Não fossem os últimos 15 dias e o jogo pouco poderia ter de inquietante para o Sporting. Afinal, ao melhor registo forasteiro juntava-se o mais benevolente dos anfitriões da liga. O problema, naturalmente, era história do pós-Milão...
É costume dizer-se que "quem com ferro mata, com ferro morre", ora aqui a lógica será um pouco a inversa e o Sporting acabou por fazer do seu breve golo madrugador, um prolongado passeio nocturno. Aos críticos das individualidades, Paulo Bento respondeu com a repetição de Ronny, Paredes, Bueno e... Liedson. A questão não era, evidentemente, individual! De resto o golo madrugador de Liedson acabou por absorver grande parte do interesse da partida. O Sporting tornou-se mais confiante e voltou a conseguir fazer do seu pressing zonal uma arma dominadora, acabando por não testar verdadeiramente a tão falada transição ataque-defesa - não havendo necessidades de correr riscos a equipa manteve-se sempre equilibrada com bola o que facilitou a sua reacção no momento da perda.
Pode afirmar-se, é certo, que tanto resultado como exibição serão inconclusivos perante os obstáculos encontrados, mas há algumas notas que se deve juntar:
- Sem competições europeias pode esperar-se um Sporting altamente competitivo e eficaz na liga. A segunda volta de Paulo Bento no ano transacto deverá ser um alerta à concorrência.
- As necessidades de rotatividade serão agora bem menores. Qual será o onze base? E o que fazer se alguns jogadores "de peso" não entrarem nas primeiras escolhas? - respostas para o mercado de Janeiro...
- Uma nota individual para Miguel Veloso. Não sei se a trinco ou a central, mas tem um grande futuro. Percebe o valor dos espaços como poucos na sua idade e tem com a bola uma empatia invulgar. Apesar da estatura, será em breve - arrisco - um elemento regular com a camisola da Selecção.
Lance Capital - A importância da "parede" do fora de jogo para a zona
No lance do primeiro golo do Sporting há uma evidente incapacidade de reacção quer de Nelson, quer dos centrais o que permite a Liedson inaugurar o marcador - tendo o "levezinho" todo mérito na rapidez de reacção ao cruzamento de Moutinho. Surge, no entanto, na construção do lance uma questão: Como é que Moutinho aparece tão solto para cruzar?
Na imagem é evidente a superioridade numérica criada pelos jogadores do vitória na zona da bola (4 para 3). O trabalho posicional dos jogadores sadinos indicia uma linha de fora de jogo (conforme o desenho). Esta linha deveria ter sido "respeitada" pelos colegas no centro da área que, embora não pareçam "dentro da jogada" vão permitir que Moutinho fique em jogo, criando a única solução de passe a Tello.
Este lance ilustra bem a importância da linha de fora de jogo para o sucesso da zona pressionante. Por outro lado, é também o exemplo de como a concentração dos jogadores nos lances deve ser máxima, mesmo não estando directamente envolvidos nos lances. São os pormenores que definem o futebol de hoje...