18.12.13

Fernando e a discriminação racial

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Não é propriamente o tipo de temática em que pretendo centrar o blogue, mas parece-me que é uma questão importante e que tem sido muito mal tratada em termos mediáticos, por isso faço aqui um parêntesis para tratar, não tanto do caso de Fernando em especifico, mas da questão do acesso de jogadores naturalizados à Selecção.

Para tentar simplificar o meu ponto, começo com uma pergunta: Concorda com a distinção/exclusão entre cidadãos de nacionalidade portuguesa por critérios arbitrários centrados na etnicidade de cada um?

Não tenho dúvidas, felizmente, que muito poucas pessoas responderiam afirmativamente a esta questão genérica. Até porque, olhando à definição das Nações Unidas, isso significaria que se concordaria com a "discriminação racial" entre cidadãos de nacionalidade portuguesa. Paradoxalmente, porém, muita gente afirma concordar com a exclusão de "jogadores naturalizados" da Selecção Nacional, sendo que realmente esta questão não é mais do que uma aplicação concreta da pergunta que primeiramente coloquei. Temos cidadãos da mesma nacionalidade e a sugestão da aplicação arbitrária de um critério de exclusão, centrado apenas e só na etnicidade dos candidatos. "Discriminação racial", de acordo com a definição das Nações Unidas.

Naturalmente, a generalidade das pessoas que defende a exclusão de jogadores naturalizados não o faz com a total consciência desta implicação discriminatória, resultando essa posição de uma reflexão menos aprofundada sobre o verdadeiro alcance da questão (eu próprio nem sempre tive a mesma percepção sobre o tema). Parece-me normal que isso possa acontecer no público em geral, mas já não posso dizer o mesmo das pessoas que têm influência sobre a opinião pública e que continuam de forma irresponsável a defender que a Selecção Nacional - provavelmente o maior símbolo mediático do país na actualidade - se preste a tão reles acto.

Posto isto, convém aqui separar duas situações: 1) a discriminação positiva de jogadores de futebol no acesso à nacionalidade portuguesa e 2) a discriminação negativa de jogadores portugueses no acesso à Selecção Nacional. O primeiro caso tem a ver com a aceleração e tratamento especial do processo de naturalização de cidadãos estrangeiros de forma a que possam representar a Selecção. Pessoalmente, sou contra, mas não se pode confundir a rejeição de uma discriminação positiva com a discriminação negativa do segundo caso. O acesso à nacionalidade portuguesa deve obedecer a regras claras e que devem ser iguais para todos. No limite, podemos discutir essas regras, mas nunca e em nenhuma circunstância, devemos permitir que qualquer entidade possa acrescentar de forma arbitrária critérios de exclusão relacionados com raça, origem genética ou etnicidade. Sendo coerente, aliás, a FIFA deveria mesmo excluir das suas competições as Federações que se prestassem a semelhantes práticas, sob pena dos anúncios e mensagens que se repetem a repudiar o racismo não passarem de actos de mera hipocrisia.

Dito tudo isto, convém referir que apesar de todo o ruído em torno desta questão, a Federação tem mantido até ver uma postura 100% correcta sobre o tema, não se intrometendo no processo de naturalização do jogador (algo que, no passado, aconteceu com outros jogadores) e declarando que qualquer jogador pode ser convocado, a partir do momento que lhe seja concedida a nacionalidade portuguesa. Acrescento eu que não apenas "pode" como "deve" de ser convocado, assim se considere que tenha condições técnicas, disciplinares e, claro, seja essa a sua vontade.

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