O primeiro dos clássicos versão 06/07 teve o condão de juntar os dois líderes da tabela e, também, duas formações com ressacas mal curadas das noitadas da Champions. Paulo Bento surpreendeu – quem sabe temendo o efeito que o peso do relvado pudesse ter no desenrolar da partida – e lançou os “guerreiros” Paredes e Custódio para a batalha do meio campo. De resto, a organização do losango, com Paredes à direita e Moutinho à esquerda, não era mais do que parte de uma estratégia que visava essencialmente inclinar o jogo sobre a esquerda. Foi por esse lado que o Sporting canalizou sempre o seu jogo, utilizando a dinâmica do triângulo formado por Tello, Moutinho e Nani (desinspirado e, sobretudo cansado) e contando ainda com o apoio ocasional de um dos avançados. Por aqui se explica o facto de ter sido pelo sector canhoto que o Sporting conseguiu não só o seu golo mas também as suas melhores ocasiões.
O Porto, por seu lado, entrou em Alvalade de uma forma bem mais previsível. A ausência de Anderson foi, como antevisto por tudo que era jornal, colmatada com a entrada de mais um elemento de recuperação. Parece estar identificado um hábito de Jesualdo: sempre que o grau dificuldade aumenta fora do Dragão, o "professor" faz uma revisão defensiva na composição do meio campo (depois de Arsenal e Braga, o Porto teve um primeiro empate, sofrido e conseguido já com Jorginho em campo). De resto, a estratégia passava por uma ocupação racional dos espaços que permitisse, depois, fazer uso da sua principal característica – a circulação de bola em transição – como forma de servir trio da frente...
Da operacionalização das estratégias resultou um Sporting mais perigoso, essencialmente porque na sua fase de criação a equipa apresentou processos colectivos bem sistematizados. O já referido abuso do flanco esquerdo (que teve continuidade na aposta por Carlos Martins) foi um problema sempre que a fase de construção leonina levou a melhor (neste particular, destaque-se a maior agressividade dos “leões” que ganharam a maior parte das bolas divididas). Do outro lado, o Porto mostrou-se mais forte na construção, com uma excelente circulação de bola (que aproveitou também uma noite mais cansada do “pressing” leonino) a variar constantemente de flanco e a oferecer aos seus flanqueadores (principalmente Quaresma) o tempo e o espaço para protagonizar o 1x1. Dos azuis-e-brancos ficou, no entanto, a sensação de uma dependência excessiva das acções individuais no último terço do campo. Perante um Sporting fatigado e com dificuldades na transição defensiva durante o último quarto de hora, o Porto não foi capaz de fazer uso de algumas situações privilegiadas para criar perigo.
Lance Capital – Quando a superioridade numérica não é suficiente
O lance do primeiro golo da partida elucida como é importante uma ocupação eficaz dos espaços, não sendo suficiente uma superioridade numérica no processo defensivo. Aliás, também o golo do Porto aconteceu numa zona em que os defensores tinham superioridade numérica, sendo que, nesse caso, a ansiedade colectiva deu lugar a uma precipitação desnecessária...