16.12.14

Porto - Benfica (II): análise individual

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Porto
Fabiano - Num jogo com muito pouco trabalho, não só sofreu dois golos como ainda sobram dúvidas sobre o seu desempenho em ambos os lances. São duas situações diferentes, na primeira o facto de ser um lançamento e por isso não haver o perigo da bola sair ao segundo poste, talvez se justificasse estar mais próximo dos jogadores à sua frente, precisamente para poder intervir se a bola fosse para aquela zona. No segundo, fica também a ideia de que poderia fazer melhor, dada a distância e previsibilidade do remate, no entanto também é possível que não tivesse a melhor visão, dado o posicionamento de Danilo. De resto, foi muito solicitado para jogar com os pés, tendo respondido bem e com a curiosidade de ter completado mais passes do que qualquer jogador do Benfica!

Danilo - Está nos dois lances de golo do Benfica, onde poderia ter respondido de forma mais intensa, o que manifestamente não é a sua especialidade. Ainda assim, e num registo que nele não é garantido, ganhou claramente vantagem nos duelos que travou no seu corredor, contando com a ajuda da boa organização colectiva, que condicionou a abordagem técnica dos jogadores do Benfica que apareceram na sua zona (particularmente, Gaitan). Com bola, foi dos mais irregulares na presença em posse, o que não é invulgar, mas não conseguiu desta vez fazer valer o seu ponto forte, que é capacidade para desequilibrar no último terço.

Alex Sandro - Um jogo globalmente muito positivo, ganhando claramente o confronto com Salvio. Defensivamente, dominou a sua zona, tendo-se destacado especialmente no momento de transição ataque-defesa, onde fez 9 intercepções, um registo igualado apenas por Casemiro. Com bola, esteve regular em termos de eficácia em posse, e conseguiu ainda participação importante em dois dos desequilíbrios da equipa, o primeiro num lançamento para Oliver, e o segundo numa jogada individual que terminou com a finalização de Jackson, na cara de Júlio César. Não foi certamente pelo seu desempenho que se justificou a sua substituição.

Martins Indi - Os indícios que havia descrito no jogo de Alvalade (e que globalmente passaram despercebidos) confirmaram-se em pleno nesta nova observação mais detalhada. Ou seja, a generalidade das suas abordagens são acertadas, sem dúvida, mas é um jogador que se protege muito de intervenções de maior grau de dificuldade, nomeadamente intervindo e antecipando muito pouco no espaço á sua frente. Isto reflecte-se claramente no número de duelos/intercepções que conseguiu, que é muito baixo e incomparavelmente inferior ao de Marcano. Com bola, esteve bastante activo na fase de construção (foi o jogador com mais passes completados no jogo), e esteve globalmente bem, apesar de ter sido protagonista da perda de bola que deu origem à transição mais perigosa do Benfica no jogo, para além dos golos.

Marcano - Voltou a aparecer a titular num jogo grande em que o Porto perde, e claramente em termos mediáticos a sua reputação voltará a não ganhar com isso. No entanto, não só não me surpreende a sua titularidade, em face dos sinais que Lopetegui vinha dando, como concordo completamente com ela, parecendo-me Marcano claramente o melhor central portista nesta temporada, em sentido inverso do que me parece ser a apreciação geral. Com bola, não é um jogador muito arrojado em termos de presença posse, preferindo manter um perfil sóbrio e de pouco risco (que é totalmente ajustado à posição que ocupa, diga-se), o que não o impede de dar boa sequência a quase todas as jogadas que por si passam. Sem bola, e ao contrário de Martins Indi, tem uma excelente capacidade de intervenção, antecipando com frequência no espaço à sua frente, e mantém também um posicionamento que me parece correcto e de acordo com as orientações colectivas. Destaque para o seu papel no controlo do momento de transição, e no contributo que deu para que o Benfica não conseguisse sair a jogar a partir de reposições longas, como era intenção de Jesus.

Casemiro - Não podia ser mais radical a diferença do seu desempenho, nos planos defensivo e ofensivo. Defensivamente, foi o jogador com mais intervenções, num registo bastante impressionante no controlo e domínio da sua zona. Parte, geralmente, de uma zona muito próxima dos centrais, o que ajuda a controlar o espaço entrelinhas, e aparece depois a criar superioridade nos corredores, ajudando a encurralar os adversários junto à linha, que é algo que o Porto faz bem. Com uma boa organização colectiva, a sua capacidade de intervenção permite-lhe depois ganhar um número muito grande de duelos, sendo também ele um dos motivos pelos quais o Benfica jogou tão pouco. Com bola, e em sentido completamente oposto, dificilmente o Porto poderia ter um jogador que oferecesse tão pouco à sua fase de construção. Na sua posição, pedia-se não só que fosse um jogador com mais capacidade de intervenção na posse da equipa, como que fosse capaz de garantir maior eficácia nas suas aparições com bola. Infelizmente, os seus números falam por si, e não só não interveio com a regularidade esperada, como foi o jogador da equipa que mais passes perdeu, o que para um jogador de fase de construção é no mínimo estranho. Parece-me que o problema terá sobretudo a ver com a forma questionável como decide, especialmente quando é colocado sobre pressão.

