- Creio que não há dúvidas de que passou a melhor equipa. Sê-lo-ia em qualquer dos casos, pelo que se viu em toda a época, mas foi-o também pelo que mostrou nesta eliminatória. Assim, compõe-se uma final completamente merecida para ambas as equipas, de grande interesse do ponto de vista táctico porque reúne estilos e realidades diferentes, mas a meu ver também com alguma perda de interesse por se tratarem de dois clubes do mesmo país, que já se defrontaram por 4 vezes, só esta temporada. Enfim, não se pode ter tudo...
- Começando pelo Atlético, pessoalmente confesso a minha satisfação com o feito da equipa de Simeone, sobre quem venho escrevendo praticamente desde o inicio da temporada. A minha perspectiva de que esta equipa poderia, pela competência com interpreta o seu modelo táctico, chegar a feitos inicialmente impensáveis, não só se confirmou, como foi inclusivamente superada. Porque uma coisa é chegar à final da Champions, outra é fazê-lo ao mesmo tempo que se supera internamente aquelas que serão, ainda, as duas maiores potências do futebol mundial. E isso, confesso também, não pensava ser possível. Seja como for, não creio que se deva exagerar na apreciação deste Atlético, nem tão pouco colocar a fasquia em níveis desproporcionados. Ou seja, o Atlético não é, nem pode ser, a melhor equipa do mundo, por muito mérito que tenha nos feitos já alcançados. Não creio que seja o mais provável vencedor desta prova - pelo contrário, atribuo um favoritismo assinalável ao Real na final -, e tão pouco me parece provável que volte a repetir a performance interna na próxima temporada, mesmo que mantenha exactamente o mesmo elenco.
- Ainda relativamente ao Atlético, houve alguma colagem àquilo que fez o Chelsea, mas parece-me que são casos muito diferentes e que gostaria de distinguir. O Chelsea foi, nesta eliminatória e estrategicamente, uma equipa de grande foco defensivo, assumindo muito pouco risco posicional e apostando tudo no controlo do seu extremo reduto como ponto de partida para chegar à qualificação. Um estratégia que, note-se, me parece completamente legítima e respeitável por parte de Mourinho (poderemos debater se terá sido a melhor, mas isso é outra discussão). O Atlético, ao contrário, foi uma equipa muito igual a si própria e àquilo que vem sendo na esmagadora maioria dos seus jogos. Ou seja, uma equipa tacticamente muito versátil e com comportamentos muito distintos dentro dos próprios jogos. Ora subindo bastantes unidades para pressionar o adversário, ora recuando completamente para perto da sua área. Ora atacando com poucas unidades e de forma muito rápida - em transição -, ora envolvendo muita gente no processo ofensivo e tentando garantir bastante presença na zona da bola, nomeadamente através da mobilidade dos seus extremos. É verdade que ambas são equipas muito fortes no processo defensivo e que não têm receio de baixar para zonas muito recuadas durante longos períodos, mas há muitas diferenças na abordagem táctica das duas equipas para além desse momento táctico, sendo que nesta eliminatória essas diferenças foram ainda mais acentuadas. Neste sentido, o caso do Atlético parece-me globalmente muito mais conseguido do que o do Chelsea, pela capacidade de responder às diferentes situações que o jogo vai pedindo - aliás, esta adaptabilidade táctica retira à equipa alguma dependência da vertente estratégica, permitindo-lhe competir ao mais alto nível em ciclos competetivos muito apertados e onde não há tempo para dar grande foco específico à preparação de cada jogo. Há alguma tentação para menosprezar aquilo que esta equipa faz em organização ofensiva, nomeadamente porque se tende a compará-la com concorrentes directos, mas essa é uma critica que me parece bastante injusta e desproporcionada quando se contextualizam os recursos técnicos que as equipas têm ao seu dispor. O Atlético poderá não ser, de facto, tão forte como outros, mas convém também não esquecer que não jogam todos com as mesmas armas!
- Finalmente, Mourinho. É curioso como se vê agora perante um cenário muito parecido com o de Guardiola. Criticam-lhe o estilo, mas os resultados serão sempre o verdadeiro argumento dos que se levantam contra si. Os "filósofos" de que o futebol está cheio, segundo o próprio, numa contra-critica que me parece bastante certeira. É verdade que o Chelsea é, tacticamente, uma equipa ainda incompleta, e que denotou bastantes dificuldades no seu processo ofensivo e praticamente em toda a temporada. Agora, se atendermos à perspectiva das coisas, o trabalho de Mourinho no Chelsea, até agora, só pode ser considerado um sucesso. Convém não esquecer que o Chelsea estava numa fase absolutamente descendente, disfarçada por alguns títulos que surgiram descontextualizados do verdadeiro rendimento da equipa, nomeadamente visível na perda de performance a nível da liga interna. Com Mourinho, o Chelsea regressou a um patamar pontual que não conseguia desde 2010, e atingiu ainda uma meia-final europeia pouco imaginável por muitos no inicio da temporada. Aliás, se olharmos para todas as equipas por onde passou Mourinho - mesmo o Real Madrid - vemos que foi sempre com ele que se atingiram as melhores prestações em provas de regularidade. Se o trabalho do treinador ainda é potenciar o rendimento desportivo das suas equipas, então não me parece que existam por aí muitos candidatos que ofereçam melhores garantias do que o treinador português, seja para que equipa for. Que muitas pessoas não gostem do seu estilo - dentro e/ou fora do campo - é outra discussão, mas mais uma vez, não se confundam estilos e preferências pessoais com competência.