3.10.11

Benfica - Paços Ferreira: opinião

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- Vou começar por comentar a natureza do jogo. Parece-me evidente o conforto com que o Benfica encarou o jogo, sem necessidade de grandes rasgos, mas com a percepção sempre presente de que uma exibição "normal" bastaria para uma vitória folgada. E assim foi. Há, nesta observação, uma grande dose de mérito do Benfica, que é uma equipa realmente forte, mas o que quero destacar é a diferença de potencial entre as equipas. Repete-se muitas vezes que o campeonato português é muito competitivo, mas eu tenho alguma dificuldade em concordar com a ideia. Não está em causa a capacidade de trabalho nas equipas mais pequenas, mas sim uma diferença de condições que, na minha leitura, se tem dilatado progressivamente com o tempo...

- Relativamente ao jogo, creio que importa contextualizar a estratégia do Paços. Pareceu haver uma intencionalidade de criar problemas desde a zona de construção e, em particular, limitar as saídas do Benfica pelos corredores laterais. Isso foi de alguma forma conseguido. Houve poucas saídas iniciadas por qualquer dos laterais (especialmente Maxi, que é um protagonista normalmente mais activo) e criaram-se situações de grande densidade na zona média, o que dificultou a vida ao Benfica. O que tornou o jogo tremendamente fácil para o Benfica, porém, foi o que acontecia a seguir. Ou seja, se a equipa tinha algumas dificuldades em passar dessa tal zona de maior densidade, quando o fazia, aproximava-se com enorme probabilidade do golo. E isso - a proximidade com o golo - é o que mais liga as equipas ao sucesso. Nota, aqui, para dois factores. Primeiro, os movimentos de lateralização do jogo numa segunda fase ofensiva e, segundo, a óbvia dificuldade do Paços em controlar os espaços na linha mais recuada.

- Sem haver muitas notas a fazer, queria explorar dois temas, começando pela influência das bolas paradas. Foi um dos "abre latas" do Benfica no jogo, conseguindo 4 dos 10 desequilíbrios por essa via. A curiosidade no campeonato encarnado tem a ver com as diferenças de aproveitamento destas situações entre os jogos disputados em casa e fora. Em casa, o Benfica criou 11 desequilíbrios e marcou 4 golos, comparando com apenas 2 desequilíbrios e nenhum golo, nos jogos fora. É certo que jogou mais vezes em casa e que um dos jogos fora foi no Dragão, mas é, ainda assim, um dado curioso e que será interessante acompanhar.

- O outro tema, tem a ver com o papel dos extremos nos movimentos de construção. Há uma intenção de trazer os alas para o corredor central, como solução para o primeiro passe, num movimento também identificado em muitas outras equipas. Aqui, parece-me haver uma diferença grande entre as soluções, com Bruno César a revelar-se mais consistente do que Nolito e Gaitan. Nolito, claramente, não tem qualquer apetência para esses movimentos, sendo um avançado de formação, não tem grande facilidade de desempenho nessa zona, nem, tão pouco, se aventura na procura desses movimentos (creio que esse é o principal motivo pelo qual não é um titular indiscutível para Jesus). Gaitan, por outro lado, aventura-se muito mais por essas zonas, porque gosta de ter a bola seja onde for. O problema de Gaitan é o perfil de decisão, demasiado orientado para o risco e pouco ajustado àquilo que se exige nessas zonas. Joga o tudo ou nada numa zona em que tal ainda não se justifica. Bruno César, por outro lado, parece-me revelar-se bem mais consistente na interpretação destes movimentos específicos. Aliás, em jogo corrido é enorme a diferença de certeza em posse de Bruno César para os outros dois, sendo a do brasileiro na ordem dos 74% e a dos outros dois a rondar os 60%.

- Finalmente, uma referência ao Paços. É impossível exigir-se muito a uma equipa que visita a Luz no momento em que o Paços o fez. Um desafio emocional desta ordem requereria sempre outro enquadramento para poder aspirar de forma minimamente realista ao sucesso. De todo o modo, e como referi, creio que o Paços conseguiu um bom condicionamento do jogo numa primeira fase, sendo esse o grande dado positivo a reter. O problema, defensivamente, é que isso não foi suficiente para garantir o essencial: o controlo objectivo sobre o adversário e a respectiva proximidade com o golo. Depois, no lado ofensivo, o Paços não teve realmente qualquer capacidade de se manter ameaçador ao longo do jogo. A sua zona de bloqueio nunca desencadeou recuperações que originassem transições que pusessem em causa o equilíbrio do Benfica e, em organização, a equipa privilegiou saídas mais longas e menos arriscadas(o que é razoável dado o contexto, diga-se). O que mais se estranhará é que num jogo destas características, Michel não tenha feito parte da equação principal...
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