4.11.14

Sporting e o (péssimo!) controlo defensivo na Liga

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O jogo de Guimarães
Como ponto prévio, quero dissociar esta análise da derrota em Guimarães. Ou seja, não nego a influência do jogo na motivação para abordar o Sporting, mas esta análise está relacionada com o que tem sido a totalidade da temporada, e não com esta partida em particular. Aliás, o jogo de Guimarães parece-me denunciar muito mais as fragilidades ofensivas do Sporting, que de forma algo surpreendente em face do que vinha fazendo acabou por ter enormes dificuldades em chegar de forma útil ao último terço do Vitória. Isto, claro, relativamente à primeira parte, período em que os três pontos ficaram em grande destinados. No segundo tempo, sim, o Sporting denotou problemas defensivos, que decorreram da exposição e risco que a equipa assumiu em face da desvantagem, mas também das dificuldades de controlo do momento de transição ataque-defesa, que também se viram noutros jogos e noutras circunstâncias. Tendo abordado o jogo, porém, não posso deixar de sublinhar também o mérito incontornável do Vitória pela forma praticamente perfeita como interpretou a estratégia que definiu.

12º(!!) registo defensivo da Liga, no que respeita a ocasiões de golo
Partindo dos factos para a discussão, temos que o Sporting é uma das equipas com mais presença territorial (apenas batido pelo Porto, em termos de posse de bola), com menos ataques e finalizações concedidas, mas de forma absolutamente contrastante com estes indicadores, também com um controlo defensivo (ocasiões de golo consentidas) absolutamente medíocre para os parâmetros da Liga. Estes são os dados que me parecem irrefutáveis e factuais sobre a performance defensiva do Sporting na Liga até ao momento, abrindo-se depois a discussão em torno da visão que cada um terá sobre os motivos que contribuem mais ou menos decisivamente para que este cenário tão atípico se componha. E aqui, creio eu, é que a minha análise divergirá daquilo que me parece ser a opinião generalizada, e que se foca muito mais nos pecados individuais dos defensores do Sporting. Tentarei explicar...

Os defesas e o passado recente do Sporting
Talvez a melhor forma de começar a explicar o meu ponto de vista passe por regressar ao passado recente do Sporting, no que respeita à composição da sua defesa, à apreciação mediática que foi sendo feita e ao desempenho nos vários ciclos. Isto, porque me parece que no futebol, e devido à carga emocional que este sempre tem, se aprende muito pouco com o passado. Ora, no ciclo anterior ao actual, e como é sabido, o Sporting apostou muito na experiência, pagando bem para ter jogadores com currículo formado nas suas fileiras. No entanto, contrariamente àquela que foi a expectativa criada, o Sporting acabou por não ter o melhor dos desempenhos desportivos com esta aposta, acabando por culminar na pior época desportiva da sua história, em 12/13. Se nos lembrarmos da primeira metade dessa temporada, encontraremos um quarteto defensivo geralmente formado por Cedric, Boulahrouz, Rojo e Insua. Ou seja, à excepção de Cedric que estava ainda em fase de afirmação, todos eram jogadores de créditos firmados e com presenças em selecções tão cotadas como a Holanda e a Argentina. Ora, isto não impediu que a sua prestação fosse pouco menos do que desastrosa para as exigências do clube, com problemas defensivos a surgirem recorrentemente e percorrendo praticamente todos os elementos do sector. Na época seguinte, Leonardo Jardim compôs um quarteto defensivo composto por 2 jogadores muito desacreditados em função das prestações da época anterior (Rojo e Cedric) e 2 novidades sem grande experiência nem currículo, e que por isso foram imediatamente olhados com muita desconfiança pela crítica (Maurício e Jefferson). Sem qualquer provimento de nexo para o paradigma comum, a verdade é que o sector defensivo do Sporting estabilizou e todos os seus elementos fizeram uma época de bom nível, contra as expectativas de quase todos. E é assim que chegamos a 14/15, com apenas 1 elemento a abandonar o sector defensivo, mas com a qualidade de todos os outros a ser novamente colocada em causa, apontando-se para o aspecto individual na hora de encontrar explicações para os problemas defensivos da equipa.

Individual vs Colectivo
Para que fique claro, eu não desprezo a importância das qualidades individuais dos jogadores (obviamente!), nem tão pouco creio que o Sporting tenha um conjunto de defensores de grande nível, ainda que discorde de muitas apreciações que tenho visto a esse nível e sobre vários jogadores. Aliás, a este respeito já me pronunciara de forma bastante clara sobre o caso de Sarr, aquando das suas primeiras exibições. O que não creio é que os problemas defensivos actuais resultem essencialmente de fragilidades individuais dos actuais defensores, nem que seja provável que o Sporting os venha a resolver com a simples substituição dos actuais titulares por outras soluções, mesmo que estas tenham eventualmente mais qualidade. Do meu ponto de vista, o processo defensivo é aquele que mais depende do trabalho colectivo e que mais pode ser, ou não, potenciado pela acção das equipas técnicas, sobretudo em termos posicionais. E se o Sporting tem problemas a esse nível, então terá de ser colectivamente que os terá de começar por resolver, até porque dificilmente terá capacidade financeira para o fazer no mercado. Aliás, e como escrevi acima, o seu passado recente mostra isto de forma muito clara...

Um perfil de risco elevado... talvez excessivamente!
Indo mais concretamente aos comportamentos da equipa actual, eu já tinha antecipado que o Sporting 14/15 seria uma equipa de mais risco relativamente à sua versão anterior, mas creio que os níveis que assume actualmente serão realmente excessivos. Em organização defensiva, tem-se falado constantemente da linha defensiva - e esta apresenta dificuldades, de facto - mas creio que o problema começa a montante. Particularmente, o adiantamento permanente dos médios na acção pressionante, com William e Adrien de perfil, acaba por ter o duplo-efeito de dificultar a saída curta dos adversários, por um lado, mas por outro também de expor muito a linha defensiva, quando essa pressão mais alta não surge efeito. Uma solução mais equilibrada passaria por criar mais linhas na estrutura defensiva, garantindo (por exemplo...) a presença de um elemento mais próximo dos centrais, capaz de realizar coberturas aos médios mais pressionantes, e de ajudar a equilibrar a linha defensiva, sempre que um dos seus elementos é obrigado a sair da sua zona. Outra questão a rectificar tem a ver com a transição defensiva, nomeadamente com o jogo posicional da equipa com bola, precavendo e antecipando melhor o momento da perda. Este foi um ponto muito bem explorado pelo Vitória na segunda parte do jogo de Guimarães, mas já noutras alturas a equipa sentiu algumas dificuldades no controlo do momento de transição. A este nível, William tem assumido um papel mais posicional mas sem que isso venha sendo suficiente para garantir uma reacção defensiva ideal por parte da equipa.

Em todo o caso, há algumas projecções que me parecem poder ser feitas, pelo menos à luz da minha forma de ver as coisas. Que o controlo defensivo do Sporting tem sido péssimo e muito difícil de manter em níveis tão baixos, dada a presença territorial que a equipa consegue impor (e isto, mesmo que nada de essencial mude). Que sem rever esta situação, o Sporting será sempre uma equipa algo bipolar, capaz de extrair o melhor da sua capacidade ofensiva (porque a tem), mas também permanentemente vulnerável a surpresas defensivas indesejadas, e por isso com pouca probabilidade de atingir grande sucesso. Finalmente, que se o Sporting não resolver - ou pelo menos atenuar - os seus problemas actuais pela via colectiva, muito dificilmente o fará pela mera substituição das suas unidades defensivas, mesmo que por outras mais capacitadas.

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