7.5.14

A incerteza, Lopetegui

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Como primeira nota, tenho de me incluir no lote daqueles que foram surpreendidos por esta escolha. Sobre Lopetegui, especificamente, tenho muito pouco a dizer. Não conheço o seu trabalho, e o seu discurso tão pouco me diz alguma coisa sobre a sua capacidade de resposta, prática, para o desafio que tem pela frente.  Ora, a minha estranheza vem sobretudo daqui, porque se para quem está de fora é praticamente impossível formar uma opinião sólida sobre Lopetegui, esse também não parece um exercício evidente para a própria administração portista, pelo que me fica a dúvida sobre quais foram as bases para que a opção tenha recaído, e de forma aparentemente tão perentória, sobre o ex-guarda redes espanhol?

De facto, em todos os parâmetros a palavra "incerteza" parece colar-se à escolha de Lopetegui. Incerteza na capacidade de imposição de um estilo de liderança, porque praticamente apenas orientou equipas jovens. Incerteza ao nível da capacidade de adaptação, porque vem de outro país e de outra realidade, havendo um caminho que necessariamente terá de ser percorrido na ambientação à especificidade do clube e do próprio país. Incerteza - e este será o ponto obviamente mais importante - relativamente à capacidade que terá para, do ponto de vista táctico, potenciar as probabilidades de sucesso das suas equipas, porque o trabalho de seleccionador é completamente diferente do de um treinador que treina continuadamente com a sua equipa, tendo Lopetegui passado praticamente toda a sua carreira na primeira condição, o que torna muito difícil perceber o que pode, ou não, valer a este nível.

Mas, se não tenho muito a acrescentar sobre Lopetegui, há alguns pontos que gostaria de comentar sobre este processo:
- Sobre o Porto, parece-me um equívoco centrar o problema do insucesso desta época na questão do treinador. O treinador poderá não ter sido a solução, mas a meu ver far-se-á um diagnóstico errado em confundir uma não-solução com o problema. Neste sentido, e sendo o treinador obviamente uma peça de grande relevo, parece-me que será no mercado que a administração portista terá verdadeiramente de corrigir os erros do passado recente. E, com isto não estou a juntar aos que pensam que será preciso uma revolução no plantel. Aliás, muito pelo contrário...
- É interessante o discurso de Pinto da Costa sobre a superioridade do futebol espanhol, actualmente. Houve um tempo em que era assim, de facto. Contratavam-se treinadores estrangeiros, porque estes representavam facilmente uma mais-valia, devido à diferença acentuada de métodos e abordagens tácticas, de país para país. Hoje, porém, não faz grande sentido essa opção. A era da informação tem como implicação que as ideias possam ser cada vez menos sujeitas a barreiras geográficas. Não tenho, infelizmente, a visão romântica de que em Portugal os treinadores são melhores do que noutros lugares, mas o argumento de que se contrata um treinador devido à sua proveniência ou nacionalidade, soa-me a algo completamente anacrónico.
- Há uma questão que à partida me parece fazer bastante sentido, e que num tempo onde a abordagem dos clubes tende a ser cada vez mais lógica e profissional deveria começar a ser cada vez mais vista. Refiro-me à formação de treinadores dentro das próprias estruturas dos clubes, com o objectivo de que possam assumir a equipa principal. Não vou desenvolver o tema mas, como referi, parece-me que faz cada vez mais sentido que essa hipótese seja explorada internamente por cada clube.

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