É o nome do momento no Porto, com a sua aparição na equipa a atrair atenções, tanto pelo entusiasmo em redor das suas primeiras exibições, como pela discussão em torno das implicações tácticas que supostamente trouxe para o meio-campo portista. Aqui ficam as minhas notas sobre estes dois pontos:
Implicações tácticas: dinâmicas diferentes, mesmo sistema
Tem-se generalizado um erro de análise algo flagrante e que apesar de corrigido pelo próprio Paulo Fonseca, teima em permanecer nas discussões sobre o tema. É que, de facto, o Porto nunca alterou o seu sistema com a entrada de Carlos Eduardo. Nem na segunda parte frente ao Braga, nem na recente vitória em Vila do Conde. Em organização defensiva isso é mais evidente, porque o Porto mantém uma linha de quatro elementos, muito clara, por trás de Jackson e de Carlos Eduardo. Em organização ofensiva é possível que haja alguma confusão, mas também aqui não se justifica concluir seja o que for sobre eventuais alterações estruturais.
O que existe, de facto, é uma alteração na especificidade que é oferecida pelas características naturais dos jogadores. Algo que, por exemplo, já se havia observado quando Quintero foi opção no lugar de médio mais ofensivo, pelo que pessoalmente ainda estranho mais o reavivar desta confusão, nesta altura. Voltando dinâmica e às diferenças entre jogar com Lucho ou Carlos Eduardo como médio mais ofensivo, elas resultam sobretudo da especificidade de Lucho e da sua invulgar capacidade para se movimentar sem bola, procurando sistematicamente soluções de passe no espaço entrelinhas. Esta é uma característica rara nos médios ofensivos, que são geralmente jogadores muito dotados tecnicamente e que por isso anseiam o contacto rápido com esta em vez de trabalhar pacientemente o aparecimento num espaço vazio e de costas para a baliza, como sucede com Lucho. Assim, a tendência é que estes jogadores procurarem espaços mais amplos para aparecer, seja nos corredores laterais ou mesmo através de um envolvimento mais precoce no jogo, baixando até linhas mais recuadas.
A consequência disto é que, sem Lucho, o Porto terá sempre menos jogo entrelinhas e necessitará de procurar outras dinâmicas alternativas, em especial o envolvimento do médio ofensivo nos corredores laterais. Já o movimento de recuo deste elemento não se apresenta como solução muito lógica dentro da natureza táctica do Porto, uma vez que com dois médios defensivos, o aparecimento de mais um jogador na fase de construção irá gerar redundância nessa fase do jogo, retirando paralelamente soluções de passe verticais.
Ou seja, para o Porto a alteração da característica abre-lhe uma oportunidade de corrigir uma das suas principais lacunas, que é a falta de qualidade no envolvimento colectivo nos corredores laterais, mas retirar-lhe-á também aquele que tem sido provavelmente o seu ponto mais forte em termos ofensivos, o jogo entrelinhas. Um pau de dois bicos, portanto
Bons sinais, mas sem precipitações
Tenho alguma dificuldade em assumir uma opinião sólida sobre o jogador, porque de facto o conheço ainda pouco. Na pré-época fiquei mal impressionado, sobretudo pela dificuldade em aparecer no jogo, em ocasiões em que claramente apareceu mais fixo entrelinhas. Nestas últimas exibições, porém, apareceu com outra mobilidade e conseguiu de facto bons jogos, onde se nota a maior propensão para o transporte de bola e sobretudo a sua qualidade de definição com o pé direito. Ainda assim, parece-me que possa estar a surgir mais um caso de entusiasmo prematuro em torno de um jogador ainda com pouco tempo de jogo. Recordo as expectativas criadas em torno dos primeiros minutos de Licá, Herrera e mesmo Quintero, sendo que nenhum destes conseguiu depois sequer agarram um lugar no onze base de Paulo Fonseca. Não estou com isto a projectar idêntico fado para o destino de Carlos Eduardo - até porque me parece que o seu timing de entrada na equipa é bem melhor - mas parece-me prudente dar tempo ao tempo.