21.3.14

Nápoles - Porto: Estatística e opinião

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Repetindo uma ideia que venho passando com frequência, o futebol alimenta-se de estados de ânimo e estes são determinados, por completo, pelos resultados. Este jogo parece-me, a este respeito, mais um bom exemplo. O Porto qualificou-se, sobrevivendo a uma eliminatória muito difícil e frente a um adversário de grande valia individual, e por isso se multiplicam sorrisos e elogios à equipa. Na minha perspectiva, porém, e à margem de alguns contributos individuais positivos, o Porto não fez um bom jogo, nem tão pouco um jogo razoável. Fez, isso sim, um jogo bastante fraco do ponto de vista colectivo, e tanto no aspecto defensivo como ofensivo. Defensivamente, repetiu muitos dos problemas que aqui tenho discutido, permitindo que a sua baliza fosse constantemente ameaçada pelas iniciativas adversárias e com o Nápoles a desperdiçar um número muito elevado de ocasiões claras para marcar. De igual modo, ofensivamente, e mesmo beneficiando da generosidade de Benitez, que abdicou novamente de pressionar a primeira fase de construção portista, o Porto raramente chegou de forma útil ao derradeiro terço do campo. A qualificação é muito positiva, especialmente porque reabre a esperança de um êxito europeu numa época tão complicada a nível interno, e é também verdade que as dificuldades da equipa têm muito que ver com a qualidade do Nápoles, que tem um nível técnico que poucas mais vezes o Porto encontrará até ao final da época mesmo nesta competição. A confiança, todos suspeitamos, vem muito mais dos resultados do que das exibições, mas se ao ganho de confiança não corresponder, paralelamente, uma evolução qualitativa da equipa, então todo e qualquer reforço emocional servirá de muito pouco no que às aspirações da equipa diz respeito. O meu ponto aqui é que o resultado não deve servir para deturpar o que a equipa realmente mostrou, até porque faltam muitos jogos e 3 troféus por disputar, e se a equipa não melhorar em vários dos problemas que denota - e continua a denotar, independentemente de um ou outro resultado - então o mais provável é que acabe por festejar muito pouca coisa para além desta passagem aos quartos-de-final.

As únicas notas positivas, na minha leitura, vão para o plano individual, e para as exibições de Fabiano (sem dúvida, o homem do jogo, com um número absolutamente invulgar de intervenções em ocasiões claras do adversário), Mangala (que se redimiu da má prestação em Alvalade), Fernando (combinando um bom jogo defensivo com uma assistência decisiva) e os suplentes Ghilas e Josué (ambos entraram muito bem, particularmente Ghilas). Falta aqui Quaresma, claro, que me merece também um comentário: o seu golo é, mais uma vez, a evidência da sua genialidade, e não serei eu certamente a desvalorizar, nem o peso que um golo tem num jogo, nem tão pouco a importância que pode representar ter um jogador com a capacidade decisiva de Quaresma. Ainda assim, uma boa jogada e um grande golo, não fazem uma grande exibição, e à margem do grande golo que marcou, Quaresma produziu pouco ou quase nada, inclusivamente estando envolvido em dois lances de grande falta de rigor defensivo, e que estiveram muito próximos de ter custos para a equipa. Tal como relativamente à performance colectiva, convém aqui não confundir a parte com o todo.

Uma nota, ainda, para o Nápoles e para a sua estratégia. Benitez abdicou de pressionar o Porto em praticamente 50-60 metros, parecendo quase condicionado por alguma regra oculta a defender apenas no seu meio-campo, e isto mesmo num jogo em que partia em desvantagem e jogava no seu terreno. É impressionante a obsessão pelo momento de transição que esta equipa e o seu treinador revelam, e só pode ficar a ideia de que muito do potencial do Nápoles fica por explorar com este tipo de comportamento restritivo. E este é mais um factor que não abona a favor do Porto, se tivermos em conta as dificuldades que, mesmo assim, a equipa sentiu em controlar o jogo e o seu adversário.

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