31.10.11

Porto - Paços: opinião e estatística

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- Vou começar por Vitor Pereira. O Porto leva uma impressionante série de 11-0 na Liga, desde que empatou em casa com o Benfica, um registo que deixaria qualquer outro treinador seguramente em estado de graça, mas que, no Porto e para Vitor Pereira, não chega sequer para arrancar tímidos sorrisos da bancada. Cada um vê primeiro aquilo que decidiu ver, e só depois o que o jogo realmente lhe mostra. É assim, sempre foi assim, e este é um fardo que o treinador portista muito dificilmente conseguirá retirar das suas costas. Nem Jesualdo, que ganhou 3 campeonatos, 2 taças e 4 apuramentos para os oitavos da Champions, fazendo e refazendo equipas, se conseguiu livrar da ideia pré concebida que havia dele na hora da chegada. Que hipóteses tem Vitor Pereira de cair verdadeiramente na graça dos adeptos? Nenhuma. Pode ter sucesso, pode ser levado em ombros quando for o momento dos festejos, mas quando correr mal, quando sofrer um golo depois de fazer uma substituição, seja ela qual for, nessa hora é quase certo que voltará a ser ele o culpado. É a vida de treinador...

- Relativamente ao jogo, teve realmente duas partes com características distintas. Na primeira, mais ansiedade e mais insegurança, na segunda, mais confiança e mais intensidade. Já vou à diferença de abordagem após o intervalo, mas antes falar um pouco da primeira parte. Parece-me que, em termos ofensivos, o Porto teve sobretudo problemas pela sua instabilidade ao nível da decisão. Frequentemente, e com alguma facilidade chegava ao último terço em boas condições, desde que promovesse uma circulação larga na primeira fase, causando problemas de ajustamento ao bloco pacense, ou conseguisse encontrar Walter entrelinhas, que sempre teve espaço para rodar e encarar a linha defensiva de frente. Apesar do sentimento de desconfiança, a verdade é que foram mais do que suficientes as oportunidades que o Porto teve na primeira parte para chegar ao golo. No entanto, houve obviamente problemas no desempenho técnico que penalizaram a equipa ofensivamente e que, pior ainda, a expuseram ao momento de transição do Paços. Hulk, por exemplo, mas também Belluschi, pouco criterioso e frequentemente precipitado na verticalização do jogo. Isso pode ajudar a justificar alguma dificuldade de controlo no momento de transição ataque-defesa, mas não tudo aquilo que se viu. Aliás, será por aí que o Porto mais terá de se lamentar, porque se fez por merecer o golo que marcou na primeira parte, facilmente poderia ter também sofrido outro, e os efeitos que essa eventual penalização pudesse ter são impossíveis de estimar.

- Vitor Pereira não o escondeu, foi pedido à equipa que circulasse mais rápido na segunda parte, e a verdade é que essa exigência de intensidade, provavelmente aliada à confiança que a vantagem também garantia, trouxe um Porto bastante melhor após o intervalo. Aqui, quero abordar o tema, juntando à "intensidade" outra palavra ouvida recentemente, a "paciência". Intensidade, no sentido que se pretende aqui dar ao termo, é sempre positiva. Implica concentração, e reactividade de pensamento. Paciência, não. Paciência é um condimento, e não o prato principal, pode ser positiva, se for colocada em cima de qualidade e intensidade, mas pode ser negativa, se não o for. Pessoalmente, prefiro a expressão "critério", que é menos dogmática e mais aberta à especificidade do jogo. "intensidade" e "critério".

- Entrando no capítulo individual, quero falar de Defour e Moutinho. Começando pelo belga, para falar da discrição. Há jogadores que são discretos porque são, de facto, pouco presentes no jogo. Há outros, pelo contrário, que são discretos porque as suas intervenções são demasiado breves para que se repare neles. A discrição não é seguramente uma virtude, mas também não é necessariamente um defeito, só por si. Defour, encaixa-se no segundo tipo de discrição que defini. Por exemplo? A primeira parte deste jogo. Foi o mais influente do meio campo portista e o mais criterioso também. E com alguma distância. No entanto, e talvez por ter sido demasiado breve, ter passado mais e transportado menos, foi ele o sacrificado. Não quer dizer que tenha feito um jogo extraordinário, ou que a entrada de Moutinho não tenha acrescentado qualidade ao que vinha fazendo (que acrescentou...), mas é uma nota, mais uma, de como a percepção que se tem dos jogadores pode ser, pelo menos a meu ver, tão equivocada.

- Sobre Moutinho, os seus números na liga 2010/11:

Minutos: 2185
Passes completados (média p/jogo): 47
% sequência em posse (média p/jogo): 82%
Perdas de risco (média p/jogo): 0,5
Intercepções (média p/jogo): 18
Desequilíbrios ofensivos (total): 20
Assistências + golos (total): 3


Agora, em 2011/12, até agora:

Minutos: 609
Passes completados (média p/jogo): 52
% sequência em posse (média p/jogo): 79%
Perdas de risco (média p/jogo): 0,7
Intercepções (média p/jogo): 20
Desequilíbrios ofensivos (total): 11
Assistências + golos (total): 4


Há duas hipóteses sobre a "crise" de Moutinho. A primeira, é que ela realmente existiu e que o banco, miraculosamente, lhe fez maravilhas, em apenas 4 dias. A outra, é que não passou de uma avaliação individual mal feita, confundindo-se confiança colectiva com rendimento individual.

- Finalmente, duas notas. Uma sobre o Paços, que fez por merecer um golo mas que se mostrou demasiado vulnerável, uma vez ultrapassada a sua primeira fase de pressão (nomeadamente nos corredores laterais, mas voltarei a falar das estratégias das equipas pequenas quando escrever sobre o Olhanense). Outra, sobre a entrada de James, que voltou a protagonizar movimentos de liberdade posicional que o levaram até ao flanco oposto. Parece agora claro que são movimentos especificamente destinados a este jogador, já que com Varela e Hulk, eles não existem. Veremos se a sua utilidade aumenta, porque no passado eles trouxeram muito pouco de positivo.
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