3.7.14

A caminho do Maracanã #17 (antevisão 1/4 Final)

ver comentários...

França - Alemanha
Se este embate tivesse acontecido antes do Mundial e em solo europeu, seria bastante mais evidente o favoritismo alemão. Acontece, porém, que a França tem vindo a conquistar algum crédito num Mundial que, ainda por cima, tem sido fortemente marcado pelos efeitos das condições atmosféricas. E podemos começar por aqui, pela meterologia, porque ao que tudo indica a partida vai-se jogar debaixo de quase 30ºC, sol a pino e uma humidade considerável, o que deverá perfazer uma sensação térmica, digamos eufemisticamente, não muito favorável para os praticantes. Este será, não tenho dúvidas, um primeiro factor condicionante do jogo e das aspirações das equipas, mas haverá outros...
No futebol é sempre complicado distinguir um momento do jogo como o mais importante, mas olhando para as características das equipas não é muito difícil antever a relevância do que vier a acontecer na fase de organização alemã. A equipa de Low será, depois da eliminação precoce da Espanha, a equipa que mais capacidade tem para se socorrer da posse de bola, como forma de imposição no jogo. E é esta capacidade, fundamentalmente, que lhe oferece uma boa dose de favoritismo à partida, porque quem tem mais bola e mais domínio, terá tendencialmente mais hipóteses de controlar também os destinos do jogo. As dúvidas, porém, começam aqui. Ou seja, a Alemanha, e apesar da qualidade que indiscutivelmente se lhe reconhece, assume um jogo muito exigente a vários níveis, nomeadamente na capacidade de criar espaços em blocos densos, e na resiliência da sua circulação. Ora, é especialmente neste último ponto que os alemães têm deixado muitas reticências relativamente à sua capacidade de cumprir as elevadas exigências da sua proposta de jogo. Em praticamente todos os jogos - mesmo naqueles em que foram mais bem sucedidos, como frente a Portugal - os alemães têm-se revelado vulneráveis na sua presença em posse, acumulando algumas perdas comprometedoras, e nem sempre revelando a paciência e critério exigiveis para quem assume este estilo. Isto, claro, para além das dúvidas que ainda me persistem, não só sobre a evidente falta de largura do jogo germânico, mas também relativamente à ausência de um jogador com características mais clássicas na posição 9. A capacidade física francesa e as condições climatéricas afiguram-se, por tudo isto, como um assinalável obstáculo à maior qualidade técnica que indiscutivelmente o jogo alemão apresenta. Será interessante, a este nível, verificar o contraste entre dois candidatos com estilos bastante diferentes. Até que ponto a posse elaborada vai ser capaz de atrair e desorganizar o impulsivo pressing francês? Ou, noutro sentido, como lidará a Alemanha com a verticalidade do seu adversário, tanto em organização como em transição?

Brasil - Colômbia
Mais um jogo entre equipas sul americanas e, de acordo com o que venho escrevendo em relação à abordagem táctica característica daquele continente, isso deverá determinar que venhamos a ter duas formações relativamente prudentes relativamente ao posicionamento das suas unidades mais recuadas.
O Brasil, goste-se ou não do estilo, justifica um favoritismo, a meu ver, assinalável. Isto não quer dizer, porém, que venhamos a ter uma equipa bastante mais dominadora do que a outra, aliás, até se poderá dar o caso de ser a própria Colômbia a assumir grande parte do tempo de jogo, em organização ofensiva. O que, diga-se, até pode ser bom para o Brasil, dadas as características dos seus jogadores e da sua identidade colectiva. A este respeito, se o Brasil conseguir fazer um jogo semelhante ao que fez na primeira parte frente ao Chile, onde fundamentalmente tirou partido da zona defensiva que criou, como ponto de partida para as suas saídas em transição, estou em crer que terá boas hipóteses de ganhar uma vantagem importante no jogo. Resta saber de que forma reagirá a Colômbia a esta matreirice do seu adversário, porque se a equipa conseguir um bom jogo posicional e bom controlo dos momentos de transição (que se fará, essencialmente na gestão da sua posse), então terá de facto muito boas hipóteses de acabar definitivamente com as unhas dos brasileiros, já muito roídas, depois do jogo com o Chile. Mas não estou nada seguro relativamente à resposta colombiana.
Há um ponto que me parece interessante explorar, e que tem a ver com os equilíbrios nos corredores laterais. Tanto o Brasil como a Colômbia apresentam extremos muito ofensivos e, sobretudo, laterais de grande projecção. Ora, isto pode provocar desequilíbrios, porque tanto nos momentos de organização como transição, são as características ofensivas a parecer ter mais condições para prevalecer. Veremos se será por aqui que algum cântaro se parte...

