É mais uma notícia perdida entre tantas outras que compõem um matutino desportivo e o título até nem pode soar estranho a quem acompanha a actualidade futebolística nacional: "Coentrão treina-se no Chelsea".
Antes que se vire a página, porém, sugiro um pequeno exercício: faça-se uma leitura mais detalhada da referida manchete, descodificando o que realmente comunica... "Coentrão..." - Fábio Coentrão, jovem promissor de 19 anos que actua no segundo escalão do mediano futebol português - "...treina-se no Chelsea" - está a treinar à experiência no Chelsea, um dos clubes mais ricos e poderosos do futebol mundial.
De repente esta notícia pode não parecer tão banal e, de facto, dá que pensar... É verdade que a esta situação não estará alheio o peso da colónia portuguesa no clube londrino, mas não deixa de se tratar de um sinal dos tempos... Um sinal que, conjuntamente com as dificuldades financeiras, ilustra em si mesmo a grande ameaça que a globalização do futebol pode representar para os grandes clubes nacionais. De facto, cada vez mais ricos, os principais clubes das grandes ligas europeias começam a usufruir de condições para recrutar de forma desigual em praticamente qualquer parte do mundo, tornando dificil a vida de quem, até aqui, "dominava" os seus mercados domésticos.
Trata-se de uma tendência que se encontra em tantos outros sectores de actividade - com o quebrar das barreiras geográficas, a "lei do mais forte" torna-se cada vez mais a regra principal de um jogo com vencedores antecipados. Também como noutros sectores, importa enfrentar a realidade, ter visão e, sobretudo, agir antes que o prejuizo desabe... Investimento na formação (detecção e desenvolvimento de talentos) e a aposta em mercados menos conhecidos (África é um exemplo) serão soluções possíveis, mas a consolidação de uma estratégia de sucesso será bem mais complexa do que se possa pensar!