4.10.11

Guimarães - Sporting: opinião

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- Continua o enorme interesse em torno da época do Sporting. Não tanto por aspectos técnicos ou tácticos, mas antes sim pelo lado emocional. É esse lado que torna o jogo num mistério, e aquele que dá maior incerteza ao futuro e às possibilidades de sucesso deste Sporting. Que hipóteses tem o Sporting de ser campeão? Racionalmente, poucas. Partia com menos argumentos, já cometeu alguns erros e, apesar do ressurgimento, está atrás dos mais fortes concorrentes. Racionalmente... mas o percurso de Domingos não tem sido excepcional por questões racionais. A capacidade de superação, o lado mental, aquele cuja compreensão nos escapa, que não explicamos, mas inequivocamente constatamos, esse sim, tem foi o segredo do trajecto incrível de Domingos. E, se pensarmos bem, ser campeão com o Sporting seria um feito bem menos improvável do que fazer 71 pontos com o Braga ou chegar à final da Liga Europa com os arsenalistas. Resta reconhecer a incerteza e esperar para ver...

- Relativamente ao jogo, a expulsão e o contexto que se lhe seguiu retirou grande dose de interesse do ponto de vista da análise de comportamentos. O Sporting, que fez um inicio de jogo positivo e prometedor, acabou por preferir reduzir o risco de perder aquilo que era, afinal, o seu objectivo no jogo, os três pontos. Legítimo e compreensível. A reflexão que proponho tem, de novo, a ver com o lado mental. Ou seja, pensemos num cenário de estados psicológicos inversos, e com as mesmas opções tácticas e técnicas... nunca saberemos o que aconteceria, mas eu estou tentado a pensar que as dificuldades do Sporting seriam muitíssimo maiores. De resto, há neste ponto um momento interessante, os últimos minutos da primeira parte. O Vitória está muito perto do empate, por Edgar, e nos minutos seguintes volta a conseguir colocar um jogador em zona privilegiada, coisa que não tinha conseguido, nem repetiria. Era fundamental, para o Vitória, que voltasse a ter um desses momentos na segunda parte, que conseguisse extrair do jogo uma prova de que a crença era justificada. Como não aconteceu, e porque o Sporting sempre fez tudo para o evitar, a segunda parte acabou por ter sempre o "momento" favorável ao Sporting.

- Do lado do Sporting, que é a equipa que venho seguindo com mais pormenor, não houve possibilidades de ver muito em relação à evolução dos comportamentos tácticos intencionais. Ainda assim, voltou a ficar a ideia de uma melhor definição do papel dos médios (em organização defensiva) em relação a alguns jogos atrás, assim como se voltou a ver uma ala direita com grande facilidade de levar o jogo até ao último terço. A curiosidade por ver Jeffren a juntar-se a essa dinâmica, com João Pereira e Elias, é grande. Sobre os aspectos colectivos do Sporting, nota para a compreensível indefinição do que fazer com 10. Domingos, aliás, pareceu ir reagindo com o que o jogo lhe mostrava. Primeiro, retirou Carrillo, talvez escaldado pela falta de apoio a João Pereira no tal cruzamento de Maranhão, que Edgar desperdiçou. Depois, já na segunda parte, viu o mesmo Maranhão ganhar espaço à direita, perante alguma falta de intensidade de Capel, e reforçou o corredor. Na verdade, o Sporting fez pouco a partir do momento de transição, não conseguiu valorizar a posse nem, tão pouco, aproveitar a ansiedade e exposição do Vitória para se aproximar do segundo golo, explorando a profundidade. Domingos conseguiu, pelo menos estancar a fonte dos ataques vitorianos, os corredores laterais, fazendo com que os cruzamentos saíssem cada vez mais de trás e tornando-os mais fáceis de controlar. Como o Vitória não teve nem mais ideias, nem mais inspiração, isso foi o suficiente...

- Já agora, fica a pergunta: como jogar com 10, num contexto destes (expectativa e bloco baixo)? As duas soluções que estou a equacionar (não serão as únicas, evidentemente) são utilizar 441 ou 4311. Domingos acabou por convergir para a segunda, e sou da opinião que era a que mais se justificava. Recordo-me do Porto ter tido uma excelente segunda parte num contexto semelhante, frente ao Besiktas, em que usou o 441, com Hulk na frente. A diferença pode estar nas características dos jogadores. Com 1 jogador mais explosivo e forte no 1x1, pode fazer sentido isola-lo, convidando à exposição. Da mesma forma, se houver extremos com grande capacidade de explorar a profundidade, o 441 pode fazer mais sentido porque permite um desdobramento da linha média a partir do momento de transição, sem perda de equilíbrio. Mas, no caso do Sporting, onde essas características não existem, pelo menos com tamanha capacidade, o 4311 poderia ser melhor solução para o momento de transição, porque é perfeitamente possível defender a largura, em bloco baixo, com a linha de 3 e porque passa a ter mais referências frontais para o primeiro passe após a recuperação. Isto, claro, não invalida a constatação anterior, de que o Sporting pouco extraiu do seu momento de transição.

- Ainda no Sporting, algumas referências individuais. Polga, claro, que fez um jogo tremendo em termos defensivos. Não é surpresa nenhuma, e já havia feito vários jogos deste calibre na época anterior, inclusivamente em Guimarães, num jogo de características semelhantes ao desta época. A diferença no reconhecimento actual tem, na minha perspectiva, apenas a ver com o facto da equipa estar a passar por um bom momento, sendo muito mais fácil ver qualidades individuais nos bons momentos colectivos. Depois, um caso estranho que foi Schaars: esteve não só no golo, mas em vários dos melhores momentos ofensivos da equipa, mas foi também protagonista de uma exibição estranhamente instável ao nível das opções com bola, acabando com uma % de sequência em posse anormalmente baixa. Wolfswinkel, que não teve desta feita oportunidades para marcar, mas que voltou a mostrar o que representa a sua presença nos outros aspectos do jogo, muito efectivo defensivamente e dando sequência à esmagadora maioria dos lances que atraiu para si. Finalmente, nota para André Santos, que voltou a não se exibir dentro dos parâmetros exigíveis, sendo inclusive questionável se não teria sido mais útil lançar Carriço num primeiro momento, porque, e embora seja um central de raiz, este esteve muito mais efectivo no curto espaço de tempo que teve em campo...

- Finalmente, falar sobre o Vitória. Há na exibição da equipa um enorme peso da componente psicológica, parece-me evidente. Más opções, maus desempenhos, nenhuma inspiração. De todo o modo, é preciso dizer que a "era" Rui Vitória tem sido para mim decepcionante. Esperava um crescimento muito maior, sobretudo depois da primeira vitória, bem moralizadora, na Madeira. Não acompanho com rigor suficiente para me aventurar em considerações muito específicas sobre os motivos dos problemas, mas estranho a insistência em jogadores tão inconsistentes, como Barrientos ou Faouzi, quando existem outras soluções aparentemente bem mais fiáveis do lado de fora. Enfim, continuo a acreditar numa evolução, mas só o tempo poderá dar a resposta...
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