27.2.15

Notas da Champions

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- Começo pelo jogo entre Man City e Barcelona, talvez o mais aguardado dos oitavos de final. Mais do que o resultado, não surpreende a superioridade dos catalães, um pouco na linha do que venho escrevendo nas últimas semanas. Não surpreende, mas é surpreendente que não surpreenda. Isto é, não há nenhum motivo pelo qual se possa considerar normal que um projecto com o investimento que tem tido o Man City se encontre, tantos anos e milhões de libras depois, tão longe do ponto mais alto do futebol europeu. Não sendo um admirador especial do futebol de Pellegrini, também me parece que as suas ideias têm muito mais conteúdo do que as que tinha Mancini. No entanto, isto não quer dizer que Pellegrini esteja a representar um avanço significativo relativamente ao seu antecessor. É que por muito que não se gostasse daquilo que fazia a equipa de Mancini, parece-me indiscutível que com ele o City evolui muito mais do que com o seu sucessor. Porquê? Basicamente, porque com Mancini - e mesmo se nem todos os reforços foram bem sucedidos - os milhões foram canalizados para unidades como Aguero, David Silva, Nasri ou Yaya Touré, que continuam a ser ainda hoje as principais unidades da equipa. Com Pellegrini, a torneira não secou, mas os milhões passaram a ser canalizados para jogadores como Mangala, Fernandinho, Alvaro Negredo ou Jovetic (Referencio propositadamente estes 4 porque, incrivelmente, o valor total despendido na sua aquisição é mais ou menos o mesmo do que aquele que foi preciso para contratar os outros 4, acima mencionados). Talvez o óbvio seja pouco interessante, mas no futebol ninguém pode fazer - nem de perto, nem de longe - tanta diferença como os jogadores, e por isso as escolhas que são feitas a esse nível continuam a ser o que mais e melhor define o sucesso ou insucesso das equipas.

- A grande surpresa veio, sem dúvida, do Emirates. Não vou falar muito do jogo, porque não o vi com detalhe, mas posso falar das equipas, porque as acompanho com bastante regularidade. Começando pelo Arsenal, que é o caso que mais me intriga, não vou dizer que se tenha tratado de um desfecho previsível (o Arsenal tem obviamente muito melhores recursos do que o Mónaco!), mas posso sem dúvida afirmar que esta enésima versão que Wenger montou nos Gunners, será das mais desapontantes de sempre. Desapontante, porque é impossível não reconhecer qualidade a jogadores como Ozil, Alexis ou Cazorla, mas ao mesmo tempo o Arsenal de hoje deverá ser também dos que mais dificuldades têm em assumir o domínio territorial do jogo, mesmo no plano interno. Por exemplo, no fim de semana passado a equipa fez um jogo horrível no derby com o Crystal Palace, vencendo é certo, mas passando quase todo o tempo a ser remetida para o seu extremo wreduto por uma equipa que lhe é francamente inferior. A reputação herdada do passado faz com que ainda vejamos o Arsenal a ser retratado como uma equipa de futebol atractivo e ofensivo, mas a verdade é que a equipa de Wenger não faz sequer juz ao potencial técnico que tem ao seu dispor, e hoje é obrigada a defender com muito mais frequência do que se poderia esperar, fazendo-o com muita gente envolvida, mas nem sempre necessariamente bem.
Quanto ao Mónaco, Leonardo Jardim tem de facto feito um trabalho fantástico, nomeadamente na Champions. No entanto, esta não é nem por sombras uma equipa brilhante. Mesmo a nível interno, o Mónaco tem muitas dificuldades em superiorizar claramente em relação à generalidade das equipas da Ligue 1, tendo quase sempre de trabalhar muito para conquistar os pontos que ambiciona. Diria que o Mónaco é uma equipa que se organiza bem e tem uma boa atitude competitiva e que por isso sabe sofrer quando precisa, sem dúvida, mas diria também que sofre mais do que aquilo que seria desejável, e que por isso dificilmente poderá lutar por um lugar no top 3 do seu campeonato interno, por muitos elogios que a sua trajectória europeia possa merecer.

- Continuando na onda das surpresas, ainda que esta seja na minha leitura apenas meia surpresa, tivemos ainda a vitória do Leverkusen, que complicou muito o apuramento do Atlético. Digo meia surpresa, porque mesmo se era do lado dos madrilenos que estava o favoritismo, claramente não me parece que fosse razoável esperar que o Atlético conseguisse uma grande superioridade frente a uma equipa cujo nível técnico não é assim tão diferente do seu. Já o escrevi - inclusivamente no ano anterior - que por muito mérito que os extraordinários feitos do Atlético possam ter, não se pode descontextualizar a verdadeira realidade da equipa, colocando-a por exemplo no mesmo patamar que Real Madrid ou Barcelona. E, a este respeito, recupero aqui boa parte do raciocínio que partilhei acima a propósito do Man City e da sua evolução qualitativa. No caso do Atlético, a sua organização e intensidade deverão continuar a servir de garantia de qualidade para o futuro, mas a equipa só poderá verdadeiramente aproximar-se dos melhores se for conseguindo paralelamente melhorar o seu plantel, particularmente com jogadores que lhe permitam ter mais tempo a bola e com qualidade. Ora, se o Atlético tem conseguido substituir relativamente bem os jogadores que têm saído - mesmo que algumas diferenças existam - tem também sentido muitas dificuldades em acrescentar aos seus quadros jogadores que possam contribuir para o tipo de evolução a que me estou a referir. Em concreto, parece-me que a equipa continua a depender em demasia do rendimento de Arda Turan para conseguir aumentar a sua qualidade de envolvimento com bola, e quando o turco não está ou não está bem, não há mais ninguém, o potencial do Atlético diminui significativamente. Mais uma vez, são os jogadores e a sua qualidade que podem determinar, ou não, a grande parte da evolução de cada equipa. Mesmo no caso que possivelmente mais contraria esta ideia...

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