Herrera - Na primeira parte conseguiu um bom impacto, tirando partido do espaço que o Benfica dava e dando alguns problemas de controlo a Samaris, nos seus habituais movimentos na profundidade. Para além disso, ainda foi protagonista da finalização, na primeira ocasião do jogo. No entanto, com o recuar das linhas do Benfica passou a ter menos espaço e a sua presença na profundidade a ser anulada de forma relativamente fácil.

Oliver - Na minha opinião, fez um jogo muito bom e completo. Ofensivamente, começou por criar problemas ao Benfica, com movimentos na profundidade que estavam claramente trabalhados. Depois, e tal como Herrera, a sua vida ficou mais difícil com o recuar das linhas do Benfica, mas ainda assim manteve-se mais solícito do que o mexicano no envolvimento colectivo, e geralmente com qualidade. Mas foi no capítulo defensivo que a sua exibição terá sido mais surpreendente, pela positiva. Definiu muito bem o seu posicionamento, e fechou com grande propósito junto de Casemiro, contribuindo também para o domínio portista nas bolas divididas sobre a zona central. Em destaque, também, o seu bom contributo no momento de transição ataque-defesa.

Brahimi - Foi, diria, um jogo de grande esforço mas pouca utilidade objectiva. Maxi tentou condicioná-lo sempre no momento da recepção, e é verdade que o argelino não se escondeu nunca do jogo, aparecendo com bastante frequência e conseguindo até um bom desempenho em termos de sequência em posse. Aliás, à excepção dos centrais, foi o jogador que mais passes completou e com melhor % de acerto. No entanto, a acção de Maxi produziu os seus frutos, afastando muito as acções de Brahimi das zonas terminais do terreno, o que as tornou globalmente inofensivas.

Tello - Foi o protagonista do primeiro rasgo ofensivo do jogo e, com André Almeida condicionado com o amarelo desde o primeiro minuto, poderia pensar-se que estaria nele uma das chaves da partida. Puro engano. Não só interveio pouco, mantendo-se sempre muito agarrado à linha, como as suas poucas aparições no jogo acabaram por ter um impacto practicamente nulo. Parece muito dependente do espaço e da ausência de coberturas defensivas por parte dos adversários.

Jackson -  Fica associado ao jogo como tendo sido protagonista das principais ocasiões que equipa teve para marcar. Como sempre, e mesmo não marcando, vejo nisso um indicador bem mais positivo do que negativo, por muito que com mais eficácia da sua parte o destino do jogo pudesse ter sido outro. De resto, fez um bom jogo nos mais variados planos, mantendo-se disponível para o jogo e batendo-se bem nos duelos que travou com os centrais contrários.

Benfica
Júlio César - Na verdade, só fez uma intervenção decisiva, mas é impossível não achar que com ele o Benfica tem muito a ganhar em relação a Artur, naquela que me parecia uma lacuna importante da equipa. Noutro plano, fez várias reposições longas no jogo, mas quase todas elas tiveram um destino favorável ao Porto, sendo que neste facto encontro poucas responsabilidades da sua parte.

Maxi - A sua missão no jogo foi, quase exclusivamente, condicionar Brahimi. Aparentemente a sua ideia passou por evitar que o argelino enquadrasse, e nesse aspecto a verdade é que a sua acção produziu bons resultados, nomeadamente forçando Brahimi a baixar muito no terreno para ter a bola. No entanto, esta foi uma exibição anormalmente sóbria do ponto de vista ofensivo, sendo o jogador com menos participação com bola, entre os que iniciaram o jogo. Nota incontornável para o lançamento longo, na origem do primeiro golo.

André Almeida - Tudo indicava que passaria por problemas, ao ver um amarelo tão cedo, mas a verdade é que se aguentou bastante bem, sendo importante assinalar que tal só foi possível pela ajuda que teve da boa organização colectiva, nomeadamente das coberturas que lhe foram sendo feitas nos duelos com Tello. Mais tarde, teve mais dificuldades perante Quaresma, que diversificou bem mais as suas soluções. Com bola, e de acordo com a exibição da equipa, apareceu muito pouco.

