Começo por explicar o quadro, que compara a média pontual dos três "grandes" em grupos de 5 temporadas. Aqui, e com o objectivo de normalizar a análise ao longo do tempo, há dois factores a ter em conta: 1) são considerados 3 pontos por vitória, mesmo nas temporadas em que isso ainda não acontecia; 2) todas as épocas têm o mesmo peso no período de 5 anos considerado, independentemente do número de jogos poder ser diferente de época para época.
Benfica
Indo mais atrás, é interessante verificar como a perda do domínio interno do Benfica parece suceder de forma gradual, com a trajectória descendente a iniciar-se em meados da década de 70, o que coincide também com o final da passagem de Eusébio pelo clube. Ainda assim, é também claro que o estado de coisas se deteriorou a partir da segunda metade da década de 90, e que a presidência de Vale e Azevedo marcou o pior período de sempre do clube.
Mais interessante, nesta altura, é observar o que sucedeu nos tempos recentes. A saída de Vale e Azevedo parece estar também associada a uma melhoria do desempenho interno do Benfica, nomeadamente na já longa presidência de Luis Filipe Vieira. Mas, a verdadeira melhoria dá-se apenas após a entrada de Jorge Jesus na Luz. A avaliação feita ao trabalho do actual treinador do Benfica tem estado sempre muito ligada à conquista, ou não, de títulos, mas se olharmos para a trajectória recente do clube no plano interno, então fica claro que a ascensão tem sido continuada e regular e não com a inconstância que as análises centradas em títulos têm vindo a sugerir. Hoje, e segundo esta perspectiva de análise, o Benfica está num patamar muito próximo dos seus tempos mais aureos, contando porém com um rival (Porto) com um nível de desempenho igualmente elevado, o que não acontecia nos anos 60/70.
Porto
De facto, é incontornável a associação da ascensão do desempenho desportivo do clube à entrada de Pinto da Costa no futebol azul-e-branco. Num primeiro caso, também associada a José Maria Pedroto, é verdade, mas conseguindo depois manter um nível de performance muito elevado e independente dos protagonistas que foram passando (isto, relembro, numa análise centrada apenas no desempenho interno).
No momento actual, e após uma época menos conseguida, fala-se na hipótese de fim de ciclo. O futuro confirmará, ou não, se este foi um momento de inflexão da trajectória portista, mas olhando apenas para os dados concretos é ainda muito precoce falar-se numa queda consumada do Porto. Aliás, o desempenho portista, numa perspectiva de 5 anos, está ainda num dos níveis mais altos que algum clube português viveu em toda a história do campeonato. O que não se pode ignorar, porém, é que o Benfica teve, nestes últimos anos, o seu ciclo mais forte desde que Pinto da Costa chegou à presidência do clube, e daí que se perspective que o patamar de exigência possa vir a ser o mais elevado dos últimos 35 anos. Ou seja, o Porto poderá até vir a manter o seu próprio patamar de desempenho mas passar a sentir mais dificuldades em traduzi-lo em títulos.
Sporting
Após a conquista do tetra, há precisamente 60 anos, o Sporting regrediu para um patamar de rendimento relativamente constante e que raramente passou de uma média pontual de 2,1 pontos por jogo (ciclos de 5 temporadas). Este desempenho valeu-lhe quase sempre o estatuto de terceira potência do futebol português, sendo que apenas rivalizou por um segundo posto nas fases em que algum dos rivais baixou desse patamar pontual (Porto, até meados da década de 70, e Benfica na primeira década deste milénio). Dentro deste desempenho relativamente constante, há duas fases mais negativas a considerar, e que coincidem também com os mais longos jejuns de títulos da história do clube: primeiro nos anos 80, e após a saída de João Rocha da presidência do clube, e depois a partir da saída de Soares Franco, até hoje. O primeiro dado a sublinhar, aqui, é que historicamente não parece fazer grande sentido associar o papel secundário do Sporting, relativamente aos seus rivais, com a chamada "era Roquete". Esse período pode ter falhado, e claramente, em cumprir com os objectivos auto-propostos, mas nele não se iniciou nenhum ciclo historicamente contrastante com aquela que vinha sendo a tendência do clube. O segundo dado tem a ver com o período actual, e pretende sublinhar que historicamente é ainda cedo para concluir que o Sporting inverteu o ciclo negativo em que mergulhou. É que, numa perspectiva de 5 anos e mesmo considerando a boa época realizada, o Sporting está ainda num dos piores momentos da sua história. E isto tanto olhando apenas para a própria performance, como se considerarmos a distância para os rivais, o que vem agravar ainda mais a percepção relativa das coisas. Ou seja, também nesta perspectiva de análise, a conclusão relativamente ao momento do Sporitng é que ainda há muito para fazer até que o clube atinja os patamares há muito desejados pelos adeptos.