16.10.06

Porto SAD - A falência de um modelo de gestão

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A Porto SAD comunicou recentemente à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários um prejuízo de 30,4 Milhões de Euros relativo ao exercício de 2005/2006. Mais do que um resultado desastroso este é um resultado esperado para quem vem acompanhando o desastre da gestão portista, no que respeita às contas do seu futebol. Ainda no mesmo documento são apresentadas algumas justificações para o deslize como o “falhanço” europeu, uma provisão de 5,35 M€ relativa ao não cumprimento das obrigações contratuais do Dinamo de Moscovo e a manutenção dos principais valores do plantel. Não vou percorrer cada um dos pontos, mas posso adiantar que – segundo a minha visão – estas não são mais do que “desculpas de mau pagador” de uma SAD que não soube percorrer atempadamente o caminho do equilíbrio económico e financeiro. O futebol do Porto sustenta hoje excentricidades próprias de países bem mais competitivos em termos de geração de receitas do que o nosso modesto e atrofiante futebol português.

Este é um caminho que o Porto terá de percorrer, inevitavelmente nos próximos anos (dificilmente se fará em apenas 1 ou 2 anos uma vez que envolve contratos de longa duração) e que passa pela diminuição acentuada dos custos com o pessoal. O objectivo deverá ser sempre que o seu futebol possa ser rentável (ou pelo menos ter lucro zero) sem que proceder à venda de activos valiosos – os seus melhores jogadores. Para que se tenha ideia do que estou a falar, basta verificar que os custos com o pessoal da SAD do Sporting foram, em 2005/2006, de 17,5 €, ou seja metade daquilo que apresentou o Porto – se o futebol tivesse uma lógica estritamente financeira, dir-se-ia que a equipa do Porto do ano passado era 2 vezes melhor do que a do Sporting...

A situação da Porto SAD (e estou apenas a falar das contas das SAD, ou seja do futebol, e não de clubes na sua globalidade) esgota a ideia de que é possível adoptar modelos arrojados de gestão das SAD, investindo na valorização dos activos para depois garantir mais valias com as suas vendas. O caminho passa, isso sim, por um ajustamento entre custos e proveitos operacionais, havendo assim uma independência quase total das mais valias provenientes das vendas de passes de jogadores. O problema para os clubes portugueses tem a ver com a escassez de receitas operacionais que o futebol luso é capaz de gerar. Esta limitação faz com que sejam disponibilizados poucos fundos para a gestão dos planteis, tornando-os tendencialmente menos competitivos do que os seus concorrentes europeus. Soluções? Abandonem os jogos de poder e concentrem-se em arranjar um modelo competitivo capaz de atrair maior atenção do público. Assim teríamos as televisões e os patrocinadores a pagar mais pelo mesmo e os clubes a serem economicamente mais competitivos e, por isso, tendencialmente melhores...

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