Argentina - Bélgica
Mais um jogo a ser disputado na hora de maior calor, mas o facto de ser em Brasília, onde tanto a temperatura como a humidade são bem mais generosas para os jogadores nesta altura do ano, retira grande parte dos problemas que os factores climatéricos têm provocado neste Mundial. Para quem é que isso será menos mau? Sem ter a certeza, por não ser seguro que tipo de jogo teremos, diria que para a Argentina.
A Bélgica é, incomparavelmente, mais forte do que qualquer dos adversários que os argentinos tiveram até aqui. Isto pode até fazer com que a Argentina possa encontrar condições para ter um desempenho relativo melhor (ou seja, comparativamente com as expectativas). Isto, porque estou convencido de que esta equipa argentina se sentirá mais confortável quando também puder fazer uso do momento de transição com mais frequência, o que não sucedeu até aqui. A questão, aqui, é se a Bélgica irá ou não assumir uma postura muito diferente do que fez a Suíça, por exemplo. Pessoalmente, estou inclinado para pensar que não será muito distinta, e que os belgas provavelmente tentarão, primeiro, assumir pouco risco posicional para tentar depois aproveitar muito o momento de transição para fazer estragos. Se isso acontecer, o mais provável é que voltaremos a ter um jogo complicado para os argentinos, mesmo tendo mais bola e presença territorial, porque de facto a resposta dada até aqui dentro desse registo tem sido muito modesta e, claro, o adversário será assinalavelmente mais forte. Não é de excluir, dentro deste cenário, a possibilidade de assistirmos ao paradoxo de termos várias unidades de grande capacidade ofensiva em campo, e no entanto sermos presentados com um jogo de poucas ocasiões de golo. Isto, claro, caso o resultado persista no nulo, porque o risco e o espaço aparecerá seguramente, assim que a bola entre numa das balizas.
Uma nota para a Bélgica, que tal como a Argentina fez uma fase de grupos aquém do esperado, apesar das vitórias conseguidas. Os oitavos de final, porém, foram bem diferentes e o número de ocasiões criadas frente aos Estados Unidos foi dos mais expressivos da prova, até agora. Aqui, ter-se-á de considerar também alguma fragilidade do adversário, que como fui escrevendo foi das equipas mais felizes no apuramento conquistado, nomeadamente na forma como bateu o Gana e contou ainda com a externalidade da derrocada portuguesa no jogo de abertura. Ainda assim, foi sem dúvida um bom sinal de vitalidade por parte da Bélgica.

Holanda - Costa Rica
Mesmo considerando a boa prestação da Costa Rica, este não deixa de ser o embate, à partida, mais desequilibrado destes quartos de final. Estou em crer que qualquer das equipas apostará na mesma disposição táctica, o que a acontecer determinará novo confronto entre duas equipas a utilizar 3 centrais.
Relativamente às características do jogo, penso que as hipóteses ofensivas da Costa Rica passarão muito pela sua capacidade de expor as fragilidades comportamentais dos defesas holandeses, nomeadamente a sua última linha. Para tal, será decisivo tanto conseguir boas movimentações de rotura, como libertar os criativos da pressão que certamente os holandeses tentarão fazer no corredor central. Na minha leitura, porém, isto não será fácil, porque a Costa Rica depende muito de 3 jogadores, sendo que se não envolver outros elementos dificilmente se conseguirá soltar de uma defensiva holandesa que, apesar de não ser muito competente, é certamente bastante numerosa. Por outro lado, Campbell parece-me mais vocacionado para receber no pé do que para fazer movimentos no espaço, e se for esse o caso, será difícil ter sucesso.
Do outro lado, e mesmo se sofreu bastante frente à Grécia, a Costa Rica tem-se dado inesperadamente bem com as características da sua linha defensiva, neste Mundial. Em particular, com o uso do fora-de-jogo. Ainda assim, parece-me que há alguma fragilidade nesse comportamento, que não tem sido bem explorado pelos seus adversários até aqui. Se Sneijder baixar - num movimento que parece pouco coerente, mas que neste contexto até poderá criar estragos - e se libertar da pressão do meio campo costarriquenho, então poderá haver condições para que as costas da linha defensiva sejam exploradas, sendo Van Persie forte nesse tipo de movimento. Por outro lado, caso a Holanda opte por assumir mais risco no jogo, e olhando para as dificuldades que a Costa Rica sentiu frente à Grécia, também não consigo imaginar muito conforto perante um Robben até aqui intratável, ou mesmo perante o jogo interior de Van Persie ou Huntelaar. Ou seja, parece-me que a hipótese de novo milagre costarriquenho terá de voltar a passar em grande medida pela inspiração de Keylor Navas.

AddThis