Jardel - Foi o jogador com mais duelos/intercepções ganhos da equipa. Como quase todos, beneficiou com o recuar das linhas da equipa, sentindo-se bem mais confortável com menos espaço para controlar. Apesar destas notas positivas, não evitou alguns erros potencialmente comprometedores, e que nele acontece com alguma regularidade. Em destaque, uma intercepção falhada numa zona fundamental e com Jackson nas costas, e também ao nível do passe onde se mostrou intranquilo, mesmo num jogo com tão poucas solicitações a esse nível.

Luisão - Travou um duelo interessante com Jackson na primeira parte, em que me pareceu sair por cima. Depois, manteve-se sóbrio e eficaz mas foi perdendo capacidade de intervenção, o que provavelmente estará ligado com os problemas físicos que determinaram a sua substituição.

Samaris - O jogo não começou por ser fácil para ele, nomeadamente com dificuldades em controlar os movimentos de Herrera e em definir o posicionamento numa zona em que frequentemente o Porto conseguia superioridade numérica. Com o recuar da equipa, porém, arrancou definitivamente para uma exibição bastante positiva do ponto de vista defensivo, destacando-se não só a sua acção na linha média, mas também a sua interacção com os elementos da linha defensiva, ajudando a equipa a estar sempre bem posicionada nessa zona. Com bola, teve um jogo complicado tal como toda a equipa.

Enzo Perez - Não foi o tipo de jogo que retirasse o melhor do que tem para oferecer. Nomeadamente ao nível da presença em posse, não teve oportunidade para pegar no jogo como é seu hábito, em face de uma estratégia que tentava jogar a partir de reposições longas e segundas bolas. Bateu-se bem, sem surpresa, mas não o suficiente para empurrar a equipa para a frente, como aconteceu noutras ocasiões.

Gaitan - Jogo de grande entrega e disponibilidade, sendo o jogador da equipa com mais intervenções com bola. Infelizmente, porém, não teve a eficácia correspondente, sobretudo pelo condicionamento que o Porto conseguiu fazer, mas possivelmente também por alguma tendência para jogar por vezes depressa de mais. Ainda assim, não deixou de evidenciar a sua qualidade em alguns lances. Sem bola, e como é seu hábito, esteve bastante bem, bastante disciplinado posicionalmente e com boa entrega aos diversos lances divididos que o jogo teve.

Salvio - Se todos os jogadores sentiram dificuldades na presença com bola, nenhum sentiu mais do que Salvio. De facto, pouca participação e pouca eficácia, sendo que aqui há sobretudo muito mérito do Porto e de quem jogou na sua zona. Tinha a expectativa de que pudesse ser uma arma ofensiva nas acções de transição, dada sua verticalidade, mas a equipa acabou por ser praticamente inexistente a esse nível, anulando-lhe também essa oportunidade. Salvou-se a sua entrega e bom contributo defensivo, o que é obviamente muito pouco.

Talisca - Estou em crer que os centímetros terão pesado muito para a sua inclusão no onze, dada a estratégia com que Jesus abordou o jogo, com grande enfoque nas reposições longas. A verdade é que nesse plano, o Porto anulou completamente as intenções do treinador do Benfica. Ainda assim, Talisca voltou a mostrar que é um jogador bastante dotado tecnicamente, sendo o jogador com melhor % de acerto em posse, apesar de jogar numa zona densa e difícil. O problema de Talisca, e tal como já escrevi, parece-me ser o seu envolvimento no jogo, acabando por não conseguir criar espaços para ser mais vezes solução, e não tendo do ponto de vista defensivo a intensidade e a leitura táctica para oferecer também um melhor contributo nos duelos que se travaram na sua zona. A sua principal marca no jogo foi, claro, o remate que antecede o golo de Lima.

Lima - Já tinha escrito que a questão da eficácia é demasiado volátil e aleatória para ser tão valorizada, como é, no curto prazo. O que melhor define a probabilidade de um jogador vir a fazer golos no futuro não são os golos que marcou, mas as ocasiões de que usufruiu, e nesse sentido Lima continua a ser o jogador com maior probabilidade de fazer golos na equipa (talvez a par de Jonas). Este seu arranque de época, e aquilo que dele se tem dito e escrito sobre ele, faz-me lembrar um pouco a situação de Rodrigo há um ano atrás. Para além dos golos - que são o mais importante, obviamente - teve um contributo importante, tanto no envolvimento com bola como ao nível da sua entrega e duelos que travou.

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