O modelo é único
O primeiro ponto que quero sublinhar é que não há modelos de jogo iguais. Um modelo é único e resulta da forma como treinadores e jogadores interagem no trabalho diário. Pode haver uma ideia igual, mas os jogadores, esses, têm sempre reacções únicas e interacções inigualáveis. Pensar que por se copiar as ideias, se vai conseguir o mesmo modelo, quer quantitativamente, quer qualitativamente, não pode passar de um triste equívoco.
Qual é o modelo ideal?
Para esta pergunta não há, obviamente, uma resposta objectiva. Há, isso sim, uma série de variáveis que devem ser respeitadas, pensadas e trabalhadas para que se possa chegar ao utópico objectivo do “modelo ideal”. O objectivo último é ganhar e, por isso, o melhor modelo será sempre aquele que conduzirá a uma maior probabilidade de vencer. Depois, há que ter em conta factores intrínsecos, como as características dos jogadores e a forma como elas interagem, mas também extrínsecos como as características da generalidade dos adversários, como o tipo de condições em que se vai jogar ou ainda a cultura futebolística do clube ou do país onde se está. Tudo isto em teoria, porque a componente prática, o sentir de quem trabalha no campo é depois essencial para que se chegue à melhor forma de jogar. Querer jogar alto, baixo, em apoio ou directo só porque se viu na televisão e se gostou não deverá, com a maior das probabilidades, conduzir a nada de bom.
Barcelona depois da Espanha
Se recuarmos um pouco no tempo, cerca de 10 meses, encontramos os rescaldos de um campeonato da Europa onde a Espanha encantou. O discurso final foi o mesmo. Ou seja, que afinal era possível vencer usando a bola como arma prioritária. Sem medo de a perder, sem estar tanto tempo preocupado em fechar espaços e tapar os caminhos ao adversário. Os casos não são obviamente dissociáveis. As características dos jogadores são muito semelhantes e ambas as equipas têm em Xavi e Iniesta o seu “pulmão”. Claro que o Barcelona de Guardiola é uma equipa muito mais perfeita do que a Espanha de Aragonês, mas ambas foram fieis, na sua ideologia de jogo, à génese de quem o interpretava. Por isso, os jogadores se mostraram tão confortáveis com a ideia de jogo e, por isso também, a ideia de jogo pareceu tão boa.
O paradigma da formação
Posso discordar desta ideia de “copiar” modelos, mas não deixo de achar que este Barcelona merece, de facto, servir de exemplo. Hoje, a posse de Xavi e Iniesta parece imune ao pressing de qualquer equipa mundial. A verdade, no entanto, é que estes não são jogadores com características muito vistas no futebol de top e, por isso também, será tão difícil alguma equipa ser tão forte em posse como o Barça onde ambos jogam. Talvez o sucesso deste Barcelona e deste modelo seja um exemplo, sim, mas para a formação. Se em vez dos aspectos físicos se valorizar mais a técnica e inteligência, seja ela em que posição for, talvez surjam mais Xavi e Iniesta por esse mundo fora e, aí sim, talvez mais equipas possam ter como modelo ideal algo parecido com aquilo que o Barcelona apresentou em Roma.
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