29.5.09

Barcelona: Não tentem fazer isto em casa!

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Mais do que a qualidade, e porque esta não é necessariamente confundível com a estética do jogo, o Barcelona trouxe ao futebol de clubes uma abordagem notoriamente diferente das equipas que vêm discutindo o título europeu nos últimos anos. Em vez de blocos baixos e uma aversão ao risco, assistimos a uma pressão sempre alta e a uma prioridade total à saída em apoio. Esta é, sem dúvida, uma lufada de ar fresco no tipo de jogos que vínhamos assistindo, ainda que não seja em absoluto uma novidade porque o Barça, mesmo com Rijkaard, sempre respeitou estes princípios. A diferença está, por isso, muito mais na qualidade e resultados que esta equipa conseguiu com Guardiola, precipitando uma chuva de lições, provenientes dos mais variados remetentes, aconselhando a generalidade dos treinadores do mundo a colocar os olhos no modelo de jogo deste Barça e indo mesmo ao extremo de utilizar o verbo “copiar” neste, supostamente sábios, conselhos. Devo dizer que para mim esta ideia de “copiar”, “imitar” ou “reproduzir” modelos de jogo, assim, como uma fórmula de sucesso instantâneo choca em absoluto com a forma como vejo o futebol.

O modelo é único
O primeiro ponto que quero sublinhar é que não há modelos de jogo iguais. Um modelo é único e resulta da forma como treinadores e jogadores interagem no trabalho diário. Pode haver uma ideia igual, mas os jogadores, esses, têm sempre reacções únicas e interacções inigualáveis. Pensar que por se copiar as ideias, se vai conseguir o mesmo modelo, quer quantitativamente, quer qualitativamente, não pode passar de um triste equívoco.


Qual é o modelo ideal?
Para esta pergunta não há, obviamente, uma resposta objectiva. Há, isso sim, uma série de variáveis que devem ser respeitadas, pensadas e trabalhadas para que se possa chegar ao utópico objectivo do “modelo ideal”. O objectivo último é ganhar e, por isso, o melhor modelo será sempre aquele que conduzirá a uma maior probabilidade de vencer. Depois, há que ter em conta factores intrínsecos, como as características dos jogadores e a forma como elas interagem, mas também extrínsecos como as características da generalidade dos adversários, como o tipo de condições em que se vai jogar ou ainda a cultura futebolística do clube ou do país onde se está. Tudo isto em teoria, porque a componente prática, o sentir de quem trabalha no campo é depois essencial para que se chegue à melhor forma de jogar. Querer jogar alto, baixo, em apoio ou directo só porque se viu na televisão e se gostou não deverá, com a maior das probabilidades, conduzir a nada de bom.

Barcelona depois da Espanha
Se recuarmos um pouco no tempo, cerca de 10 meses, encontramos os rescaldos de um campeonato da Europa onde a Espanha encantou. O discurso final foi o mesmo. Ou seja, que afinal era possível vencer usando a bola como arma prioritária. Sem medo de a perder, sem estar tanto tempo preocupado em fechar espaços e tapar os caminhos ao adversário. Os casos não são obviamente dissociáveis. As características dos jogadores são muito semelhantes e ambas as equipas têm em Xavi e Iniesta o seu “pulmão”. Claro que o Barcelona de Guardiola é uma equipa muito mais perfeita do que a Espanha de Aragonês, mas ambas foram fieis, na sua ideologia de jogo, à génese de quem o interpretava. Por isso, os jogadores se mostraram tão confortáveis com a ideia de jogo e, por isso também, a ideia de jogo pareceu tão boa.

O paradigma da formação
Posso discordar desta ideia de “copiar” modelos, mas não deixo de achar que este Barcelona merece, de facto, servir de exemplo. Hoje, a posse de Xavi e Iniesta parece imune ao pressing de qualquer equipa mundial. A verdade, no entanto, é que estes não são jogadores com características muito vistas no futebol de top e, por isso também, será tão difícil alguma equipa ser tão forte em posse como o Barça onde ambos jogam. Talvez o sucesso deste Barcelona e deste modelo seja um exemplo, sim, mas para a formação. Se em vez dos aspectos físicos se valorizar mais a técnica e inteligência, seja ela em que posição for, talvez surjam mais Xavi e Iniesta por esse mundo fora e, aí sim, talvez mais equipas possam ter como modelo ideal algo parecido com aquilo que o Barcelona apresentou em Roma.



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