6.10.11

Académica - Porto: opinião

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- O jogo acabou por não corresponder às expectativas relativamente à pressão e dificuldades que o Porto poderia experimentar, em face quer do momento menos positivo, quer da própria qualidade do adversário. Os 3 pontos ficaram cedo encaminhados, mas nem por isso este deixou de ser um jogo interessante do ponto de vista da análise. O Porto leva o mérito de ter sabido resolver um jogo potencialmente difícil, a Académica fica com o crédito de apresentar uma proposta de jogo com arrojo e qualidade suficientes para justificar uma discussão invulgar no nosso campeonato...

- Abordando o inicio do jogo, o período em que este se viria a definir, a Académica apresentou-se com os seus comportamentos habituais, mas com uma estratégia mais cautelosa nos momentos de organização. No fundo, a ideia foi reduzir o risco: em construção, com bola, saindo longo e evitando a exposição à perda. Sem bola, e perante a construção contrária, uma postura expectante sobre a primeira linha, não adiantando a pressão. A consequência mais visível foi aquela posse baixa e repetitiva do Porto, que todos constatamos, sobretudo após o 0-2. Vitor Pereira respondeu com uma circulação que tinha a intenção de ser paciente e trazer os médios para a construção. Sobre a paciência, ela nem sempre existiu, especialmente enquanto o jogo esteve com o placar equilibrado. Sobre a opção de trazer os médios para a construção, pelo menos de forma tão marcada, tenho as minhas dúvidas que fosse a melhor estratégia para o jogo em causa. Isto, porque frente ao Benfica, a Académica se havia mostrado vulnerável perante uma circulação mais larga na primeira linha, que fizesse a mudar rapidamente de corredor antes de entrar no bloco, pelas laterais. Aliás, nos primeiros minutos, voltou a mostrar essa dificuldade, mas depois o Porto passou a centralizar as suas saídas, a revelar alguma ansiedade e a cair na tentação de forçar a rotura nas costas da linha defensiva contrária. Esse espaço, o das costas da linha defensiva da Académica, era claramente aquele que tinha de ser explorado. A questão era, por onde?

- A resposta à pergunta com que terminei o ponto anterior parece ser, pelo menos na minha leitura, os corredores laterais. Já fora por aí que o Benfica construíra a sua vantagem frente a esta mesma equipa e foi por aí, também, que o Porto viria a abrir o seu caminho para os 3 pontos. Há nos 2 primeiros golos a semelhança de conseguir um primeiro passe na profundidade, no corredor, fazendo depois um passe atrasado que cria dificuldades de comportamento à linha de fora de jogo da Académica. Sobre os problemas da 'briosa' alongar-me-ei mais à frente, para já fica apenas a nota para este movimento normalmente mais detectável noutras ligas.

- A segunda parte seria diferente, com a Académica a inverter a sua estratégia, saindo mais em apoio e pressionando em zonas mais subidas. De novo, porém, a exploração das costas da linha defensiva viria a ser a chave para o terceiro golo, retirando intensidade e interesse conclusivp ao que se viu na última meia hora. Nesse golo, destaque para a abertura de Helton, que teve grande precisão e com o pior pé. Mais uma demonstração da qualidade do guarda redes a jogar com os pés. De resto, no campo individual, duas notas: uma para Walter, para voltar a assinalar a importância de um jogador que seja forte na área e que "tenha golo". Não digo que se tenha de jogar com um jogador de área, mas penso que é preciso medir muito bem quando se decide abdicar de um. Depois, sobre Otamendi, que teve um jogo preocupante. Acumulou erros a defender, más abordagens, e mesmo com bola foi possivelmente o mais ansioso e menos consistente de todos.

- Finalmente, então, a Académica. O primeiro elogio vai para o que a equipa faz com bola. Em transição é muito lúcida e capaz, usa Eder como referência para primeiro apoio frontal, mas a intenção é sempre tirar a bola da zona de pressão, se possível progredindo em largura e não imediatamente de forma vertical. Em Portugal, não vejo muitas equipas "pequenas" fazer isto. Vejo a tentativa de potenciação das características individuais e do espaço, mas poucas vezes com este critério e intencionalidade. Em organização, igualmente muitas coisas positivas. Intenção de dar amplitude ao jogo num segundo momento ofensivo, de abrir lateralmente o adversário antes do cruzamento, de abrir os médios, de potenciar o 1x1 dos extremos (Sissoko, sobretudo). Os problemas (e as minhas dúvidas) vêm dos momentos defensivos. Primeiro, e como já escrevi, creio que não há um bom condicionamento do ponto de saída, na primeira linha, e que isso cria dificuldades de controlo na fase subsequente. Depois, a última linha. O posicionamento base é muito agressivo, e como se viu frente ao Porto os jogadores nem sempre parecem confortáveis com ele. Dou o exemplo do segundo golo (no momento antecedente à combinação já abordada): o passe largo de Otamendi em direcção à ala (James) tem como resposta um recuo instintivo de alguns jogadores. Ora, sendo o passe tão largo e para uma zona lateral, estariam criadas todas as condições para que se tentasse o fora de jogo. Porquê que isso não acontece? Não posso responder, mas parece-me claro que esta forma tão agressiva de defender na última linha não tem ainda consistência suficiente para ser uma opção de sucesso frente a equipas tão fortes. Veremos como Pedro Emanuel faz evoluir este aspecto do jogo, porque me parece ser a questão mais urgente que tem em mãos...
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