19.12.13

5 jogadas (Sporting, Porto, Man City e Tottenham)

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Sporting - Belenenses - Só tenho boas coisas a dizer sobre estas duas equipas. Começo pelo Belenenses, para dizer que apesar dos 3 golos sofridos, esta é provavelmente a equipa da Liga cujo comportamento em organização defensiva mais aprecio neste momento. Pouca exposição da linha defensiva, bom ajuste posicional do duplo-pivot (nomeadamente nas coberturas feitas sobre os corredores laterais), boa noção da missão defensiva dos dois homens mais adiantados, boa percepção colectiva dos momentos/situações de pressão e boa intensidade defensiva de praticamente todos os jogadores. Com bola, é verdade que sentiu sempre muitas dificuldades, mas esta será seguramente uma equipa muito complicada de ultrapassar para qualquer adversário, caso mantenha a qualidade defensiva que tem apresentado.
Também o Sporting merece elogios, porque se o Belenenses foi extremamente competente defensivamente, o Sporting respondeu com uma qualidade igualmente elevada. Esbarrou quase sempre no bom ajuste posicional do seu adversário, é verdade, mas revelou sempre grande intensidade e acerto nas suas acções. A julgar pela resposta que deu, o Sporting estará mesmo na sua melhor fase da época.
Sobre a jogada que trouxe, foi praticamente o único lance de envolvimento colectivo em que o Sporting conseguiu superar a organização defensiva do Belenenses, na primeira parte (houve mais uma iniciativa individual de Carrillo e um lance que culmina no isolamento de Montero, mas que resulta de um ressalto de bola). Muito bom, novamente, o jogo pelos flancos do Sporting, com Capel e Cedric como protagonistas. Bom, também, o ajuste posicional do Belenenses, com o extremo (Fredy) mais interior, mas com o médio (Danielsson) a compensar nas suas costas, sendo que rapidamente a equipa coloca 3 jogadores na zona da bola. Aqui, porém, valeu o mérito dos dois jogadores do Sporting e algum descontrolo da profundidade, na acção individual de Danielsson.

Rio Ave - Porto - O lance do golo do empate do Rio Ave tem, em primeiro lugar, muito mérito por parte de Edimar. Não conhecendo pormenorizadamente o jogador, penso que tem feito o suficiente para que justifique pelo menos atenção de clubes de maior dimensão, em especial pela sua capacidade de cruzamento e também pelo poder que denota quando em transporte de bola. E é precisamente esta última virtude que está na origem do golo, conduzindo e aguentando a pressão dos jogadores do Porto.
De resto, a principal evidência no lance tem a ver com o posicionamento de Alex Sandro, que permanece demasiado aberto numa jogada que se inicia num lançamento lateral do seu lado, o que ajuda a acentuar o espaço entre o lateral e os centrais. É obviamente correcta esta critica, mas mesmo com um posicionamento interior, Alex Sandro não poderia ter evitado o desequilíbrio na jogada, já que a partir do momento em que a bola entra em Diego Lopes, estão criadas 2 soluções de passe de elevado potencial. Parece-me, portanto, que a montante do mau ajustante posicional do lateral esquerdo, há também alguma falta de agressividade na forma como a equipa portista lidou com a acção de Edimar, em especial Danilo.

Man City - Arsenal (I) - Foi provavelmente o grande jogo do fim-de-semana. São, obviamente, duas equipas de enorme qualidade, mas em qualquer dos casos penso que não estão completamente potenciadas, sobretudo no que respeita à organização defensiva.
Neste primeiro lance, temos uma situação em evidência durante a primeira parte do jogo, sendo a par do momento de transição, a circunstância de jogo que mais problemas causou ao Arsenal. É um movimento típico do City que, como já comentei aqui noutras ocasiões, aproveita muito bem a profundidade dos seus laterais. A grande fragilidade posicional do Arsenal reside, a meu ver, no comportamento da linha média, particularmente no posicionamento dos médios interiores. Neste caso, é visível o tempo que Touré permanece solto em zona central, com um dos médios interiores atraído para o corredor lateral e o outro encostado à linha defensiva. Também se percebe, não só neste lance, a constante indefinição do extremo (Wilshere) perante a presença de Zabaleta. Percebe-se que não há a intenção de fazer um acompanhamento individualizado, mas a verdade é que a indefinição é tanta que o jogador acaba por nem conseguir pressionar por dentro, nem auxiliar em nada no controlo sobre a acção de Zabaleta.

