20.11.14

As probabilidades do campeonato

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É o que os adeptos querem saber e anseiam por descobrir ao longo da época, se o seu clube se vai sagrar campeão! Naturalmente, ninguém tem uma bola de cristal que possa matar essa ansiedade, e neste sentido não haverá alternativa a esperar para ver o que vai acontecer, mas talvez seja possível ter uma ideia razoável das probabilidades de cada equipa. E é precisamente esse exercício que venho propor e partilhar.

Metodologia
A ideia é estabelecer um valor arbitrário para cada equipa e, a partir daí, obter as probabilidades de vitória, empate e derrota em cada um dos jogos que faltam, somando aos pontos daí resultantes aqueles que já foram conquistados. Se simularmos isto uma única vez, claro, vamos obter um resultado fortemente influenciado pela aleatoriedade, e que por isso nos vai dizer pouco. Mas, se a simulação for repetida um número considerável de vezes, então poderemos isolar com bastante segurança o ruído que vem do factor aleatório e ficar com expectativas resultantes apenas do desempenho esperado das equipas (o método "montecarlo", para quem estiver familiarizado). Assim, a tabela que apresento representa o resultado de 500 simulações do campeonato.

Importa, claro, perceber também o ranking pré definido para as equipas. Tentando ir de encontro àquela que será, parece-me, a visão mais comum, considerei Benfica e Porto com igual valia, o Sporting entre estes dois e o Braga, seguindo-se as restantes equipas.

O peso da aleatoriedade, mesmo numa prova de longo prazo
Para além das probabilidades e expectativas obtidas, parece-me haver algumas reflexões interessantes que decorrem deste exercício. Em particular, o desprezo que existe pela possibilidade do factor aleatório determinar posicionamentos inesperados. Explicando melhor, todas as simulações são feitas sob os mesmos pressupostos, que se mantêm sempre constantes, mas isso não impede que tenhamos pontuações e classificações finais bastante variáveis e algumas que consideramos surpreendentes. Por exemplo, Benfica e Porto têm respectivamente 4% e 12% de ficar fora dos 2 primeiros lugares, mesmo mantendo-se como as duas melhores equipas ao longo de todo o campeonato, assim como o Sporting terá 22% de hipóteses de ficar fora dos 3 primeiros lugares, mesmo num exercício que o considera constantemente e de forma bastante clara como a terceira melhor equipa. Ou seja, mesmo numa prova de longa duração como é um campeonato o factor aleatório por si só tem a capacidade de nos proporcionar resultados pouco consentâneos com o valor das equipas. Ora, em abstracto isto até pode parecer racional e pouco surpreendente, mas na realidade emotiva do futebol nunca vemos alguém explicar classificações invulgares dando grande relevância ao factor aleatório. A cultura passa por, diria quase sem excepções, extrair conclusões sobre o mérito e o demérito dos protagonistas, atribuindo aos resultados e classificações uma significância de carácter insofismável. E aqui, devo ainda ressalvar que existe um positivismo exacerbado nesta análise, porque raramente o valor das equipas se mantém constante ao longo de um campeonato como aqui é suposto, e sobretudo porque há a tal irresistível tentação de reagir aos resultados, alterando muitas vezes coisas sem critério e justificação (treinadores, jogadores, etc). Ou seja, o efeito real da aleatoriedade pode ser ainda mais perverso do que aquele que é aqui apresentado, nomeadamente por precipitar actos de gestão que não raramente acabam por ser prejudiciais. A conclusão de tudo isto, e na minha análise, não é que não se deve ter métricas objectivas para o trabalho que é realizado nas equipas (usar métricas arbitrarias como às vezes vejo sugerido será provavelmente ainda mais perigoso), mas antes que será fundamental encontrar indicadores igualmente objectivos mas não tão dependentes da componente aleatória, não ficando assim apenas centrado nos resultados.

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