24.10.11

Beira Mar - Benfica: opinião e estatística

ver comentários...
- Começo pelo balanço final do jogo. O primeiro ponto tem a ver com a relação importante entre o resultado e a percepção que é retida no final. Quer se goste, quer não, a influência é tremenda. Este foi o primeiro jogo (no campeonato) em que o Benfica construiu menos oportunidades de golo que o seu adversário, mas nem por isso foi aquele que mais insatisfação gerou. Bem pelo contrário. O Benfica atravessa um ciclo de resultados positivos e este foi apenas mais um jogo que contribuiu para alongar esse ciclo, pelo que a exibição se torna perfeitamente secundária para o sentimento geral. É-me difícil, mesmo impossível, distinguir entre estas relevâncias, uma positiva por continuar a ganhar, e outra negativa por não ter feito o suficiente em termos de produção de jogo. É a tal questão já abordada sobre a relação não linear entre resultados e exibições. E como não é linear...

- É interessante constatar como as modas vão e vêm no futebol. Por exemplo, em Portugal, e a seguir ao sucesso de Mourinho no segundo ano de Porto, tivemos a moda do losango. Várias eram as equipas que optavam por essa estrutura, mas, de repente, a moda dissipou-se e, hoje, já pouco se vê esse esqueleto nos relvados da liga. O Beira Mar surge como uma excepção e essa estrutura pareceu criar alguns problemas de adaptação ao Benfica. Curioso como o Beira Mar pareceu pouco preocupado em deixar que o Benfica construísse em posse, quase que desejando que o fizesse. Com 2 jogadores na primeira linha e 1 a impedir o passe interior no corredor central, o Benfica era convidado a sair pelos laterais, que estavam sempre livres para receber, mas o problema vinha depois. Com a bola a entrar no flanco, a densidade de jogadores no corredor central do Beira Mar aproximava-se do lado da bola, como que encurralando o jogo encarnado. Porque não conseguiu o Benfica ultrapassar este obstáculo? A resposta que encontro aponta para a falta de uma orientação estratégica clara e para a falta de dinâmica nos corredores. Parece-me que seria importante ligar rapidamente corredores, para dificultar a tal aproximação do núcleo central do Beira Mar, mas isso nunca foi bem conseguido. Quer numa primeira linha, antes da bola entrar no lateral, quer numa segunda linha, num movimento mais difícil mas potencialmente mais perturbador, que passaria por tentar ligar o jogo de forma lateral numa segunda fase do jogo ofensivo. Aqui, parece-me também que a ausência de Maxi pode ter sido relevante, já que é um jogador que tem uma capacidade de progressão superior, quer a Ruben Amorim, quer a Emerson. E isso talvez tivesse ajudado.

- Mas há mais factores que podem explicar as dificuldades do Benfica em termos ofensivos. Começando pelo próprio Beira Mar que, para além de ter criado dificuldades em organização, foi sempre muito conservador em termos de exposição, não permitindo quaisquer hipóteses de desequilíbrios em transição. Depois, não chegando de forma consistente ao último terço, ficava difícil de actuar a partir da reacção à perda, como o Benfica gosta habitualmente de fazer. Mas, aqui, também me parece ter havido algumas dificuldades em alguns momentos, particularmente com Matic a não me parecer tão eficiente quanto Javi costuma ser. Esta será a grande diferença de Matic para o espanhol, já que em termos de construção, e sendo jogadores com perfil diferente, não me parece que qualquer um deles leve vantagem significativa, continuando o Benfica sem uma solução forte em termos de construção para a posição. Essa é outra questão difícil de responder concretamente: Jesus privilegia aspectos de ordem posicional e física, para esta posição, perdendo em termos de qualidade com bola. Gostos à parte, e enquanto não pudermos ver uma alternativa com outro perfil, é difícil distinguir entre os pesos do que ganha e do que perde com esta opção.

- Interessante também analisar o Beira Mar. A derrota é francamente ingrata para aquilo que a equipa produziu e, sobretudo, para o que conseguiu em termos de condicionamento do adversário. No lado ofensivo, a equipa conseguiu criar oportunidades em número, diria, normal para o aquilo que é expectável frente a um grande. O suficiente para poder aspirar a fazer um golo, mas não mais do que isso. No entanto, o ponto que quero realçar tem a ver com a transição ofensiva. Não é a primeira vez que o refiro em relação às equipas mais "pequenas", e particularmente para uma equipa que consegue defender de forma eficaz como tem feito o Beira Mar, surgem muitas oportunidades para fazer do momento de transição uma força ofensiva. O que penso é que falta algum critério neste momento à generalidade das equipas "pequenas", que procuram verticalizar rapidamente ou que não têm a preocupação (pelo menos aparente) de definir, estrategicamente, este momento de forma a potenciar as dificuldades aos adversários. Não que o tenha feito sempre mal neste jogo, porque fez algumas vezes bem, mas ficou-me a ideia de que a orientação estratégica neste momento pode ser melhorada e que se isso acontecer a equipa pode ganhar muito em termos de produção ofensiva.
Ler tudo»

AddThis