Benfica, o significado da derrota - À margem dos pontos estratégicos que identifico acima, e que na minha leitura foram determinantes para a forma como o jogo decorreu, esta derrota parece-me ter duas implicações claras para o Benfica. A primeira é quase matemática e tem a ver com a perda de 3 pontos, comprometendo uma vantagem pontual na Liga que poderia ser importante, mas que está agora praticamente anulada. Neste sentido, a derrota representa objectivamente uma redução importante nas possibilidades do Benfica atingir o seu principal objectivo da temporada - o bicampeonato -, sendo que apesar de tudo essa meta continua obviamente em aberto. A segunda implicação tem a ver com a confirmação das dificuldades que a equipa vinha revelando em jogos de maior grau de dificuldade, particularmente denunciadas nas exibições para a Liga dos Campeões. Aqui, poder-se-á assumir duas perspectivas comparativas. A primeira, estabelecendo como ponto de referência a segunda metade da época anterior, onde a capacidade da equipa era francamente superior e mais consistente do que a actual. A segunda, apontará alternativamente para o período homólogo de 13/14, sendo este um paralelismo bem mais optimista, já que há um ano o Benfica estava também ainda a arrancar para a sua melhor fase. E é aqui que surge a maior dose de subjectividade nas projecções que cada um fará. A tendência é pensar que o Benfica evoluirá significativamente, tal como aconteceu quase sempre com Jesus, mas se em geral eu tenderei para concordar com essa previsão, ela não me parece de todo um dado adquirido. A questão mais interessante, a meu ver, passa por perceber se existe hoje o mesmo potencial de evolução de há 1 ano, sendo que não se deve desprezar também o risco de aparecerem novos problemas pelo caminho (sendo concreto, lesões em jogadores nucleares e muito complicados de substituir). Seja como for, aqui ficam algumas posições que, na minha análise carecem de revisão na equipa do Benfica:
Guarda-redes: No ano passado, todos observamos a correlação entre a entrada de Oblak e a melhoria da equipa. Eu serei a última pessoa a precipitar-me para concluir sobre o caracter causal dessa correlação, mas ainda assim parece-me clara a importância de ter uma solução de qualidade nesta posição específica, num problema que foi muito mediatizado no defeso, que no papel o Benfica terá resolvido com a entrada de Julio César, mas que na prática continua por não contar com uma alternativa continuada para a sua baliza. Resta saber se esta questão não terá, também ela, custos desportivos...
Segundo central: Já tivemos Jardel - muito criticado! - e agora Lisandro Lopez. A verdade é que nenhum deles esteve ao nível de Garay, e o problema para o Benfica talvez não passe tanto pela falta de competência dos substitutos mas mais pela mais valia que representava o substituído. De facto, e do meu ponto de vista, o argentino saiu da Luz como um dos melhores centrais do futebol mundial, e mesmo que Jesus faça evoluir as alternativas que tem ao seu dispor, vejo com pouca probabilidade que algum deles tenha o potencial para chegar ao patamar de Garay (que, diga-se saiu da Luz muito melhor central do que quando chegou). As consequências são várias, mas destacaria sobretudo o impacto na fase de construção, onde Garay era a principal referência de saída de bola da equipa, fazendo-o com qualidade e critério, o que é extremamente raro. Este será o ponto onde me parece menos provável que o Benfica se venha a aproximar do que foi na época anterior...
Posição 6: Não tenho ainda suporte factual (nomeadamente ao nível da análise estatística) que possa confirmar a minha percepção, mas para já fica-me a ideia de que Samaris apresenta pouca intensidade e capacidade de intervenção, o que pode estar a contribuir para as dificuldades que o Benfica tem sentido para dominar a sua zona, nomeadamente ao nível dos duelos directos. No passado, esta tem sido uma posição muito fácil de substituir por Jesus, que tem conseguido extrair bom rendimento de quase todas as alternativas que estiveram ao seu dispor. Neste sentido, poder-se-á esperar que o treinador possa também fazer evoluir o grego dentro desta posição, no entanto há um outro dado que pode indiciar que esse possa não ser um processo tão fácil como parecerá à primeira vista. É que praticamente todas as soluções introduzidas para a posição tiveram uma afirmação praticamente imediata (o caso mais recente, e talvez também o mais claro será o de Fejsa), o que faz de Samaris um caso algo singular desse ponto de vista. Se esta segunda perspectiva se confirmar, poderá não ser tão evidente para Jesus fazer evoluir Samaris até aos níveis dos seus antecessores, o que tornará o regresso de Fejsa e Amorim uma urgência para o treinador e para a equipa. Uma nota para a opção de utilizar Enzo e Talisca no meio campo, sendo essa uma solução que pessoalmente não me agrada. Porque ao baixar Enzo se está a retirar uma unidade chave da sua melhor posição, e porque o próprio Talisca não parece apresentar capacidade de envolvimento com bola e intensidade defensiva para poder dar o melhor rendimento à posição 8 (como, aliás, na minha análise ficou claro na recta final do jogo de Braga).
Segundo avançado: Talisca tem marcado muitos golos, apresentando um aproveitamento invulgar das ocasiões de que usufruiu, e isso tem retirado quase toda a margem para que Jesus o possa abdicar da sua presença entre primeiras opções. O treinador, de resto, parece acreditar bastante no jogador, mas pessoalmente creio ser prematuro que se lhe atribua um peso muito grande na equipa. Primeiro, porque a sua veia goleadora resulta, e como escrevi acima, essencialmente de um elevado aproveitamento das ocasiões de que desfrutou (e não de um elevado número de ocasiões), o que faz acreditar que dificilmente se possa perpetuar no tempo. Depois, porque apesar de ser um excelente executante e ter conseguido aparecer relativamente bem nos momentos de transição e transporte de bola, Talisca está ainda longe de ter a qualidade de movimentos que Rodrigo ou Saviola tiveram em anos recentes, e que tanto acrescentavam ao jogo interior do Benfica. Um bom exemplo disso será a dificuldade que o jovem brasileiro teve em aparecer nos momentos de organização do jogo de Braga. A meu ver, será muito provável que Jonas seja a mais forte das soluções para a frente de ataque, pela qualidade de envolvimento que revela, e pela capacidade de surgir depois a desequilibrar em zonas de finalização (a tal ambivalência que caracterizava quer Saviola, quer Rodrigo). E, se assim for, o melhor mesmo será não ter de esperar que as coisas corram mal para, então sim, lançar Jonas em definitivo no onze. Quanto a Talisca, o seu talento pode existir de facto, mas por muito que os golos que marcou o pareçam desmentir, sou da opinião de que lhe faltará ainda um patamar de evolução até que seja uma mais valia incontornável no modelo actual do Benfica.