3.12.13

Paulo Fonseca e o exemplo de Vítor Pereira

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Há cerca de 2 anos, o Porto saía de Coimbra debaixo de grande contestação por parte dos adeptos, com os jogadores a serem esperados junto ao autocarro e o treinador, Vítor Pereira, a ser acompanhado pelo Presidente. A situação era quase gémea da actual, com o Porto a ver uma vantagem pontual anulada no campeonato, com a Liga dos Campeões praticamente comprometida e com a saída da Taça de Portugal após um terrível 3-0 em Coimbra.

Ora, talvez seja interessante, hoje, rever o que fez Vítor Pereira num contexto tão semelhante ao que tem hoje Paulo Fonseca (curiosamente, o jogo seguinte para o campeonato também era uma recepção ao Braga, embora pelo meio o Porto tivesse uma deslocação para fazer a Donetsk). Há dois pontos que saltam imediatamente à vista:

- Estabilização de um onze, apostando nomeadamente em Maicon na direita, Djalma como extremo e Hulk como referência central do ataque.
- Alteração do triângulo de meio-campo, colocando Defour mais entrelinhas e fixando um duplo-pivot, composto por Fernando e Moutinho.

Foi após estas alterações que o Porto venceu em Donetsk e frente ao Braga, não evitando depois a despromoção para a Liga Europa, mas conseguindo pelo menos aliviar a pressão que na altura existia sobre o seu treinador, ganhando tempo para mudar depois muita coisa no mercado de Inverno.

Que lição podemos então retirar? Analisando retrospectivamente, a verdade é que nenhuma das mudanças se afigura como brilhante. Maicon não vingou à direita, Djalma não vingou como extremo, Hulk regressaria mais tarde à ala e a opção de inverter o triângulo do meio-campo também acabaria mais tarde por ser revertida pelo próprio Vítor Pereira.

Esta é uma situação interessante, do meu ponto de vista, porque espelha como tantas coisas são sobrestimadas no futebol, especialmente no que toca ao curto prazo. O mais importante, tanto para Vítor Pereira em Novembro de 2011 como para Paulo Fonseca em Dezembro de 2013, é ganhar e recuperar a confiança dos jogadores. Talvez para tal seja favorável dar um sinal interno de mudança, o que tem a ver muito mais com o aspecto motivacional do que propriamente com a qualidade de opções técnicas ou tácticas.

Esta crise hipotecará certamente as hipóteses de que Paulo Fonseca caia alguma vez nas graças dos adeptos. Tal como Vítor Pereira, se o Porto voltar a ganhar, para a maioria será sempre mais uma vitória da estrutura. Uma vitória 'apesar' do treinador. E, já agora, um tremendo equívoco, na minha opinião.

O caso de Vitor Pereira em 2011, mesmo com todas as suas semelhanças, nada nos diz sobre o destino imediato do Porto de Paulo Fonseca, e seria um disparate concluir o contrário. Tudo pode acontecer. De todo o modo, é um exemplo de como o acerto das opções tácticas ou técnicas poderão contar muito pouco para a forma como esta história acabará. Uma ideia que contrasta radicalmente com o fatalismo que nos é vendido pelas análises de segunda-feira, mas que me parece ser a que mais se aproxima sobre a verdade deste jogo.

Porque no futebol só no longo-prazo se distingue verdadeiramente a competência da sorte.

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