4.10.06

FC Porto - O problema da passividade

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A entrada de Jesualdo no Porto foi também a rotura com a filosofia de jogo até aí instituída. Mais do que o sistema (caracterizado pela defesa a 3) pretendia-se tornar a equipa mais apta no momento da perda de bola, concedendo-lhe maior equilíbrio. A alteração tinha como objectivo – apregoava o “Professor” – fazer do Porto 06/07 uma formação mais adaptada à exigência dos grandes confrontos. Pois bem, com pouco mais de um mês de trabalho, o Porto da “era Jesualdo” revela preocupante incapacidade de resposta sempre o nível de exigência aumenta...

Os sintomas problemáticos – especialmente a passividade do bloco – já aqui haviam sido atempadamente anunciados. O que me surpreendeu verdadeiramente foi a dimensão dos mesmos! A dupla derrota do “Dragão” teve nas alterações à estrutura base um ponto comum. No entanto, as estratégias montadas por Jesualdo foram diferentes: O 4x3x1x2 de Londres tinha como objectivo lançar Quaresma – em transição – nas costas do lateral, poupando-o dos acompanhamentos defensivos. Já em Braga, o que se pretendia era apenas dar mais consistência à zona central, mantendo 2 alas bem abertos – 4x2x3x1.

O jogo passivo
Frente ao Arsenal, Jesualdo trocou a operacionalidade dos processos pela estratégia específica para a partida... Do habitual 4x3x3, retirou o extremo direito e colocou Cech como interior esquerdo. O objectivo, mais do que defender, era atacar. Ou melhor, contra-atacar... Quaresma – quando sem bola – actuaria sobre a esquerda mas mais próximo de Postiga. A função dos 2 era, assim, pressionar mas sem acompanhar as descidas dos defesas contrários. Desta forma, o lateral direito dos “Gunners” (flanco oposto ao de Gallas e, por isso, aquele que seria teoricamente mais débil) seria convidado a subir sem que tivesse o habitual acompanhamento defensivo do extremo. Era aí que seria “encurralado” pela basculação de Cech. Com a lateral aberta o Porto poderia assim lançar Quaresma em transição, atraindo um dos centrais para fora da sua zona. Além disso, o reforço do meio campo com o ala Checo libertaria Lucho para auxiliar mais de próximo Bosingwa sobre a direita (para onde descai habitualmente Henry). Anderson tinha uma missão de ligação entre os 2 da frente e o bloco mais recuado – Jesualdo confiava nas “cavalgadas” do miúdo para surpreender os londrinos assim que recuperada a bola.

À estratégia, o que sobrava em astúcia faltou em operacionalidade... Para implementar as transições programadas havia primeiro que recuperar a bola - algo quase nunca conseguido. A falta de agressividade azul-e-branca tornou a posse de bola do Arsenal numa arma demasiado poderosa. A formação de Wenger é uma das mais fortes nesse capítulo no panorama mundial e conseguiu, sem massacrar, ser uma equipa assustadoramente dominadora. Para atestar da dócil atitude dos Dragões poder-se-ia olhar para qualquer um dos golos do jogo. A estatística parece-me, no entanto, suficientemente esclarecedora:

- 9 Faltas cometidas (o registo mais baixo de toda a jornada 2 da Liga dos Campeões)
- 0 Faltas sobre os dianteiros Henry, Rosicki e Van Persie.
- 70% de tempo útil de jogo.

Lance Capital – O equilíbrio passivo
Trazer aqui um lance que permita identificar a falta de agressividade portista nos últimos jogos não é difícil. Vários são os lances que serviriam de exemplo, entre eles qualquer um dos golos sofridos por Helton. Apresento, porém, o golo de Henry por ser aquele que em minha opinião melhor elucida o falhanço da estratégia de Jesualdo para aquele jogo...


- O livre na zona defensiva do Arsenal é cobrado rapidamente. A bola circula de imediato para a direita com o passe de Fabregas para Hleb (1). Eboué apresta-se para fazer o acompanhamento ofensivo (2), perante o olhar de Quaresma – com ordem para não defender os avanços do lateral.
- Eboué parece bloqueado pela presença de Cech (3). O Porto tem, neste momento, a equipa equilibrada e em franca superioridade numérica. A participação de Henry (4) parece francamente improvável.
- Surpreendentemente, Cech nunca chega a ser auxiliado (apesar da superioridade numérica) e Eboué encontra tempo e espaço para cruzar, sem ser sequer estorvado (5). Neste momento, o equilíbrio tornou-se numa situação de 1x1 na área... Henry não vai desaproveitar (6)...

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