Man City - Arsenal (II) - Do outro lado do campo, também o City revela problemas de desempenho defensivo, a meu ver até mais do que o próprio Arsenal. É uma equipa que não tem uma grande vocação defensiva, nomeadamente nas suas 2 unidades mais adiantadas, o que acaba até por ser benéfico para o momento de transição, onde de facto esta equipa é muito forte. De todo o modo, tanto ao nível de controlo do espaço entrelinhas como da exposição na profundidade, o City apresenta notórias vulnerabilidades. No que respeita ao espaço entrelinhas, a acção de Fernandinho acabou por, neste jogo, atenuar bastante o problema. Mas ao nível do comportamento da linha defensiva, continua a verificar-se um comportamento que não me parece ser o ideal (embora, até certo ponto, esta seja uma questão que tem mais a ver com o ideal de jogo de cada um do que com outra coisa). O risco assumido pela linha defensiva é quase permanente e mesmo com o bloco mais baixo se identificam oportunidades para explorar a profundidade.
O caso desta jogada tem a ver com a resposta aos cruzamentos, em que a equipa o City mantém a linha defensiva praticamente na linha da bola, o que me parece oferecer grandes condições para que os avançados ataquem o espaço, tanto mais que é muito complicado para os defesas manter "sangue frio" no posicionamento antes do cruzamento, o que desde logo compromete a eficácia da equipa no objectivo de colocar os avançados em fora de jogo. O Arsenal só aos 94' marcou um golo por esta via, mas já antes havia ameaçado da mesma forma.
Outra situação em que foi notória a vulnerabilidade da linha defensiva do City é na resposta a um passe lateral interior, a partir de um dos flancos. Aqui, importa também sublinhar a preparação do Arsenal para aproveitar ofensivamente este tipo de situação, com o médio que recebe a procurar imediatamente a diagonal do extremo nas costas dos centrais, algo para que Walcott está muito vocacionado. Desta vez, o Arsenal não conseguiu eficácia neste movimento, mas certamente que veremos golos por esta via noutras ocasiões. Tanto marcados pelo Arsenal, como sofridos pelo City.

Tottenham - Liverpool - O fim da carreira de Villas-Boas em White Hart Lane não era necessariamente um fado anunciado, mas como fui escrevendo desde o inicio da época - e os jogos que vi nem foram muitos - eram identificáveis muitos problemas de resposta defensiva, isto mesmo na fase em que esta equipa era a melhor defesa do campeonato. Desta vez, frente ao Liverpool, o problema esteve também na confiança e numa série de factores que, combinados, ditaram novo descalabro. É claro que o mau desempenho de qualquer equipa nunca pode ser reduzido a um só factor - é a consequência da complexidade do jogo - mas parece-me que a resposta defensiva terá tido um peso importante neste caso. Nunca saberemos que capacidade teria Villas-Boas para inverter a situação, mas o Tottenham acaba por até nem ficar numa posição muito má se considerarmos a Liga dos Campeões como objectivo principal da equipa. O problema terão sido mesmo as duas goleadas num curto espaço de tempo.
Quanto ao lance que trouxe, o sublinhado vai, de novo, para a forma como a equipa do Tottenham rapidamente fica completamente exposta na sua linha defensiva. Os jogadores do sector mais recuado são sucessivamente atraídos para fora das respectivas zonas, acabando por ter de abordar a parte final do lance em posições completamente distintas daquelas que idealmente deveriam ocupar. Aqui, nota mais uma vez para a relação intersectorial, com os médios a mostrarem pouca sensibilidade para a exposição criada nas suas costas. Um problema que não é um exclusivo do Tottenham e que praticamente todas as semanas identifico nos lances que aqui tenho trazido. Finalmente, o mérito de Suarez, que é simultaneamente o criador e finalizador da jogada. É sublime a simulação que antecede a finalização, mas eu destaco também a forma como ele antecipa o ressalto, partindo de uma posição muito atrasada mas superando uma linha média do Tottenham que fica estática na abordagem à segunda bola. Sobre Suarez, atingiu um patamar em que falar dele não é mais do que uma banalidade, tal o nível em que se situa o seu rendimento. Há uns anos analisei-o quando estava no Ajax e se na altura o destaquei como um jogador de elevadíssimo potencial, capaz de jogar em qualquer equipa, confesso que até essas óptimas expectativas foram já superadas.

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