter, ou não, sucesso no futebol. Desde logo, dar ênfase primordial à agressividade é dar-lhe uma importância explicativa, no que ao sucesso diz respeito, que ela não manifestamente não tem. Porque se o Atlético tivesse tanto sucesso - estamos a falar de uma das 4-5 equipas de maior rendimento na Europa, actualmente - devido à agressividade, então a excelência estaria ao alcance de qualquer equipa distrital. Depois, de igual modo, nenhuma equipa pode atingir este patamar sem ter enorme competência em todos os momentos tácticos do jogo. Todos! Aliás, é interessante porque no caso do Atlético parece-me que se comete o erro inverso relativamente às análises que se fazem a equipas tacticamente mais evoluídas. Por exemplo, no caso do Barça de Guardiola, raramente se destacava a sua agressividade e competência nos momentos tácticos defensivos, quando essas eram, também, componentes fundamentais do enorme sucesso que a equipa conseguiu, e sem as quais certamente nunca o teria conseguido.

Neste jogo, por exemplo, o Atlético conseguiu 3 dos 4 golos em organização ofensiva, fruto de uma boa distribuição posicional dos jogadores, sempre com muitos apoios oferecidos ao portador da bola, o que lhe permite, não só criar situações de envolvimento no corredor por onde a bola entra, como também estar bem posicionado para a reacção à perda da bola, caso esta aconteça. É claro que o Atlético não tem a qualidade de equipas como Barça, Real ou Bayern, mas seria praticamente impossível que a tivesse, dada a disparidade de mais-valias individuais. Este é, porém, o exercício mais interessante do futebol - tentar fazer melhor, com menos - e o meu ponto, aqui, é que só se pode perceber o "fenómeno" se o analisarmos e reflectirmos na sua plenitude, e nunca através de "clichés" e análises tacticamente superficiais.

Bayern - Arsenal 
Não foi um grande jogo, nem tão pouco a eliminatória tinha já muito para nos oferecer, depois do que se passou em Londres. Aliás, creio que o conforto com que o Bayern sempre esteve na partida é a principal explicação para que o empate tivesse subsistido até ao final, já que a vitória era dispensável para os alemães. Ainda assim, do ponto de vista táctico, há bastantes pontos de interesse a explorar...

Começando pelo Bayern, a nota principal vai claramente para a estrutura que Guardiola utilizou, recorrendo ao duplo-pivot, algo que não sendo inédito desde os tempos do Barça (onde chegou a utilizar o 4-4-2, por exemplo), não deixa de ser uma novidade relativamente ao que foi hábito no percurso do treinador até aqui. Sobre sistemas tácticos, e como sempre, não tenho muito a comentar, por entender que determinam muito pouco em termos qualitativos, e só se tornam mais relevantes quando a dinâmica colectiva é mais rudimentar, o que não é - de todo! - o caso do Bayern. Assim, em posse, o Bayern apresentou uma boa movimentação colectiva, sempre com grande mobilidade em praticamente todas as suas unidades, mas com algum défice de intensidade, o que explica em grande parte as poucas ocasiões criadas, relativamente ao volume de jogo que a equipa teve. O principal contraste, em relação à primeira mão, foi o menor foco dado ao espaço entrelinhas, transferindo-se esse ênfase para as combinações sobre os corredores laterais, com Gotze e Schweinsteiger a incorporar essas zonas do terreno. Convém aqui também salientar a maior/melhor protecção do Arsenal ao seu espaço entrelinhas, particularmente através da acção de Arteta, sempre muito atento à presença de Gotze nessa zona. Para além da habitual qualidade na circulação baixa, parece-me também fundamental destacar o comportamento defensivo da equipa, em meu entender um aspecto decisivo para o conforto que a equipa manteve no jogo. Bom jogo posicional e muito boa agressividade/reactividade, o que determinou o controlo do momento de transição ataque-defesa, mas também o condicionamento constante da circulação do Arsenal, que permanentemente era obrigada a recuar a bola para o seu guarda-redes.

Sobre o Arsenal, tenho de me confessar desiludido (novamente!) com a réplica da equipa, neste jogo e nesta eliminatória. Começando pelo ponto mais estranho - a utilização de Ozil como médio-direito - talvez seja útil tentar perceber a intenção de Wenger, que certamente não era apenas colocar o criativo alemão a correr atrás de Alaba, durante 45 minutos. Penso que a lógica por detrás desta aparentemente imperceptível opção reside na principal estratégia de Wenger para a sua construção: bater longo, para o lado direito. A ideia, neste sentido, passaria por tentar que Ozil jogasse a partir da segunda-bola, tentando fazer a bola sair da zona de pressão e, possivelmente, tirando depois partido da maior verticalidade de Podolski, que partia do corredor oposto. No papel, talvez tivesse alguma lógica, na prática, revelou-se um disparate. Mas o principal problema do Arsenal não foi Ozil, nem tão pouco o aspecto defensivo, onde a equipa até esteve melhor do que na primeira mão. Foi, isso sim, a total incapacidade para ter bola, sucumbindo permanentemente ao "aperto" do pressing bávaro. Se o Bayern já é muito difícil de contrariar quando tem a bola, a tarefa torna-se irremediavelmente inglória se as poucas ocasiões em que os papeis se invertem terminam invariavelmente com o guarda-redes a pontapear a bola para a frente. Ora, foi precisamente isso que sucedeu e, no caso do Arsenal, creio que se exigia mais arrojo e mais qualidade na circulação baixa, até porque se o pressing do Bayern fosse ultrapassado, a equipa teria depois boas possibilidades de criar os desequilíbrios de que tanto precisava. Mas esta não é a primeira vez que o Arsenal deixa a desejar em grandes confrontos europeus, sendo essa a regra do seu historial recente. Discute-se muito, relativamente a Wenger, se o copo está meio-vazio ou meio-cheio. Pessoalmente, parece-me que o principal mérito do francês é mesmo o recrutamento, tendo conseguido compor sistematicamente equipas de elevado nível técnico, o que naturalmente potencia o "fancy-football" que todos apreciamos. No que respeita à capacidade de superação da sua própria equipa, porém, não creio que se possa esperar muito de Wenger. O Arsenal parece sempre demasiado dependente da superioridade técnica para se afirmar, e quando isso não se verifica a equipa não tem, nem um nível de organização, nem tão pouco uma versatilidade estratégica que lhe permita fazer frente a adversários mais fortes. Não posso dizer que o problema do Arsenal seja Wenger - até porque esse tipo de análise tem de ter sempre uma perspectiva comparativa - mas parece-me claro que, com o francês, o objectivo de competir com os melhores terá sempre de passar por um nível de investimento muito elevado, e nunca pela capacidade de superação da própria equipa.

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