2.5.08

Taça Uefa: A final improvável

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Zenit 4-0 Bayern Munique
(resumo)
- Como se explica um resultado destes? A bom da verdade, e por muito fatalistas que possam parecer as incidências do jogo após o resultado, o primeiro motivo a apontar deve ser a eficácia. O Zenit marcou no seu primeiro remate, aos 4 minutos, mas antes já havia visto o Bayern falhar uma ocasião clara por Klose, algo que se repetiria com 0-1 e 0-2.
- Mas não é só de eficácia que se deve falar. No Bayern, para além dos erros individuais nos dois primeiros golos (barreira no primeiro e Demichelis, no segundo), houve algumas debilidades tácticas que o prejudicaram. Quando atacavam, os bávaros optavam, ora por solicitar directamente uma das suas 2 “torres”, ora por entregar em Ribery que, invariavelmente vinha receber em posse, deixando a profundidade do flanco para o lateral Jansen. O problema é que, primeiro, a opção pelo jogo directo tem, como se sabe, limitações, sobretudo perante uma equipa com pouco espaço entre linhas que permitisse jogar a partir de segundas bolas. Segundo, os ataques “via Ribery” eram protagonizados com acções individuais do francês, não havendo entrosamento, nem com os médios centro, nem com o lateral Jansen – que, aliás foi outro equívoco, dadas limitações reveladas. As ocasiões criadas justificam-se pela qualidade das individualidades e não por mérito de rotinas colectivas. Uma pergunta: para que serviam, ofensivamente, os médios Zé Roberto e Van Bommel? E a ala direita, se não era para atacar por ali, porque é que Lahm – melhor ofensivamente – não actuou à esquerda?
- Aos problemas ofensivos no flanco esquerdo, juntaram-se as limitações defensivas sobre o mesmo flanco. Ribery não empresta a ajuda defensiva que se exige para um ala de 4-4-2 clássico e Jansen estava muitas vezes fora de posição, já que, como referi, eram os laterais quem davam profundidade ao flanco, perante os movimentos interiores dos alas. Quem aproveitou foi Anyukov – um lateral interessantissimo – que, quando se suporia poder ser desgastado defensivamente pela orientação “canhota” dos alemães, acabou por ser uma fonte de desequilíbrios ofensivos, subindo com muito apropósito. Foi sobre a esquerda do Bayern que se construíram o segundo e terceiros golos.
- E o Zenit? Primeiro referir a forma, claramente positiva, dos seus jogadores. Vê-se, não só nos duelos físicos, mas também na lucidez das decisões. Uma equipa bem organizada, com alguns jogadores interessantes e que se sabe organizar bem defensivamente. Ofensivamente, não é uma equipa de posse de bola muito trabalhada, preferindo 2 soluções: (1) ataques rápidos e apoiados, preferencialmente em transição, num estilo próprio das equopas da ex-União Soviética. (2) Solicitação directa a Pogrebnyak, que é forte tanto nas primeiras bolas como a servir de referência no espaço entre linhas.
Individualidades em destaque
- Algumas exibições fizeram-me antever o que se poderá passar no Euro. No Zenit, Ashavin não esteve, mas é um nome a ter em conta. Anyukov teve um jogo notável, podendo ser um lateral direito a ter em conta no Euro. Pogrbnyak poderá ser o 9 da Rússia em Junho. É um jogador, que não sendo um fora de série, tem um perfil muito interessante, aliás, como confirma a sua utilidade no Zenit e os golos que tem nesta Taça Uefa. Fayzulin é um jovem também interessante e que poderá ser uma das surpresas da Selecção, assim como Denisov, outro que vale a pena não perder de vista. Tymoschuk, o capitão, já era conhecido desde o Mundial, na Selecção Ucraniana, sendo um jogador importantissimo nos equilíbrios da equipa.
- No Bayern, Ribery – apesar do individualismo – tem vindo a ganhar um protagonismo que lhe poderá valer o estatuto de principal estrela da Selecção Francesa, sucedendo a Zidane. Por seu lado, Klose e Toni são a imagem do poderio aéreo que terão Alemanha e Itália, duas das candidatas à vitória no Euro 2008.

Fiorentina 0-0* Rangers
(resumo)
- Falar de jogo é falar das segundas mãos das outras eliminatórias do Rangers, exceptuando as diferenças no perfil de jogo da Fiorentina. De resto, um Rangers sempre defensivo, sempre esperando pelo erro de um adversário que estava prevenido para esse perigo, mantendo-se sempre cauteloso. Por isso, oportunidades foram muito poucas – à excepção dos últimos minutos do prolongamento – e o nulo um resultado altamente provável.
- O Rangers chega a uma final, naquilo que considero ser um exemplo hiperbolico dos princípios elementares para se atingir o sucesso em provas a eliminar. Exemplo, porque a concentração competitiva e organização colectiva devem sempre sobrepor-se à tentação de arriscar, numa competição em que um erro pode pôr em causa a prestação na prova. Hipérbole, porque falta a este Rangers – manifestamente – qualidade. Por isso disse que este é, com as devidas diferenças, o “Liverpool escocês”.
- Ainda sobre o Rangers, uma nota sobre a posse de bola. É fundamental na estratégia da equipa, tendo melhorado em relação ao primeiro jogo, com os regressos de alguns jogadores fundamentais. Quando a equipa consegue colocar em prática a sua posse de bola especulativa, controla e desestabiliza o adversário que pressiona para evitar uma progressão que, no fundo, não é o objectivo daquela troca de bola. Quando é forçada a jogar directo, sofre. Foi mais uma vez assim em Florença, como em Alvalade.
- Nota para uma curiosidade nas grandes penalidades. Prandelli lançou dois jovens, Montelivo e Kuzmanovic (atenção a este médio sérvio!), para marcar os dois primeiros penaltis, guardando os experientes Liverani (um dos pontos fracos da equipa. Se Assunção for mesmo reforço, a Fiorentina fica muito a ganhar) e Vieri para a fase decisiva. Numa prova da imprevisibilidade deste tipo de desempate, foram os mais velhos quem comprometeu.

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